segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

 

Problemas de Identidade Pessoal



Como se isso lhe dissesse respeito, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma coisa chamada «nota pastoral» que contesta o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Segundo o «Público», ao mesmo tempo que rejeitam «todas as formas de discriminação ou marginalização das pessoas homossexuais», os bispos portugueses afirmam que «o prolongamento da homossexualidade pela idade jovem e adulta denota a existência de problemas de identidade pessoal».

Não é fácil de comentar a imbecilidade de responsáveis hierárquicos de uma organização eclesiástica que são capazes de afirmar que rejeitam todas as formas de discriminação entre os seres humanos, enquanto ao mesmo tempo defendem a sua discriminação no acesso a bens jurídicos de natureza exclusivamente civil.

Para já, isto revela bem que os próprios bispos portugueses são capazes de insultar a inteligência das ovelhas que estão encarregues de apascentar.

Mas o que isto demonstra principalmente é a mais completa insanidade e a mais confrangedora idiotia de um grupo de velhos tristes e bacocos vestidos de saias e de paramentos ridículos e que desde logo se caracterizam pela sua opção pelo celibato e pela renúncia à sua própria vida sexual – que é de onde lhes vem aquele olhar alucinado – mas também pelo fanatismo com que comandam as suas vidas à volta de moralismos primitivos estabelecidos na Idade do Bronze e de rituais sobre mulheres virgens que dão à luz ou de paus que se transformam em cobras.
Mas que, ainda assim, têm a autêntica lata de imputar «problemas de identidade pessoal» a determinados cidadãos que se distinguem dos demais pelas suas peculiaridades biológicas, pela sua orientação sexual e, enfim, pela sua identidade.

Mas os senhores bispos não se ficam por aqui:
Afirmam ainda que «a vida humana assenta na complementaridade do homem e da mulher», consideração que é óbvio que eles próprios não seguem, pois pelos vistos reúnem-se regularmente em conferências episcopais para se complementarem uns aos outros…

Sobre a adopção de crianças por homossexuais os senhores bispos acham que são contra. E veja-se só a forma tão bonita como o dizem:
«Tal constituiria uma alteração grave das bases antropológicas da família e com ela de toda a sociedade, colocando em causa o seu equilíbrio».

Vê-se mesmo que é uma típica formulação que saiu da cabeça de um bispo: é uma frase que tem pompa e circunstância, mas que bem vistas as coisas não significa rigorosamente nada.

Se os senhores bispos saíssem das sacristias, onde andam a gastar os joelhos das calças a rezar a entidades imaginárias e a complementarem-se uns aos outros e olhassem para a sociedade que têm à sua volta, saberiam perfeitamente que em Portugal já há muito que há adopção por homossexuais, nem que seja a coberto da adopção monoparental.

Mas é sobre o problema da adopção que se revela a mais abstrusa homofobia, desta vez pretensamente justificada pelo «interesse da criança».

Pois é verdade:
Há de facto pessoas que acham que «o interesse da criança» reside na Casa Pia.

E pura e simplesmente recusam conceber sequer a possibilidade de uma criança que foi abandonada numa instituição qualquer, vir a ser adoptada por uma família homossexual.
Tudo isto, claro está, por causa do «interesse da criança».

Pois bem:
Se assim é, se é pelo «interesse da criança» que são contra a sua adopção por famílias homossexuais, era bom então que os senhores bispos e os fiéis que os seguem acriticamente tivessem ao menos a coragem e a mais básica honestidade intelectual de vir a público defender que as crianças nascidas de um relacionamento heterossexual anterior, por exemplo, mas que vivem actualmente com progenitores homossexuais, devem ser imediatamente retiradas aos seus pais pelo Estado para serem internadas em instituições de acolhimento públicas.

Pois se o impedimento da adopção por homossexuais tem em vista o «interesse da criança» e não resulta de meros preconceitos homofóbicos, então qual é a diferença entre os dois casos?

Do exclusivo ponto de vista do seu «interesse», qual é a diferença entre uma criança ser filha adoptiva de um homossexual ou sua filha biológica?

A explicação é simples:
E, como é óbvio, nem sequer passa pelo «interesse da criança».
É que pura e simplesmente a discriminação, a homofobia e o preconceito são conaturais à ausência de ética e de coerência lógica, e até à mais abjecta falta de honestidade e de coragem intelectual.




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