sexta-feira, 9 de novembro de 2007

 

A Liberdade Religiosa



Como nos conta a «BBC News», Emma e Anthony Gough eram um jovem casal que vivia na pequena cidade de Telford, em Inglaterra; ela de 22 anos, ele de 24.

Emma Gough engravidou de gémeos. Como tantos outros jovens casais, Emma e Anthony ansiavam pelo nascimento dos seus filhos e provavelmente fizeram mil e um planos para as suas vidas, para a sua família.

No dia 25 de Outubro nasceram os gémeos. De parto natural.
A mãe ainda os conheceu e ainda lhes pegou ao colo.

Mas, de repente, tudo começou a correr mal: uma hemorragia inesperada e complicações de uma anemia grave levaram Emma Gough a entrar a coma.
Impunha-se uma solução: uma transfusão de sangue urgente era a única forma de lhe salvar a vida.

Mas acontece que Emma e Anthony Gough eram testemunhas de Jeová e uma transfusão de sangue estava definitivamente fora de questão. De facto, as testemunhas de Jeová recusam-se a fazer transfusões de sangue porque acreditam que Deus as proibiu expressamente na Bíblia.
Antes do parto Emma Gough tinha mesmo assinado uma declaração deixando expresso que mesmo em caso de emergência não autorizava qualquer transfusão de sangue.

Estando Emma inconsciente, os médicos ainda apelaram insistentemente à família, principalmente ao marido, que os deixasse fazer a transfusão de sangue necessária. Todos foram claros: uma transfusão estava fora de questão e mantiveram-se firmes na sua decisão.
E preferiram deixar Emma Gough morrer.

É agora o pai quem sozinho toma conta dos gémeos: um menino e uma menina.
Duas crianças que vão crescer sem a sua mãe, que preferiu morrer em nome de um dogma religioso a tê-los consigo. Duas crianças que vão ser educadas por um pai que deu mais importância a uma declaração asinina de um livro, escrito há dois ou três mil anos por pastores de cabras atrasados mentais, do que a uma vida humana, do que à vida da mãe dos seus próprios filhos.

Pois bem:
Talvez tenhamos de nos conformar com o facto de que a recusa de receber uma transfusão de sangue também faz parte e cabe perfeitamente dentro do livre exercício do direito fundamental e constitucionalmente garantido que é a liberdade religiosa dos cidadãos.
Mesmo que com isso esses mesmos cidadãos corram risco de vida. Não já da vida dos seus filhos ou de quaisquer outras pessoas, mas enquanto se tratar unicamente das suas próprias vidas.

Porque não é isso mesmo que é uma religião, qualquer que ela seja, proíba ou não as transfusões de sangue?
Não é a religião – qualquer que ela seja – a aceitação cega e acrítica de meia dúzia de dogmas idiotas? Não é a religião precisamente a sobrevalorização de uma irracionalidade perfeitamente imbecil a todos os restantes valores, incluindo a vida humana?

Em suma: se Emma Gough morreu no pleno e livre exercício da sua liberdade religiosa, então para qualquer religião a sua morte não passou de um assunto corriqueiro, normal e perfeitamente aceitável do ponto de vista ético...




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