segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

 

Como se endromina um católico



Nem sempre acontece, mas desta vez a ideia do Daniel de Oliveira foi inquestionavelmente notável e é absolutamente irresistível não a relatar aqui.

Apesar de previsível, pois nada há de mais fácil do que endrominar um católico nos terrenos da sua própria irracionalidade, o resultado não deixa de ser ao mesmo tempo de uma tristeza confrangedora, e era bom que muito boa gente reflectisse sobre ele.

Foi como tirar o doce a uma criança:

Começou o Daniel de Oliveira por noticiar o seguinte:

«Ao que parece, os muçulmanos de uma cidade inglesa conseguiram bloquear a Campanha do Autocarro Ateísta, pressionando a empresa de autocarros para não a aceitar.
«E esta, lamentavelmente, cedeu».

A caixa de comentários do «Arrastão» até parecia o santuário de Fátima num 13 de Maio. O próprio Daniel de Oliveira nos dá uma ideia das reacções que se seguiram a tão chocante notícia:

«Pois, esta gente tem muito que pedalar para chegar ao século XXI, como dizia um amigo meu, ainda não sairam da idade média, ainda não entendi o que o Ysuf Islam (Cat Stevans) viu no islão».
«Veja o que aí vem, com o beneplácito da esquerdalha».
«Afinal o Cardeal Patriarca tinha alguma razão no que disse no casino».
«Todos têm o direito de expressão seja de que forma for e qualquer tentativa de sabotagem deve ser reprimida por quem de direito. (…) Hoje é assim no Reino Unido, amanhã temos a sharia a reger. O situacionismo com o seu complexo (incutido) do homem branco está a destruir séculos de evolução, para o qual está-se a marimbar pois a cretinice tem visão curta com palas nos olhos».
«É mais um exemplo entre tantos, das cedências que todos os dias por essa Europa fora se vai fazendo ao fanatismo religioso islâmico».
«Esta inércia faz rir os opressores pois estes sabem que estão protegidos, não usam os mesmos métodos e nem têm condicionantes do ponto de vista moral. Têm uma agenda definida e tem conseguido marcar posição até ao dia que eventualmente ganharão e volta-se à idade média».
«E se fosse outra religião, nomeadamente a católica, a empresa teria cedido?».
«É esta sociedade laica que tão valentemente massacra todas as posições da Igreja, que se deixa submeter aos islamistas, até mesmo no campo judicial».


Pois é!
Acontece que a notícia estava voluntariamente distorcida pelo Daniel de Oliveira.
A notícia verdadeira deveria ser assim:

«Os católicos da cidade italiana de Génova conseguiram bloquear a Campanha do Autocarro Ateísta, pressionando a empresa de autocarros para não a aceitar. E esta, lamentavelmente, cedeu».

A armadilha estava feita e o resultado, como disse, era absolutamente previsível e não poderia ser outro.

O pior é que é igualmente previsível que talvez não haja um único crente – qualquer que seja a sua religião – que se disponha a reflectir racional e conscientemente sobre ele.
O que é de facto lamentável.

Como diz Daniel de Oliveira:
«O mesmo acto cometido por muçulmanos e católicos tem uma leitura completamente diferente por parte de muita gente.
«Se a pressão vier de muçulmanos, passa a ser, não um problema de defesa da laicidade do Estado ou da liberdade expressão, mas uma grave questão cultural e civilizacional.
«Na verdade, a laicidade é aqui meramente instrumental. Ela só pode ser evocada perante os perigos “externos” das religiões minoritárias».

É frequente ouvirmos apodar alguém como «pessoa de muita fé» como se de um elogio se tratasse.
Como se um elevado grau de irracionalidade fosse de repente sinónimo de bom senso e razoabilidade.

Quando, pelos vistos, é precisamente o contrário!




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