quarta-feira, 30 de abril de 2008

 

A Palavra de Deus



- Quando é um padre que diz que afinal a Bíblia não é a palavra de Deus;
- Quando é um padre que diz que Deus nunca falou com ninguém, nem sequer com Abraão ou com Moisés, e que, pelos vistos, aquilo dos 10 Mandamentos afinal é tudo uma grande treta;
- Quando é um padre que diz que não é verdade que na Bíblia esteja escrito que Deus mandou Abraão matar o filho;
- Quando é um padre que diz que a Bíblia tem coisas horrorosas;
- E quando esse padre se chama Carreira das Neves, que é até professor de teologia numa Universidade Católica…

…Então, não há dúvida que não só os católicos mas todo o catolicismo vão mesmo no bom caminho…






Genesis 22:

1 - E aconteceu depois destas coisas, que provou Deus a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me aqui.
2 - E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.
3 - Então se levantou Abraão pela manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isac seu filho;......
6 - E tomou Abraão a lenha do holocausto, e pô-la sobre Isaque seu filho; e ele tomou o fogo e o cutelo na sua mão, e foram ambos juntos.
7 - Então falou Isac a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?
8 - E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos.
9 - E chegaram ao lugar que Deus lhe dissera, e edificou Abraão ali um altar e pôs em ordem a lenha, e amarrou a Isac seu filho, e deitou-o sobre o altar em cima da lenha.
10 - E estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho...
...

De facto é verdade: com padres como este Carreira das Neves e com referências morais como estas, deve ser muito giro ser católico, não deve?...


terça-feira, 29 de abril de 2008

 

Associação Ateísta Portuguesa



Na sequência dos Encontros Nacionais de Ateus já realizados e de acordo com as deliberações tomadas e os estatutos que foram entretanto aprovados, está já neste momento em fase final de constituição a «Associação Ateísta Portuguesa».

A escritura de constituição terá lugar previsivelmente já no próximo dia 30 de Maio de 2008 e será outorgada por todos os ateus que nela pretendam intervir e, assim, associar-se a este acto.

Os interessados poderão seguir a evolução desta notícia aqui no «Random Precision» ou no «Diário Ateísta».

Todos os que pretenderem intervir na escritura de constituição deverão enviar os seus elementos de identificação (nome completo, estado civil, número de bilhete de identidade, data e local de emissão, número de contribuinte e morada) para um dos seguintes endereços electrónicos:
- r_precision@hotmail.com
ou
- aesperancaenator@gmail.com

Do acto da escritura de constituição sairão os primeiros corpos sociais que conduzirão os destinos da Associação e exercerão as suas funções até à primeira Assembleia Geral, a realizar no prazo de 6 meses a 1 ano.

Segundo o disposto no artigo 4º dos seus Estatutos (que podem ser encontrados AQUI), a «Associação Ateísta Portuguesa» tem como objectivos:

1. Fazer conhecer o ateísmo como mundividência ética, filosófica e socialmente válida;
2. A representação dos legítimos interesses dos ateus, agnósticos e outras pessoas sem religião no exercício da cidadania democrática;
3. A promoção e a defesa da laicidade do Estado e da igualdade de todos os cidadãos independentemente da sua crença ou ausência de crença no sobrenatural;
4. A despreconceitualização do ateísmo na legislação e nos órgãos de comunicação social;
5. Responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista.


segunda-feira, 28 de abril de 2008

 

Trust the People! Trust the People!



Há pessoas assim: uma reputação de competência, às vezes mesmo uma aura de excelência, precede-os para todo o lado onde vão.

Depois vai-se a ver o que disseram ou fizeram para merecer essa fama, e é então que tudo se desmorona e se desfaz em cacos.
A coisa é de tal ordem que ainda há pessoas que apoiam Pedro Santana Lopes e o consideram a personalidade ideal para levar o PSD às eleições, e o melhor Primeiro-ministro que Portugal pode almejar.
Bem sei que uma dessas pessoas é o Alberto João Jardim. Mas ouvi dizer que há mais pessoas dessas que «andam por aí».

Há, de facto, pessoas assim: e para além de Santana Lopes, ainda temos por exemplo Miguel Cadilhe, Manuela Ferreira Leite e, claro está, o João Carlos Espada.

Mas será que o «Expresso» paga mesmo ao João Carlos Espada para escrever aquelas barbaridades semanais, ou aquilo é espaço publicitário comprado?

Esta semana, entre as duas costumeiras citações que tira do Reader’s Digest, o Espada dedica-se a analisar o fenómeno da religião nesta época de eleições primárias nos Estados Unidos, e a comentar a frase que Barack Obama deixou recentemente escapar: «que a perda de empregos gera amargura e leva os trabalhadores a virarem-se para a religião».

E isto, na verdade, é uma gaffe tremenda naquelas paragens, muito mais quando os votos para a nomeação Democrata se contam um a um.

Como não podia deixar de ser, o Espada exulta com a reacção de Hillary Clinton que logo veio a correr capitalizar essa autêntica frase do Demo, e de mão no peito e ar compungido veio explicar que para ela «a fé é tudo o que dá sentido à vida».

Mas o melhor estava para vir: é que Obama, que sabe em que país vive, viu que tinha metido a pata na poça, e lá veio emendar a mão e «explicar melhor» que também para ele «a religião é um baluarte» e que «os democratas têm de ligar a fé ao trabalho».

Não fora ser pecado, que até a própria palavra é capaz de lhe fazer doer, teria tudo isto sido um autêntico orgasmo para o João Carlos Espada.
Vai daí, desata o Espada a comparar a sábia premonição de frases semelhantes há muito proferidas por alguns daqueles que mais admira e, pelos vistos, filosoficamente idolatra, como o pai George Bush, o proto-fascista Pat Buchanan e até Dan Quayle, que na sua época era o Santana Lopes lá do sítio, e que já então «apelavam aos valores culturais, à presença da religião na praça pública, à defesa da família e ao recuo da intervenção governamental».

Pois é, afia o Espada: tanta coisa na altura, tanto que «os analistas» e «a esquerda» não se cansaram de criticar palavras afinal tão sábias, e princípios pelos vistos tão belos – que agora até vemos a Hillary e até o próprio Obama a rastejarem perante as evidências que o tempo veio revelar estarem afinal absolutamente correctas.

E eis então chegada a hora de nos regozijarmos com as sábias palavras de João Carlos Espada, que tira uma brilhante conclusão de tudo isto:
- A esquerda devia ouvir era «os americanos», em vez de dar atenção ao Michael Moore;
- A direita devia confiar menos em reaccionários antidemocratas como Platão e devia ouvir mais Burke ou Churchill: «Trust the people; Trust the people!»

Pois é!
E é aqui que eu não entendo a reputação que precede o Espada, ao ponto de lhe pagarem para escrever estas pérolas.

Repare-se que a conclusão que João Carlos Espada retira de toda esta história não é nada que se relacione com a miserável subserviência dos americanos – até mesmo a de Hillary e a de Obama, obviamente – à irracionalidade dessa coisa asinina chamada «fé», ou à autêntica imbecilidade que é considerar «a presença da religião na praça pública», quando essa «praça pública» não é mais do que a Presidência dos Estados Unidos e quando essa «religião» provém de evangelistas alucinados.

Não fala o Espada dos resultados que tal política de sacristia fanática já deu ao mundo pelas mãos de George W. Bush.
Não se refere à nefanda hipocrisia dos dois candidatos democratas, que a troco de um punhado de votos se ajoelham perante os americanos mais lorpas, e não se importam de à vista de todo o planeta lamber as botas aos “red-necks” mais burgessos que habitam a maior super-potência do planeta.

Não!
João Carlos Espada prefere antes concluir que, pela mão desta mesquinhez e deste cinismo eleitoralista dos democratas Hillary e Obama, a História acabou por nos demonstrar que pessoas como Pat Buchanan e o «povo» afinal têm sempre razão.
Mesmo que, estejamos perante o «povo» mais irracional e mais imbecil.
Mas desde que seja um «povo» que a gente sabe quem é e onde está, porque é precisamente quem reclama, pois claro, a tal «presença da religião na praça pública».

E, sendo assim, temos de «confiar no “povo”».
- Trust the People! Trust the People! – Grita o Espada!!!

É então que não resisto em deixar esta pequena foto aqui à direita:

Mostra-nos uma daquelas célebres manifestações gigantescas organizadas pelo génio demoníaco de Goebbels em Nuremberga, em que centenas de milhar de pessoas, não mais do que mais uma forma de «presença da religião na praça pública», apoiavam cega e acriticamente Adolf Hitler, que aliás foi nomeado chanceler porque ganhou as eleições por larga maioria dos votos... do «povo».

Estou certo, pois, que quando olhar para esta foto o João Carlos Espada vai outra vez exultar, vai-se lembrar da tal «presença da religião na praça pública» que tanto admira e que o «povo» quer, e vai gritar a plenos pulmões:

- Trust the People! Trust the People!


quinta-feira, 24 de abril de 2008

 

Os Candidatos a Primeiro-ministro



«Um general só deve ir à batalha quando tem tropas. Não tenho tropas no Continente, nem ninguém me pediu sequer para avançar», foram as palavras de Alberto João Jardim quando começaram a falar no seu nome para suceder a Luís Filipe Menezes na liderança do PSD.

Mal disse isto, as estruturas das distritais do PSD de Lisboa e do Porto, as duas maiores do país, disponibilizaram-se de imediato para fornecer ao presidente do Governo Regional da Madeira as tais «tropas» de que precisa.

Mas não só: perante tal vaga de apoio, logo outras importantes distritais, como as de Faro, Viana do Castelo e Vila Real, se preparam para manifestar o seu entusiástico apoio a Alberto João Jardim a líder do PSD, e são até já conhecidas manifestações de grande regozijo de “históricos” daquele partido a esta boa notícia.

E é assim que, de repente, do meio dos seus pares, como Manuela Ferreira Leite, Passos Coelho, Patinha Antão e Neto da Silva surge inesperadamente Alberto João Jardim a protagonizar uma candidatura rodeada de significativos apoios partidários e de um suporte que a torna agora uma das mais favoritas à vitória nas eleições directas marcadas para o próximo mês de Maio.

Mas quando tudo parecia bem encaminhado, eis que Alberto João Jardim, na sua tradicional modéstia, ainda continua renitente a aceitar as responsabilidades de tão importante desafio, dizendo que prefere antes apoiar a candidatura de Pedro Santana Lopes, um apoio que, só por si e pelos incondicionais seguidores de Jardim que certamente arrasta, a torna numa candidatura inquestionavelmente ganhadora, tanto mais que Jardim, sem papas na língua, já qualificou as restantes candidaturas como «exóticas».

Assim, neste momento é grande o suspense: quem será o próximo presidente do PSD?
Será Alberto João Jardim?
Será Pedro Santana Lopes?

É que a pergunta não é despicienda já que se o PSD é o maior partido da oposição, não está nem de perto nem de longe afastada a hipótese de um deles vir ainda a ser o próximo Primeiro-ministro de Portugal.

Uma coisa é certa: um despique entre personalidades tão ilustres, e que até só por si bem demonstra uma inigualável vivacidade e militância partidárias, só pode encher de orgulho todos os militantes e simpatizantes do Partido Social Democrata!


terça-feira, 22 de abril de 2008

 

Christopher Hitchens no «Morning Joe»



No filme abaixo pode ver-se uma entrevista de Christopher Hitchens ao programa televisivo «Morning Joe» da NBC a propósito do lançamento do seu livro «The Portable Atheist», uma colectânea de textos escritos por cientistas e filósofos «que não acreditam que Deus intervenha nos assuntos humanos».

Vale a pena ver o filme principalmente para observar como um jornalista aparentemente tão simpático e educado não hesita em dizer, e até por duas vezes, que «este é um livro que vai manter afastado dos seus filhos».

É, de facto, uma atitude perfeitamente típica de uma pessoa que determina a sua vida por critérios de irracionalidade e por uma persistência imbecil em conformar-se com a moralidade e a ética inventadas por uma tribo de pastores da Idade do Bronze. E que alguém lhe encasquetou na cabeça desde a sua mais tenra infância e que, pelos vistos, não se importa de continuar a seguir cega e acriticamente.

E que, agora, pensa que chegou a sua vez de impingir aos seus próprios filhos, nem que seja impondo-lhes um «index» de livros que estão proibidos de ler.

É a isto que este tipo de pessoas chama... «fé».



segunda-feira, 21 de abril de 2008

 

Uma Banana na Madeira



Diz assim o artigo 120º da Constituição da República Portuguesa:
«O Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas…»

Esta semana Cavaco Silva, o Presidente da República, visitou a região autónoma da Madeira.

Poderia fazer-se um Blog só com os dislates, as inanidades, as loucuras e as palhaçadas do Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim.

Poderia fazer-se outro Blog só com a descrição da «obra feita» por Alberto João Jardim na Madeira. Isso é um facto.

Mas o que é curioso é o que seria possível fazer-se com a explicação de quem pagou a conta de tudo isso, mas muito principalmente com a descrição - não «do que foi feito» - mas do que «poderia ter sido feito», se alguém decidisse verificar com rigor as contas da Região Autónoma e os enriquecimentos súbitos dos nababos que vivem à sombra do orçamento regional.

Mas esta semana a conversa é outra. Porque foi esta semana que o Presidente da República, visitou a região autónoma da Madeira.

E porque foi também esta semana que Alberto João Jardim somou à colecção das imbecilidades que bolsa regularmente a decisão de que não haveria qualquer sessão solene de recepção ao Presidente da República na Assembleia Legislativa Regional, como se alguma confirmação fosse necessária de que é o Presidente do Governo Regional quem manda e comanda os deputados regionais do seu partido...

Depois resolveu apodar os deputados regionais dos partidos da oposição, ou seja os deputados que não fazem do grupo de títeres que o bajulam e que lhe obedecem cegamente e sem qualquer ponta de dignidade ou critérios de ética, como «um bando de loucos».

Perante isto, que fez o Presidente Cavaco Silva?
Pois fez exactamente aquilo que dele já se esperava: rigorosamente nada!

Cavaco Silva rendeu-se vergonhosamente e, impávido e sereno, resignou-se ao autêntico insulto institucional - e também pessoal - que constituiu o facto de não ter sido recebido em sessão solene na Assembleia Legislativa Regional (cuja dissolução cabe dentro das suas atribuições constitucionais), e nem uma palavra disse sobre o ápode de «bando de loucos» que o insano Jardim resolveu atribuir aos deputados da oposição.

Pelo contrário, e para não afrontar João Jardim, Cavaco Silva decidiu receber os deputados da oposição numa sessão separada, quase clandestina, e destituída de qualquer dignidade, do significado oficial e do respeito que lhe deveriam ter merecido os representantes de um órgão de soberania regional.

Ou seja, para o Presidente Cavaco Silva tudo isto – e todas as demais insanidades que Jardim resolve debitar regularmente – se encaixam na sua interpretação daquilo que é «o regular funcionamento das instituições democráticas».

Talvez Alberto João Jardim tenha dito aqui há meia dúzia de anos, e por uma vez na sua vida, alguma coisa acertada:

- Talvez Aníbal Cavaco Silva que já na campanha eleitoral da sua eleição persistia firmemente em não dizer a ninguém aquilo que pensava sobre o que quer que fosse, tenha finalmente mostrado quem é, qual a sua «fibra» e qual a «massa» de que é feito, e quais são os grandes e os pequenos feitos que, como Presidente da República, estão afinal ao seu alcance.
E, no final, qual a marca que deixará na História do nosso país.

Talvez Cavaco Silva afinal não esteja talhado para ser verdadeiramente «um Presidente da República» e não passe, no fim de contas, tão somente... do Senhor Silva…


sábado, 19 de abril de 2008

 

O Papa Bento XVI e o «ministério sacerdotal» dos pedófilos



O Papa Bento XVI está de visita aos Estados Unidos.

Se alguma coisa este Papa tinha como certa, era que mal pusesse os seus sapatinhos vermelhos em solo americano não haveria alma penada que não lhe atirasse à cara os sucessivos escândalos de pedofilia praticada pelo clero católico naquele país.

Mas o gajo é esperto: vai daí, para esvaziar as críticas de sentido, começou logo ele próprio a falar no assunto.
E mesmo antes de chegar aos Estados Unidos já toda a gente sabia que iria pedir desculpa às crianças vítimas dos padres tarados sexuais (passe a redundância) que os seminários católicos são peritos em amestrar, e que isso seria, de facto, a única forma "desactualizar" os ataques que aí vinham.

E assim foi: ainda ia a bordo do avião que o levaria a Washington, já Ratzinger grasnava que «a Igreja Católica “tem muita vergonha” pelos escândalos dos padres pedófilos nos Estados Unidos».

Deixando certamente atazanados os fiéis católicos que durante anos bramiam que era tudo mentira e que tudo não passava de uma grande cabala inventada pelos ferozes ateus que não gostam de canto gregoriano, o Rottweiller de Deus fez aquela carinha de santo inocente que usa quando quer fazer parecer às pessoas que está a falar muito a sério, e não hesitou em pedir desculpa às vítimas dos alucinados sexuais a quem a Igreja comete as funções de rezar missa e guiar os católicos no seu auto-amesquinhamento semanal às diversas entidades imaginárias que constituem a mitologia católica.

Talvez o único católico deste mundo que não deve ter insónias (para além dos padres pedófilos, claro está) seja mesmo o João César das Neves que tem uma fé tão grande, tão grande, que é capaz de acreditar nas duas coisas ao mesmo tempo: que é de facto tudo mentira e que não há nenhuma pedofilia na Igreja, e também que o Papa é uma personalidade tão santa e gigantesca que fez muito bem em pedir desculpa às vítimas dos pedófilos.

Foi de facto eloquente o Papa Bento XVI.
Por isso, não hesito em aqui colocar duas fotos alusivas a esta brilhante e prosélita viagem às terras de George W. Bush, uma alma gémea com quem decerto se vai entender muito bem.

Já aqui abaixo, a foto do lado esquerdo retrata o Papa a proferir estas sábias, sinceras e honestas palavras de homem de Deus:
«A Igreja fará todo o possível para curar as feridas causadas pelos padres pedófilos e garantir que tais comportamentos não se repetirão» e ainda que «a Igreja devia absolutamente excluir os pedófilos do ministério sacerdotal, porque eles não podem ser padres».

Que bonito, não é?



Pois bem: ao lado do Papa, podemos ver na foto do lado direito o Cardeal Bernard Law que durante 18 anos foi arcebispo de Boston.
Durante todo esse tempo Bernard Law ocultou e protegeu uma boa dúzia de padres pedófilos que ia transferindo sucessivamente de paróquia, somente para que começassem as suas tenebrosas violações noutro local, e para começar tudo de novo mal lhe soava que estava para rebentar mais um escândalo.

Graças à conivência e à criminosa cumplicidade do Cardeal Bernard Law para com os tarados sexuais que tinha como clero, dezenas e dezenas de crianças foram abusadas e viram as suas vidas indelevelmente marcadas e certamente destroçadas para todo o sempre.

E a foto do Cardeal Bernard Law fica muito bem ao lado da foto do Papa Bento XVI.
Principalmente esta foto aqui ao lado em que estão assim muito queridos os dois aos beijinhos!

Porque enquanto o Papa rosna despudoradamente que «a Igreja devia absolutamente excluir os pedófilos do ministério sacerdotal», o Cardeal Bernard Law vive tranquilamente refugiado no Vaticano, bem quentinho e a coberto dos mandatos de captura das autoridades judiciais americanas, enquanto desempenha cargos tradicionalmente tidos como honoríficos e só entregues a quem merece do Papa reconhecimento e admiração.
Como sejam, por exemplo, arcipreste da Basílica de Santa Maria Maggiore, para além de ser membro de cinco congregações, presidente de três Institutos e finalmente, e como se ainda não bastasse, tem ainda uma ocupação que lhe assenta como um preservativo: é Presidente do... Conselho Pontifical para a Família.

É tão giro ser católico, não é?...


quinta-feira, 17 de abril de 2008

 

A Guerra Civil



Morrem mais de 3.000 pessoas por ano nas estradas portuguesas.
Quase 9 pessoas por dia!

Sucedem-se as campanhas de prevenção rodoviária: anúncios nas televisões, nos jornais, em outdoors. Vemos imagens de automóveis completamente desfeitos e depoimentos comoventes de pessoas marcadas para o resto da vida.
Mas tudo parece inútil. Nada resulta.É, de facto, uma autêntica GUERRA CIVIL!

Qual a causa deste autêntico morticínio?
Depois de viverem durante metade do século XX sob uma ditadura absolutamente imbecil onde era proibido falar, instalar uma fábrica, ou usar um isqueiro sem licença, criou-se nos portugueses a convicção de que as leis – todas as leis – são estúpidas e, por isso, só servem precisamente para serem violadas.
Se virmos bem não deixa de ser encarado como “perfeitamente normal” ter “um médico amigo” que nos permite faltar ao emprego e às vezes conseguir uma reforma antecipada, ou que concede um atestado para prorrogação da carta de condução a um velho gagá que anda em contramão nas auto-estradas, ter um dentista que nos “desdobra” os recibos verdes e até elogiamos o herói que consegue ir de Lisboa ao Porto em hora e meia.

É por isso que em Portugal a taxa de acidentes nunca descerá, por muitas campanhas de sensibilização que se façam.

Sejamos realistas: é um facto que, na grande generalidade dos casos, a violação do Código da Estrada não merece qualquer censura social dos nossos concidadãos.
Mas, paradoxalmente, há inúmeros comportamentos que, apesar de não serem legalmente proibidos, os portugueses evitam praticar, precisamente porque temem, não a polícia, mas simplesmente a censura das demais pessoas que os rodeiam.

Se fugimos aos impostos ou se “gamamos” um chocolate, porque será que não passamos à frente da fila do Multibanco?
Somente por um único motivo: porque tememos que as outras pessoas comecem a vociferar um qualquer «ouve lá ó palhaço, vai p’rá bicha!».

Do mesmo modo, a taxa de acidentes rodoviários em Portugal só descerá quando for pelo menos tão censurável ultrapassar numa curva ou conduzir com 1,5 de alcoolemia, como o é passar à frente da bicha do supermercado.
E é isso que as autoridades têm de compreender!

Jamais resultará qualquer campanha que mostre acidentados em cadeiras de rodas.
Já aqui o disse há uns tempos: só terá resultados uma campanha que ensine os portugueses a censurar socialmente os condutores que fazem asneiras à sua frente - de modo a que temam essa censura!

Que lhes ensine um "código", um gesto, uma espécie de “insulto padrão” que seja generalizado, e que os condutores passem a “temer” mais até do que temem a própria Brigada de Trânsito, principalmente se isso puser em questão a sua virilidade.
Isso sim, seria absolutamente intolerável e significaria provavelmente o mesmo que o pior dos insultos. Qualquer coisa como: “vai p’rá bicha ó maricas!».

Foi isso precisamente que pensou o Governo australiano que lançou uma campanha publicitária por todo o país, onde se faz uma clara analogia entre o excesso de velocidade e todas as cavalidades rodoviárias com o tamanho do pénis dos condutores que as praticam.

Como se pode ver no filme abaixo, os anúncios mostram algumas mulheres a dobrar o dedo mindinho à passagem de condutores inconscientes, num gesto que faz uma clara associação e dá a entender que quem na estrada adopta estas atitudes tem na realidade um pénis pequeno.

O que é facto é que, segundo as autoridades australianas o anúncio tem-se revelado de uma eficácia extraordinária.

Porque não se faz entre nós uma campanha semelhante e se continua a gastar milhões em campanhas publicitárias completamente inúteis e sem qualquer resultado?



quarta-feira, 16 de abril de 2008

 

As lágrimas amargas e os sofrimentos lancinantes do Beato das Neves



aqui comentei as críticas feitas ao projecto de lei do Partido Socialista que visa alterar as regras do divórcio litigioso e falei também da asinina posição de uma alimária qualquer da «Conferência Episcopal Portuguesa» que considerou que este projecto de lei «é mais um sinal claro da postura de afrontamento que o actual Governo assumiu relativamente à Igreja Católica» e também que «há forças dentro do Governo que têm uma postura de ataque à Igreja Católica».

Asinina que é, esta posição não podia deixar de ser partilhada pelo Beato César das Neves que no «Diário de Notícias» resolveu debitar estas brilhantes e porcinas pérolas:

- Que os deputados promotores do projecto de lei não querem mais do que promover as uniões de facto, o divórcio e, vejam só, essa coisa horrível e pecaminosa que é a promiscuidade.

- Que «por causa da lei agora revista, haverá lágrimas amargas, sofrimentos lancinantes, que o legislador alegremente ignora».

Decerto espojado de joelhos perante um ícone qualquer a quem entrega a sua dignidade, e já de cilício a morder-lhe furiosamente uma perna, o Beato das Neves ainda nos diz:
«A lei só existe para proteger os fracos. Por isso é que, em geral, quando se dilui uma regulamentação se está a criar oportunidades para os poderosos abusarem. Se o divórcio se torna mais célere e expedito, se o casamento fica mais precário e solúvel, isso vai prejudicar precisamente aqueles que mais sofrem nessa relação, as crianças, os idosos, os cônjuges sem meios, doentes, desempregados, etc.».

E depois a cereja em cima do bolo:
«Quando daqui a uns anos os políticos voltarem a reconhecer o valor da família, é no seio da Igreja que a vão encontrar».

Não vale a pena dar aqui uma lição a esta alma atormentada do ponto de vista do direito e do processo que em concreto se projecta implementar.
O César das Neves é tão católico, tão católico que certamente não ia entender que se trata precisamente do contrário daquilo que ele diz.

Também não vale a pena falar dessa coisa curiosíssima que são os «valores da família» que para os bons católicos devem pelos vistos ser preservados a qualquer preço, mesmo acima de qualquer outro valor como a dignidade da mulher, por exemplo.

Nem sequer da sua afirmação de que se a lei existe para proteger os mais fracos a «diluição da sua regulamentação» só irá causar «lágrimas amargas e sofrimentos lancinantes, que o legislador alegremente ignora».

Pois é: não há melhor do que um bom católico para falar daquilo que não sabe e querer enfiar tudo o que lhe aparece à frente (salvo seja) dentro da porcaria de uma qualquer sacristia malcheirosa.

Repare-se que não estamos a falar do casamento católico.
Não: estamos a falar unicamente do casamento civil.

Mas, apesar disso, parece que a Igreja Católica, a Conferência Episcopal e os Césares das Neves deste país já querem opinar e influenciar do ponto de vista de uma moral importada dos desertos da Idade do Bronze até já os contratos de natureza exclusivamente civil.

E quando assim é, não há ninguém melhor do que um bom católico para transformar em porcaria tudo o que pretende conspurcar com a sua relatividade moral.

Mas uma imagem vale mil palavras.
E para alguém como um católico fanático (passe o pleonasmo) que persiste em considerar a sacralização do casamento, mesmo o casamento civil, e que a todo e qualquer custo se deve evitar a sua dissolução para preservar os tais «valores da família», nada melhor do que contar esta singela história que nos traz o «Yemen Times».

É uma história de um divórcio que a Igreja Católica tanto combate, e da consequente dissolução dos «valores da família» que o Beato César das Neves tanto preserva.

E reza assim a história:

Nojoud Muhammed Nasser apresentou-se a um tribunal do seu Yemen natal para acusar o seu pai de há dois meses a ter obrigado a casar e para pedir o divórcio do seu marido, 22 anos mais velho do que ela.

Não sei que provas concretas havia, pois normalmente estas coisas passam-se dentro das quatro paredes da casa do casal, e por isso é quase sempre impossível obter um reconhecimento judicial de violação culposa dos deveres conjugais, como até agora acontece na lei portuguesa.

Mas ainda assim Nojoud Muhammed Nasser acusou o seu marido no tribunal de violência doméstica, de lhe bater violentamente quando não lhe obedece imediatamente e ainda de a abusar sexualmente, obrigando-a à força a manter relações sexuais, mesmo contra a sua vontade.

Como é óbvio, o marido diz que tudo isto está no seu direito. Pois não é ele o legítimo marido?
Pois é: de facto é o marido legítimo.

E é mesmo em casos como este que o Beato César das Neves defende que se devem preservar os «valores da família» e que se deve dificultar o divórcio, sob pena de estarmos a causar «lágrimas amargas e sofrimentos lancinantes» e a desproteger os mais fracos, os tais a quem precisamente a lei mais devia defender.

É por isso que na cegueira fanática do seu catolicismo o César das Neves decerto continuará contra tudo e contra todos a defender esta imbecilidade de que o divórcio deve ser dificultado e a defender que quaisquer que sejam as circunstâncias, mesmo neste caso, a Nojoud Muhammed Nasser deveria permanecer casada com o seu legítimo marido para assim proteger os «valores da sua família».

Pois é: pelos vistos, em todos e mesmo até neste caso, em que acontece que Nojoud Muhammed Nasser – que está na foto à direita aqui mesmo ao lado - tem… oito anos de idade!…



Será que a imbecilidade é uma condição necessária para se ser um fanático católico, ou isso é só mera coincidência?


segunda-feira, 14 de abril de 2008

 

Religião? Professor! – Parte II – O Catecismo



Confesso que mesmo somente como óbvia provocação que gosto de aqui fazer (o quem nem toda a gente percebe muito bem) eu próprio já começo a estar farto desta coisa das políticas da Educação.

Mas não porque os temas susceptíveis de provocação blogosférica terminaram. Longe disso, se calhar ainda agora começaram. Mas tão somente porque quando uma conversa entra dentro do domínio da irracionalidade começa de facto a perder a piada.
É como discutir evolucionismo com um criacionista: pode-se brincar ou provocar durante um tempo, mas a certa altura perde a graça.

É precisamente este caso da Educação, da ministra e dos professores, que parece ter-se tornado uma espécie de religião. E quando assim é, as conversas sobre o assunto tornam-se a certa altura irracionais. E é então que perdem a piada.

Mas há ainda alguma coisa que precisa de ser dita, precisamente a propósito deste «acordo» entre a ministra da Educação e os sindicatos dos professores, não fosse até alguém pensar que não tinha resposta a dar à caixa de comentários do post anterior.

Pois bem: ainda que corra o risco de continuar a haver uma barreira de uma irracionalidade autenticamente religiosa que continua a toldar a visão de muita gente, ainda assim aqui vai disto:

Em primeiro lugar uma coisa com piada: nos últimos meses a acusação recorrente à ministra da Educação era que não ouvia os professores, que era teimosa e que não cedia nem à lei da bala.
Agora há uma nova acusação à ministra da Educação: é que cedeu!

Depois, pode-se ler nas letras grandes de toda a comunicação social que a ministra cedeu (e que por isso PERDEU, claro está), porque recuou precisamente nos aspectos que se relacionavam com a avaliação dos professores.
E que, por isso, os professores “ganharam”.
Mas afinal isto também tem graça: é que se o que estava em causa era a avaliação e se os professores “ganharam” e a ministra “perdeu” então sempre parece que os professores não eram lá muito a favor da sua avaliação como andavam para aí a alardear…

Mas há mais coisas com graça: basta ler a caixa de comentários do post anterior para ver um ilustre professor da nossa praça lamentar-se e dizer o que vai acontecer depois desta “cedência” da ministra:
Vejam só o que ele diz:
«…lamento, mas que apesar do esforço e empenho e do trabalho conjunto a sua avaliação vai ser da treta…».

Tem graça, não tem? Um professor que foi à manifestação do Marquês de Pombal e tudo, que foi refilar contra a ministra e contra a sua teimosia de não ceder nessa aberração que era a avaliação dos professores, mal a ministra “cede”, vem dizer mal do sistema que agora resulta… da cedência!

E lá vem mais uma crítica: nem sequer vai mandar um tal email a uma colega que é conhecida por faltar persistentemente porque agora, com a cedência da ministra, as suas faltas vão ficar impunes. Mas não é isto que os professores que foram à manifestação do Marquês de Pombal queriam, que a ministra cedesse?...

E no entanto este emérito professor chama a esta cedência da ministra, vejam só, uma «grande palhaçada e incoerência» e até «uma tristeza».
E lamenta-se outra vez: «andei eu e muitos milhares de professores, em reuniões sem fim a preparar os materiais para se realizar uma avaliação o mais justa e correcta possível, para agora esta ser igual ao que era?».

Então que foi este professor fazer à manifestação no Marquês de Pombal? Afinal onde está a «grande palhaçada e incoerência»? Onde está essa tal «tristeza»?

Mas esta história desta vergonhosa «cedência» da ministra da Educação tem coisas muito ainda mais engraçadas: para já é esta recente idiotia que parece estar na moda que é a oposição ao Governo ser feita nas letras grandes dos jornais.
E pelos vistos chega, porque pelos vistos ninguém lê as letras pequenas.
O que é pena, principalmente neste caso dos professores, e muito mais ainda quando são os próprios professores que não sabem aquilo que de facto os rodeia na sua profissão. Claro está isso não os inibe de criticar e acusar de ignorância os humildes comentadores da Blogosfera.
Mas deixemos isso.

Vejamos agora em que consistiu essa tal cedência da ministra. E, claro está, a sua clamorosa derrota face à grandiosa vitória dos professores e dos seus sindicatos.
A mais recorrente acusação é que esta “cedência” tem objectivos eleitoralistas face às eleições que aí vêm. O que é engraçado é que há pessoas que papam isto.
De facto há eleições já em Outubro. Mas em Outubro de 2009, daqui a mais de ano e meio!

Depois, vamos lá então a ver o que os professores e os seus sindicatos ganharam e a ministra perdeu.

Para já, a ministra ganhou e os sindicatos e os professores perderam TODAS as providências cautelares que pretendiam paralisar a concretização das políticas ministeriais.
Depois, a ministra ganhou e os sindicatos e os professores perderam quando o Presidente da República acabou de promulgar a lei de gestão e administração escolar.

Mas a ministra ganhou muito mais: porque o que está em causa não é só a avaliação dos professores ou esta lei acabadinha de promulgar, mas conjunto muito mais vasto de diplomas e de políticas aos quais os papalvos dos professores e dos seus sindicatos nem sequer vêm que acabaram de dar o seu aval e toda a sua concordância à ministra, que os comeu por lorpas nas suas próprias barbas.
E que, assim, vão ser todos levados à prática mesmo depois manifestações gigantescas e ameaças de “outras formas de luta” e tudo.

O que “cedeu” a ministra da Educação? O que “ganharam” os professores e os seus sindicatos?
Alguém se lembra do que eles exigiam?
Todos contentes às voltinhas no Marquês, até exigiam a demissão da ministra e tudo. E sempre foram bem claros: não havia qualquer hipótese de acordo com aquela sinistra indivídua quando estava em causa a dignidade de toda uma classe.

Lá veio o acordo e o que mudou para além de um mero adiamento da aplicação de meia dúzia de itens nos critérios de avaliação?
Rigorosamente nada!

Repare-se nisto:
Basta consultar o site do Ministério da Educação para ver o que afinal efectivamente mudou.
Basta comparar a proposta original do Ministério da Educação – AQUI
Com o «Memorando de Entendimento» que resultou do acordo com os sindicatos – AQUI

Então o que vai ficar para além do adiamento da tal meia dúzia de itens da avaliação?
É simples: tudo o resto!
Desde esse horrível Estatuto da Carreira Docente até ao conjunto de diplomas sobre a gestão das escolas passando até pelo sistema da Educação Especial.
E pronto: para o ano vem o resto que ainda falta!

Derrota da ministra?
A ministra desistiu?
Vitória dos professores e dos sindicatos?
Deixem-me rir!!!

E como foi fácil à ministra fazê-los engolir isto com anzol, chumbada e tudo: bastou-lhe fazer alguns adiamentos e, vejam só, uma promessa de um novo escalão remuneratório.
Como é fácil dar a volta aos professores.
Melhor: como afinal é fácil… comprá-los!


Senhora ministra: por favor, não desista!


sexta-feira, 11 de abril de 2008

 

Religião? Professor!



Uma coisa é sabida: existe uma determinada política de Educação que o ministério de Maria de Lurdes Rodrigues pretende implementar e com a qual, em maior ou menor grau, a inequívoca maioria dos professores discorda.
Mas deixemos agora em paz a ministra (só por momentos, claro está) e também as medidas que o seu ministério pretende levar a cabo.

Mas acontece que de repente, pelos vistos parece que foi decretado que deixou de ser politicamente correcto discordar dos professores.
Mais do que isso, passou a ser "um crime horrível" concordar com a ministra, nem que seja só um bocadinho.

Como se, de repente, ser professor tivesse deixado de ser uma profissão e se tivesse transformado numa espécie de «religião».
Mas uma religião à qual têm acesso somente um pequeno escol de eleitos, um grupo de sacerdotes dotados de uma "graça" ou um "dom" que lhes foi especialmente concedido pela mãe-natureza (ou por Deus, quem sabe?) e que em nome da sociedade desempenham benemeritamente uma missão de alto sacrifício, rodeados de horríveis e criminosos facínoras que transportam consigo punhais, pistolas e até telemóveis, e que em cada uma das 15 horas de aulas que dão por semana, mais uma como director de um departamento vazio, outra em inúteis e monótonas “reuniões” mensais e outra ainda como director de turma, vejam só que desplante, e ainda entre um curso de formação de tapetes de Arraiolos e outro de aromaterapia, os fazem arriscar horrivelmente a própria vida, que não há um dia de folga por semana e quatro meses de férias por ano que paguem nada disto.

De tal forma é uma religião que, pelos vistos, aquilo que aqueles 100 mil professores que aqui há dias se reuniram ali à volta do Marquês de Pombal estavam a fazer não era uma manifestação contra a ministra: era uma procissão!

E então quem ousa concordar com alguma coisa que a ministra diz deixou de estar a fazer uma crítica aos professores e passou praticar uma horrível… blasfémia!

Pode dizer-se que os advogados são todos uns aldrabões, que os médicos são incompetentes, que os engenheiros não têm o curso completo, que os políticos são todos corruptos e até que as actrizes são todas umas promíscuas debochadas.
Mas ai de quem fale mal dos professores! Isso é que não!!!

Isso até pode ser o caso de «um curioso a interferir ilegalmente na “nossa” profissão!»
Blasfémia!
Ou alguém «que confunde a avaliação dos professores com a detecção de professores com habilitações falsificadas»
Blasfémia!
Avaliação de professores? Alguém mencionou isso?
Blasfémia!
Ou alguém que não há maneira de entender «que entre todos os sacerdotes era EU quem devia já ser professor titular» e não aquele filho da mãe só porque foi director de turma mais um ano do que eu.
Pois não vê esta gente que a lei só será justa quando estiver feita de modo a que «EU» seja professor titular?
Blasfémia!
Pois não vê esta gente que EU é que sou o melhor professor desta porcaria desta escola, apesar de nunca nenhum dos seus professores ter sido ainda avaliado?
Blasfémia!
Porque não vê esta gente que o melhor era todos serem professores titulares e estava o problema resolvido?
Ou então, todos não, pronto; só… EU!

Mas o que pretendo dizer agora vem a propósito do post anterior, onde conto o caso do falso professor que durante mais de 30 anos deu aulas em Portalegre sem que ninguém se tenha apercebido de que não tinha habilitações nem académicas, nem científicas nem pedagógicas para o desempenho da profissão de professor.
Não obstante, durante todo esse tempo progrediu normalmente na sua carreira e foi até presidente do conselho executivo.

Ora, como o falsário durante mais de 30 anos foi professor, isso significa, antes de mais que estava dotado do tal dom especial, e que fazia parte do tal grupo de sacrificados sacerdotes que arriscam quotidianamente a vida para ensinar o abecedário às crianças portuguesas.

A consequência era óbvia: criticar o homem, mais do que criticar o falsário era criticar o professor.
E cá temos a blasfémia!

E o resultado era previsível, como se pode ver na caixa de comentários do post anterior: «e quem disse que o homem, apesar de falsário não era, apesar de tudo um bom professor?».
Sendo assim, disse-se, uma vez que os diplomas falsos estavam arquivados algures, uma avaliação profissional ao seu desempenho não ia detectar nada. Para quê fazê-la, então?...

De repente, falsificar diplomas deixou de importar: o que importa é que o homem é professor, foi professor mais de 30 anos, e isso só significa que como todos os seus colegas estava dotado do tal dom e de uma vocação sacrificial que só é acessível a esta gente tão especial.
Se não tinha habilitações, então não faz mal: era um autodidacta!
Não tinha habilitações? E qual é o problema? Não há por aí tantos profissionais falsos?

O que é que tudo isso interessa? O que interessa é que o homem era professor!

Pois é: é aqui que, como em todas as religiões, esta gente entra no domínio da irracionalidade.

Repare-se que já se vai tão longe que, de repente, deixou de ser relevante saber se um sujeito qualquer deu aulas durante mais de 30 anos sem para tal ter habilitações nem académicas, nem científicas nem didácticas.

O que interessa é que era alguém que, pelos vistos, era obviamente dotado do tal dom muito especial e que durante 30 anos enfrentou com o risco da própria vida milhares e milhares de horríveis alunos.
O que durante esses 30 anos ensinou aos alunos e a forma como o ensinou, isso não interessa para nada. Não era ele um dos sacerdotes?

Agora é mais fácil de perceber a forma como durante todo este tempo os professores e os sindicatos têm enfrentado a ministra e lutado contra a implementação das políticas do ministério da Educação.

Pois, como ousa alguém pôr em causa a competência ou o dom deste grupo de escolhidos?
Como ousa alguém avaliar o desempenho destes sacerdotes, quando já vimos que mesmo que um deles tenha as habilitações falsificadas não deixa por isso de pertencer a esta elite de sacrificados?

Como ousa alguém impedir os professores de progredirem nas suas carreiras, todos eles até ao topo, se já vimos que até se consideram irrelevantes as habilitações académicas, científicas e pedagógicas desde que, mesmo sem elas, se seja… professor?

Não se apercebem os professores o quanto se descredibilizam a si próprios quando já são eles mesmos quem diz que para se ser professor os cursos ou as habilitações são absolutamente irrelevantes e que, afinal, qualquer falsário autodidacta com jeito para aldrabão pode ser professor?

Mas quando será que os professores resolvem finalmente ver-se ao espelho e decidem seriamente devolver à sua profissão a credibilidade e o prestígio que ela inquestionavelmente exige e merece?
Quando será que os professores vão ver que isso só acontecerá no dia em que decidirem expulsar das fileiras da sua profissão todos os falsários que a descredibilizam?

Quando será que os professores se deixam de providências cautelares inúteis e resolvem sentar-se a uma mesa de negociações ministerial não para falar de promoções ou das remunerações das aulas de substituição, mas para passarem a propor alternativas sérias, concretas e credíveis e começam finalmente a falar… dos alunos?

Quando será que os professores passarão a ouvir e a considerar seriamente alguma opinião que lhes seja desfavorável como uma simples crítica, mesmo que no fim ela se revele espalhafatosamente errada, e não a considerem desde logo como uma horrível… blasfémia?...

Quando será que os professores se aperceberão que são tão falsários os que dão aulas sem habilitações como aqueles que, apesar de as terem, são tão incompetentes como os que não as têm?


Senhora ministra: por favor, não desista!


quinta-feira, 10 de abril de 2008

 

Profissão: Professor



O Tribunal de Portalegre condenou o cidadão António Raposo a 18 meses de prisão com pena suspensa pelo crime de usurpação de funções.

Depois de ouvir ler a sentença – de que não vai recorrer – António Raposo abandonou tranquilamente o Tribunal acompanhado pela mulher e não quis prestar quaisquer declarações.

António Raposo estava acusado de ter falsificado os documentos e diplomas comprovativos das suas habilitações.
Depois, e durante mais de 30 anos, deu aulas na Escola Cristóvão Falcão, em Portalegre, e chegou mesmo a presidir por cinco anos ao próprio conselho executivo.

Durante mais de três décadas este “falso professor” deu tranquilamente as suas aulas, provavelmente a milhares de alunos, sem que ninguém se tivesse preocupado com a forma ou a competência com que o fazia.

Durante todo esse tempo este ilustre professor progrediu normalmente na sua carreira, tal como todos os seus restantes colegas – e sem que ninguém os distinguisse uns dos outros – graças simplesmente aos anos de antiguidade na profissão que todos automaticamente iam somando.

Durante mais de trinta anos nunca ninguém se apercebeu que o Senhor Professor António Raposo não tinha as habilitações ou as qualificações profissionais que se arrogava, pura e simplesmente porque durante todo esse tempo nunca ninguém o avaliou ou sequer se preocupou com a forma ou a competência com que desempenhava a sua profissão.

Senhora ministra: por favor, não desista!


quarta-feira, 9 de abril de 2008

 

Onde é que estavas no 25 de Abril?


Talvez esta seja uma das melhores rábulas alguma vez feitas por Herman José.
Enfim… velhos tempos…



segunda-feira, 7 de abril de 2008

 

A Porca Judaico-Cristã



Já cá faltava: desta vez o nosso diligente João Carlos Espada utiliza o «Expresso» deste último sábado (mas será que lhe pagam para isso?) para falar sobre a Educação.

E o seu diagnóstico é bastante claro: uma ortodoxia esquerdista, secular e laxista, numa autêntica lavagem ao cérebro, vem minando dramaticamente os padrões da educação.

Como se isso viesse a propósito, perora depois o Espada sobre as origens da Democracia. E, claro está e como é seu costume para fazer boa figura, não deixa de pedir ajuda a uma citaçãozinha, desta vez de Karl Popper, que se é verdade que leu, pelos vistos não percebeu de todo.

É claro que o mundo em que vivemos resulta de uma evolução milenar, de um encontro de culturas e civilizações, e as suas origens, se decerto encontram raízes na Magna Carta (porque fala ele tão recorrentemente na Magna Carta?) podem encontrar-se também muito mais além nos confins da História, por exemplo em Aristóteles, 1500 anos antes, como se podem encontrar muito depois, seja na Revolução Francesa ou em tantas Revoluções Liberais.

Mas é fácil de ver onde é que João Carlos Espada quer chegar: depois de tão brilhante diagnóstico eis que vem o remédio por aí a galope.

Para João Carlos Espada a «educação ocidental» e «o nosso sistema estatal de educação» deveriam incluir, diz ele, «as vozes dos nossos antepassados, designadamente as vozes greco-romanas e as vozes judaico-cristãs».

E é aqui que, de facto, a porca torce o rabo.
A porca judaico-cristã, está bom de ver.

Confesso que estou farto de ouvir falar dessa coisa abstrusa e absolutamente idioto-cretina que é o apelo à nossa «tradição» ou às nossas supostas «raízes» judaico-cristãs, evidentemente como se isso fosse algo de que nos devamos orgulhar ou qualquer coisa que devêssemos preservar.

Como é possível no século XXI ainda haver alguém tão imbecil que proclame a validade dos ditames de vida e a actualidade dos valores “morais” de meia dúzia de pastores da Idade do Bronze?

Decerto absolutamente cego pela irracionalidade e completamente ofuscado por essa coisa asinina (e de que ainda por cima se orgulha) e a que se costuma chamar «fé», repare-se que João Carlos Espada não apela a valores de liberdade ou de tolerância para a «educação ocidental» nem defende que a mesma seja enformada por critérios, por exemplo, de competência científica.

Prefere antes os valores que a sua «fé» e os seus deuses lhe encomendam e ao mesmo tempo deslumbram, ao ponto de já começar a ouvir vozes, desta vez «as vozes judaico-cristãs».

Só é pena que João Carlos Espada não veja que essas vozes gritam de horror.
Um horror de ódio, de raiva, de medo e de morte, que há quase dois mil anos mancha de sangue a História dos Homens.

Uma História judaico-cristã que não é mais do que uma imposição sangrenta, preservada a ferro e a fogo das fogueiras de milhares e milhares de inocentes, imolados pela preservação de valores de intolerância, de misoginia, de homofobia, de racismo ou de xenofobia, ou até pelo simples facto de adoptarem uma forma de culto ou um deus diferente ou, às vezes, simplesmente por ousarem propugnar que a Terra é redonda.

Uma História judaico-cristã que preserva os valores da mesquinhez, da "simplicidade", da pobreza, da humildade, de uma submissão canina de quem não tem sequer um pingo de amor-próprio, que não sabe o que é o sexo, a quem chama «o pecado dos prazeres da carne», de quem considera a mulher um ser abjecto e inferior, e que só há um par de séculos é digna de ter «alma», «uma coisa» de segunda que depois de «tocada» é impura, suja e indigna e que arrasta os coitados dos homens para essa coisa horrível que é a «luxúria».

Uma História judaico-cristã que ensina a «amar a Deus sobre todas as coisas», ainda que isso signifique matar os próprios filhos se isso é ordenado por Deus, pelos vistos um facínora da pior espécie.

Uma História judaico-cristã que ainda hoje preserva nas três religiões que originou e nas tristes seitas que se lhes seguiram a triste tradição da pena de morte e até da guerra preventiva e da guerra santa.

Uma História judaico-cristã que transforma todo o percurso de vida de tanta gente num negócio de medo, e intoleravelmente mesquinho, sujo e indigno, da compra da vida eterna.

Uma História judaico-cristã que sacrifica o valor da vida humana e os mais básicos valores civilizacionais das sociedades modernas aos dogmas religiosos mais imbecis e anacrónicos de que um qualquer atrasado mental um dia no meio do deserto se lembrou de catalogar, e que um outro, dizem por aí, se lembrou de repetir depois no cimo de uma montanha.

E que, pelos vistos, muitos outros, mesmo depois de quatro mil anos, ainda têm a autêntica indignidade de defender como base para «o nosso sistema estatal de educação».

E nem um único dos valores de ética, de liberdade e de cidadania que hoje conseguimos mau grado as religiões.

É bem triste o que essa coisa da «fé» faz das pessoas!


sexta-feira, 4 de abril de 2008

 

Fair Play



Isto sim: isto é que é o verdadeiro espírito desportivo!
E há-de ficar para sempre como um dos mais famosos "penalties" da história.

Aconteceu num jogo da segunda mão da Taça da Hungria em futebol. As duas equipas, o Fehervar e o Debrecen, estavam empatadas e o jogo prestes a terminar quando o árbitro assinalou uma grande penalidade.

Qual seria o desfecho do jogo?
A grande penalidade seria convertida?
Conseguiria o guarda-redes defendê-la?

Suspense!
O jogador do Debrecen avança para a bola, marca o "penálti" e… acontece o milagre: o guarda redes do Fehervar consegue defender.
Mas é então que…



quarta-feira, 2 de abril de 2008

 

A Cura Pela Fé



A notícia tem já algum tempo, mas relata agora o «Guardian» que Carl and Raylene Worthington, seguidores de uma religião fundamentalista cristã que defende a «cura pela fé» em detrimento da medicina convencional, foram finalmente acusados de homicídio da sua filha Ava, de 15 meses de idade, que morreu de uma infecção perfeitamente curável porque os seus pais resolveram «tratá-la» unicamente através da oração.

E que, como não podia deixar de ser, atribuem agora a «falta de uma fé suficientemente forte» como causa da morte da filha.

Talvez este exemplo, que paradoxalmente provém de uma América cada vez mais fanática e dominada pela idiota irracionalidade da fé, devesse ser seguido em todos os países do mundo, incluindo em Portugal.

De facto, outra coisa que não uma pesada pena de prisão deveriam merecer os pais que, para além de fanatizarem os seus filhos com histórias de fadas e de terror e princípios de vida e de duvidosa moralidade inventados por pastores atrasados mentais na Idade do Bronze, ainda decidem tratá-los através do recurso a baboseiras imbecis impingidas por autênticos burlões que enriquecem como nababos à custa da credulidade, da ingenuidade e do cretino fanatismo de tanta gente.

Também já em Portugal proliferam a olhos vistos e podem ver-se já a cada esquina estabelecimentos onde se impingem aos incautos tratamentos de homeopatia, acupunctura, quiropatia, osteopatia, fitoterapia e outras aldrabices deste género.
Há até uma nova moda e muito curiosa idiotia chamada «medicina tradicional chinesa», que as pessoas engolem de olhos fechados, somente porque acham que as expressões «tradicional» e «chinesa» e até uma alegada «antiguidade milenar» lhe conferem a necessária credibilidade para porem em risco a sua saúde e a dos seus filhos.

Assiste-se mesmo a uma recente moda de alguns pais que se acham mais inteligentes que os outros e decidem não vacinar os filhos, preferindo antes encharcá-los em mezinhas e pozinhos e outros produtos muito «naturais» que compram em ervanárias ou em «para-farmácias» e que provêm ninguém sabe bem de onde.

Mesmo a propósito, a venda de uma dessas aldrabices, de nome «Depuralina», acabou de ser proibida pela Direcção Geral de Saúde depois de se constatarem três casos de graves consequências para a saúde de pessoas que estavam a tomar aquela porcaria, obviamente contra a ofendida indignação de autênticas associações de malfeitores que dão pelo nome de «Associação Portuguesa de Naturopatia» ou «Associação Portuguesa de Alimentação Racional e Dietética».

Quantas pessoas – quantas crianças – será preciso que ainda morram para que alguém faça alguma coisa contra estes aldrabões?


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