segunda-feira, 14 de abril de 2008

 

Religião? Professor! – Parte II – O Catecismo



Confesso que mesmo somente como óbvia provocação que gosto de aqui fazer (o quem nem toda a gente percebe muito bem) eu próprio já começo a estar farto desta coisa das políticas da Educação.

Mas não porque os temas susceptíveis de provocação blogosférica terminaram. Longe disso, se calhar ainda agora começaram. Mas tão somente porque quando uma conversa entra dentro do domínio da irracionalidade começa de facto a perder a piada.
É como discutir evolucionismo com um criacionista: pode-se brincar ou provocar durante um tempo, mas a certa altura perde a graça.

É precisamente este caso da Educação, da ministra e dos professores, que parece ter-se tornado uma espécie de religião. E quando assim é, as conversas sobre o assunto tornam-se a certa altura irracionais. E é então que perdem a piada.

Mas há ainda alguma coisa que precisa de ser dita, precisamente a propósito deste «acordo» entre a ministra da Educação e os sindicatos dos professores, não fosse até alguém pensar que não tinha resposta a dar à caixa de comentários do post anterior.

Pois bem: ainda que corra o risco de continuar a haver uma barreira de uma irracionalidade autenticamente religiosa que continua a toldar a visão de muita gente, ainda assim aqui vai disto:

Em primeiro lugar uma coisa com piada: nos últimos meses a acusação recorrente à ministra da Educação era que não ouvia os professores, que era teimosa e que não cedia nem à lei da bala.
Agora há uma nova acusação à ministra da Educação: é que cedeu!

Depois, pode-se ler nas letras grandes de toda a comunicação social que a ministra cedeu (e que por isso PERDEU, claro está), porque recuou precisamente nos aspectos que se relacionavam com a avaliação dos professores.
E que, por isso, os professores “ganharam”.
Mas afinal isto também tem graça: é que se o que estava em causa era a avaliação e se os professores “ganharam” e a ministra “perdeu” então sempre parece que os professores não eram lá muito a favor da sua avaliação como andavam para aí a alardear…

Mas há mais coisas com graça: basta ler a caixa de comentários do post anterior para ver um ilustre professor da nossa praça lamentar-se e dizer o que vai acontecer depois desta “cedência” da ministra:
Vejam só o que ele diz:
«…lamento, mas que apesar do esforço e empenho e do trabalho conjunto a sua avaliação vai ser da treta…».

Tem graça, não tem? Um professor que foi à manifestação do Marquês de Pombal e tudo, que foi refilar contra a ministra e contra a sua teimosia de não ceder nessa aberração que era a avaliação dos professores, mal a ministra “cede”, vem dizer mal do sistema que agora resulta… da cedência!

E lá vem mais uma crítica: nem sequer vai mandar um tal email a uma colega que é conhecida por faltar persistentemente porque agora, com a cedência da ministra, as suas faltas vão ficar impunes. Mas não é isto que os professores que foram à manifestação do Marquês de Pombal queriam, que a ministra cedesse?...

E no entanto este emérito professor chama a esta cedência da ministra, vejam só, uma «grande palhaçada e incoerência» e até «uma tristeza».
E lamenta-se outra vez: «andei eu e muitos milhares de professores, em reuniões sem fim a preparar os materiais para se realizar uma avaliação o mais justa e correcta possível, para agora esta ser igual ao que era?».

Então que foi este professor fazer à manifestação no Marquês de Pombal? Afinal onde está a «grande palhaçada e incoerência»? Onde está essa tal «tristeza»?

Mas esta história desta vergonhosa «cedência» da ministra da Educação tem coisas muito ainda mais engraçadas: para já é esta recente idiotia que parece estar na moda que é a oposição ao Governo ser feita nas letras grandes dos jornais.
E pelos vistos chega, porque pelos vistos ninguém lê as letras pequenas.
O que é pena, principalmente neste caso dos professores, e muito mais ainda quando são os próprios professores que não sabem aquilo que de facto os rodeia na sua profissão. Claro está isso não os inibe de criticar e acusar de ignorância os humildes comentadores da Blogosfera.
Mas deixemos isso.

Vejamos agora em que consistiu essa tal cedência da ministra. E, claro está, a sua clamorosa derrota face à grandiosa vitória dos professores e dos seus sindicatos.
A mais recorrente acusação é que esta “cedência” tem objectivos eleitoralistas face às eleições que aí vêm. O que é engraçado é que há pessoas que papam isto.
De facto há eleições já em Outubro. Mas em Outubro de 2009, daqui a mais de ano e meio!

Depois, vamos lá então a ver o que os professores e os seus sindicatos ganharam e a ministra perdeu.

Para já, a ministra ganhou e os sindicatos e os professores perderam TODAS as providências cautelares que pretendiam paralisar a concretização das políticas ministeriais.
Depois, a ministra ganhou e os sindicatos e os professores perderam quando o Presidente da República acabou de promulgar a lei de gestão e administração escolar.

Mas a ministra ganhou muito mais: porque o que está em causa não é só a avaliação dos professores ou esta lei acabadinha de promulgar, mas conjunto muito mais vasto de diplomas e de políticas aos quais os papalvos dos professores e dos seus sindicatos nem sequer vêm que acabaram de dar o seu aval e toda a sua concordância à ministra, que os comeu por lorpas nas suas próprias barbas.
E que, assim, vão ser todos levados à prática mesmo depois manifestações gigantescas e ameaças de “outras formas de luta” e tudo.

O que “cedeu” a ministra da Educação? O que “ganharam” os professores e os seus sindicatos?
Alguém se lembra do que eles exigiam?
Todos contentes às voltinhas no Marquês, até exigiam a demissão da ministra e tudo. E sempre foram bem claros: não havia qualquer hipótese de acordo com aquela sinistra indivídua quando estava em causa a dignidade de toda uma classe.

Lá veio o acordo e o que mudou para além de um mero adiamento da aplicação de meia dúzia de itens nos critérios de avaliação?
Rigorosamente nada!

Repare-se nisto:
Basta consultar o site do Ministério da Educação para ver o que afinal efectivamente mudou.
Basta comparar a proposta original do Ministério da Educação – AQUI
Com o «Memorando de Entendimento» que resultou do acordo com os sindicatos – AQUI

Então o que vai ficar para além do adiamento da tal meia dúzia de itens da avaliação?
É simples: tudo o resto!
Desde esse horrível Estatuto da Carreira Docente até ao conjunto de diplomas sobre a gestão das escolas passando até pelo sistema da Educação Especial.
E pronto: para o ano vem o resto que ainda falta!

Derrota da ministra?
A ministra desistiu?
Vitória dos professores e dos sindicatos?
Deixem-me rir!!!

E como foi fácil à ministra fazê-los engolir isto com anzol, chumbada e tudo: bastou-lhe fazer alguns adiamentos e, vejam só, uma promessa de um novo escalão remuneratório.
Como é fácil dar a volta aos professores.
Melhor: como afinal é fácil… comprá-los!


Senhora ministra: por favor, não desista!




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