segunda-feira, 14 de julho de 2008

 

As Desculpas do Papa



O negócio de venda de hóstias e de lugares na vida eterna levou o presidente do conselho de administração do Vaticano, Joseph Ratzinger, por alcunha o Papa Bento XVI, a uma das suas viagens promocionais, desta vez à Austrália.

Como ao que parece o negócio não anda a correr nada bem, o Rottweiller de Deus decidiu imitar o seu antecessor Karol Wojtyła, a.k.a. João Paulo II, mais conhecido pelo "Papa tremente a Deus", e pedir desculpas pelos abusos sexuais de crianças praticados na Austrália por sacerdotes católicos.

Provavelmente é para ver se a coisa esquece…

Vai sendo recorrente como táctica promocional do negócio do irracional isto do pedir desculpas às pessoas.
Não que admitir um erro e pedir por ele as devidas desculpas seja errado.
Muito pelo contrário, como é por demais óbvio.

Mas o que acontece é que estes pedidos de desculpas não passam de uma inqualificável e profunda hipocrisia de promoção comercial e de uma desonestidade intelectual sem limites.

A Igreja Católica levou milénio e meio a torturar e a matar pessoas, a trucidar populações inteiras, a imolar pelo fogo todos aqueles que ousavam atravessar-se no seu caminho, nem que fosse pelo simples facto de dizerem que a Terra é redonda ou pelo abominável crime de professarem outra religião.
A Igreja Católica é responsável por um indizível sofrimento da humanidade ao longo de séculos e séculos e por um atraso científico e cultural jamais recuperável.

Por isso, é bom que o Papa e os seus apaniguados não pensem que um pedido de desculpas absolutamente hipócrita poderá algum dia apagar da memória dos Homens esta autêntica hecatombe civilizacional, ou deixar de qualificar devidamente as pessoas que se arrogam – e até com orgulho, pasme-se – serem membros desta autêntica associação de malfeitores.

Muito mais quando estes cínicos e calculistas pedidos de desculpas não são na prática devidamente acompanhados das actuações éticas que se impunham a quem fosse minimamente sincero a formular tais pedidos.

Enquanto o Papa pede desculpas pelos abusos sexuais, não se conhece o nome de um só padre que tenha cometido abusos, que tenha roubado a inocência a uma criança e a tenha marcado e traumatizado para o resto da vida, que tenha sido eclesiasticamente punido com mais do que uma simples pena de transferência para outra paróquia. Quantas vezes só para aí começar tudo de novo, e sempre com a maior das impunidades.

O Papa pede desculpas, sim, mas naqueles olhinhos de porco com lágrimas de crocodilo não se vislumbra o mínimo sinal de sinceridade que o levasse até a permitir a extradição dos pedófilos refugiados no território do Vaticano e que são procurados pela Justiça de outros países.

De pedido desculpas em pedido de desculpas, a Igreja Católica lá vai pensando que lava os seus pecados e a sua tortuosa e criminosa consciência.

Mas o que é mais curioso é que não se vê a Igreja Católica pedir desculpas pelo seu inestimável e incondicional apoio às ditaduras sul-americanas, ou de Salazar, Franco, Hitler ou Mussolini com quem, muito pelo contrário, colaborava activamente e celebrava Concordatas.
Não se vê a Igreja Católica pedir desculpas pelo facto do Papa Pio XII ter auxiliado os criminosos de guerra nazis a fugir da justiça.

Porque não pede a Igreja Católica desculpas por não ter excomungado nem Hitler, nem Eichmann, nem Goering, nem Pinochet, nem Videla, nem sequer Idi Amin ou Jan Smuts, enquanto tanto se indignou e excomungou pessoas como Cervantes, Kepler, Espinosa, Hidalgo, Tolstoi, Peron e até mesmo… a cantora Sinéad O’Connor?...

Enquanto pede desculpa pelas crianças abusadas sexualmente por padres católicos, por que motivo não aproveita a Igreja Católica a embalagem e pede desculpa também pelas crianças castradas? Ou pelas crianças judias raptadas aos pais para serem educadas por famílias católicas, isto ainda nem há 60 anos?

Por que não se vê a Igreja Católica pedir desculpas por ainda há menos de um século proibir os casamentos inter-raciais ou por criticar os movimentos sufragistas que lutavam pelo direito de voto das mulheres?

E a razão é simples:
- Simplesmente porque nada disso lhe pesa na consciência!

É por isso que a Igreja Católica ainda hoje tem como catecismo, como princípios morais básicos da sua ideologia e do seu negócio de morte a discriminação, a homofobia e a misoginia.

- Porque ainda hoje a Igreja Católica admite ideologicamente a pena de morte e a guerra preventiva.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica persiste em pôr os seus dogmas da Idade da Pedra acima da vida humana, como bem o demonstra a sua política imbecil contra todas as formas de anticoncepcionais, com especial relevo para o preservativo, mesmo sabendo o que isso poderia significar na luta contra a disseminação da SIDA.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica considera a mulher um ser humano de segunda categoria, sem direito ao sacerdócio ou sequer a decidir sobre o seu próprio corpo.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica luta contra a evolução e contra a investigação científica que utilize métodos ou técnicas que não tenham sido convenientemente previstos pelos pastores da Idade do Bronze que escreveram a cretinices bíblicas.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica promove o ensino da irracionalidade mitológica e do criacionismo às crianças em detrimento de um raciocínio científico, lógico e humanista.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica incute às pessoas, desde crianças, que tudo o que se relaciona ou se refere ao sexo é sujo, abjecto e pecaminoso.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica defende que tudo é justificável e se torna moralmente correcto desde que seja feito em nome de Deus.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica ensina às crianças e promove as virtudes e os valores da pobreza, da indigência intelectual e material, da mansidão e da obediência cega e resignada aos poderosos, da mortificação e da humildade e da submissão mais caninas.
- Porque ainda hoje a Igreja Católica se opõe ao reconhecimento da igualdade ou dos mais básicos direitos das pessoas que entendeu considerar diferentes em razão da sua orientação sexual.

O Papa foi pedir desculpa?
Pois bem: quanto a mim, as desculpas pura e simplesmente não são aceites.




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