domingo, 18 de maio de 2008

 

Pois é: isto de ser uma “família” não é para qualquer um!


Um dos mais fundamentais direitos de uma verdadeira Democracia será a liberdade que cada cidadão tem de determinar e de organizar a sua vida da forma que muito bem entende.

Não é sequer necessário realçar a inalienabilidade dos direitos fundamentais dos cidadãos, do seu direito à liberdade de expressão ou à liberdade de terem um culto religioso (ou de não ter culto algum) ou de organizarem da forma que acharem mais conveniente, e em plena liberdade, a sua vida privada e familiar.

Constitui por isso um indiscutível direito fundamental, e até revestido de dignidade de consagração constitucional, o direito dos portugueses se organizarem em torno do culto religioso que mais lhes aprouver.
Tanto assim que talvez quase três quartos dos portugueses se afirmam católicos, embora muitos deles se considerem a si próprios essa coisa absolutamente abstrusa, e contraditória nos próprios termos que é serem «católicos não praticantes».

Como católicos, estes portugueses são perfeitamente livres de praticarem em plena liberdade o culto que a sua Igreja lhes determina e de acatarem os dogmas da sua religião ou o catecismo e as determinações dos ministros dessa mesma religião, com o Papa no topo de uma hierarquia bem identificada e organizada, e que por vezes até faz proclamações revestidas do dogma da sua infalibilidade.

E o que é facto é que os católicos são livres de o fazer e ninguém tem nada a ver com isso!

Outra liberdade que está ao alcance dos portugueses é a forma de organizarem a sua vida familiar a seu bel-prazer, um direito igualmente fundamental e que por isso merece também importância suficiente para se encontrar constitucionalmente consagrado.

É por isso que tantos portugueses escolhem viver juntos sem se vincularem previamente aos laços do matrimónio. Há até regiões deste nosso Portugal em que é quase «tradição» um belo dia o homem ir a casa dos pais daquela que será a sua companheira e nesse mesmo dia «juntam os trapinhos» e assim vivem até ao fim dos seus dias.
No nosso país haverá certamente centenas de milhar de pessoas que vivem em união de facto. E, uma vez mais, são livres de o fazer e ninguém tem nada a ver com isso!

Mas às vezes acontece a curiosa coincidência de haver pessoas que vivem em união de facto e serem também católicas, mesmo que se achem somente que são aquela tal coisa a que chamam «católicos não praticantes».
E uma vez mais é verdade: são perfeitamente livres, e ninguém tem nada a ver com isso!

Mas a curiosidade mais engraçada surge precisamente aqui:

Na passada sexta-feira, durante o Fórum de Associações Familiares Europeias que decorreu no Vaticano, o Papa Bento XVI, o tal chefe da Igreja Católica que os portugueses que assim o entenderem são livres de seguir (que ninguém tem nada a ver com isso) disse que os casais que vivem em união de facto afinal não são… uma família.

Disse-o assim por estas palavras:
«A revelação bíblica é antes de mais uma história de amor, a história da aliança de Deus com os homens. É por isso que a história de amor entre um homem e uma mulher na aliança do matrimónio foi assumida por Deus como símbolo da história da salvação. É precisamente por isso que a união de vida e de amor, baseada no matrimónio entre um homem e a mulher – que constitui a família – representa um bem insubstituível para toda a sociedade, a não confundir nem equiparar a outros tipos de união».

Assim sendo, a conclusão é simples e só pode ser uma:
Os milhares de portugueses que vivem em união de facto, independentemente da sua idade ou do seu sexo, de terem ou não terem filhos, de viverem juntos há muito ou há pouco tempo, mas se forem ao mesmo tempo católicos terão agora para todos os efeitos de deixar de se considerar a si próprios… UMA FAMÍLIA.

Ao fim e ao cabo, um Papa é um Papa, e as revelações bíblicas e a palavra de Deus não são para pôr em causa.

Mas é aqui que acaba a curiosidade e começa o problema:
- Como chamar então a estas pessoas ou a cada um destes grupos de pessoas que vivem em união de facto e que ao mesmo professam uma religião cujo chefe supremo (e cujas determinações decerto não hesitarão em seguir e professar) é ele próprio, o Papa Bento XVI, que não os considera… UMA FAMÍLIA?...

Sim: que nome haveremos agora de chamar a esta gente???




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