sexta-feira, 5 de outubro de 2007

 

Viva a República!



A República faz hoje 97 anos!

Neste já quase século republicano português, e até aos actuais dias desta crescente – mas nunca completa – sedimentação da nossa Democracia, muitas, muitas coisas sucederam.

Umas melhores, outras piores, umas muito boas e outras muito más.
Algumas tão más, que até parecia que tinha sido reimplantada a monarquia...

E é a propósito desta efeméride e do dia que hoje orgulhosamente se comemora, que penso que, para o celebrar, nada melhor que tornar a publicar (só com algumas alterações) um texto que aqui deixei vai quase para um ano, e que se seguiu a umas iluminadas declarações à imprensa por um cidadão de seu nome Duarte Pio de Bragança que, do alto da sua reconhecidíssima gigantesca estatura intelectual, afirmou solenemente:

«A democracia portuguesa não é uma democracia, é uma fraude».

Rezava tal texto, depois de assim intitulado:

El-Rei Dom Chouriço


Segundo tão triste Pio, a «fraude» da democracia portuguesa reside no facto de a Constituição impedir o referendo sobre a natureza do próprio regime, ao mesmo tempo que, disse ele, «condiciona qualquer revisão constitucional ao respeito pela forma republicana de governo».

Este pio cidadão é conhecido por aparecer em revistas de «jet set» onde exibe a mulher e põe os filhos em exposição, e é famoso porque pensa que seria o «Chefe de Estado» se Portugal fosse uma monarquia.
Pelos vistos, este cidadão que gostava de ser Chefe de Estado (mas que se refere a uma coisa curiosíssima e, sem qualquer dúvida, genial a que chama «forma republicana de governo») deve estar convencido que a Constituição é a única coisa que o impede de estar sentado num trono com uma rodela de latão enfeitada com berloques bem enfiada no alto da cabeça e mandar bitaites sobre aquilo de que nada percebe.

E deve estar convencido que se não fosse o impedimento constitucional, Portugal seria agora uma monarquia.
E então, claro está, a democracia portuguesa já não seria, como ele diz que é,... uma fraude.

Nunca ninguém disse ao Pio de Bragança que a Democracia portuguesa é perfeita. Nenhuma o é!
E a Democracia portuguesa está ainda bem longe de o ser!
Mas está bom de ver que o sujeito nunca leu (ou se leu não percebeu), que é mais do que óbvio que, como dizem as inspiradas palavras de Churchill,
«A Democracia é o pior de todos os sistemas, mas com excepção de todos os outros»!
Claro que o próprio facto de um qualquer cidadão poder debitar livre e impunemente, como ele o faz, as maiores baboseiras sobre o regime democrático em que vive não tem, para o Pio, qualquer importância para a afirmação de uma democracia.

Nem sequer a própria existência de um «Partido Monárquico» livre e legalmente constituído, provavelmente pelo impacto fadista, risível, marialva, profundamente ridículo e meramente residual que tem no eleitorado.
Mas que, pasme-se, ainda assim tem deputados no Parlamento português, melhor dizendo, na «Assembleia da República», e que ali foram sentados (quem sabe se para cantar o fado ou para fazer a malta rir), pelos delírios de Santana Lopes.

Mas a democracia portuguesa já não seria uma fraude se o Chefe de Estado – ainda para mais com a importância que tem num regime semi-presidencialista como o nosso – deixasse de ser eleito por voto directo, secreto e universal dos portugueses e passasse a ser um cargo entregue a um «chouriço» qualquer, «legitimado» não se sabe por que raio de linhagem – quem sabe até se por uma «reincarnação» – e que, só por isso, pretende que lhe dêem mais direitos que aos demais cidadãos.

Ou seja, para este monárquico chouriço, que gostava de ser Chefe de Estado e – olhem só que giro! – que gostava até de «referendar a democracia portuguesa», esta já não seria uma fraude se o cargo de Chefe de Estado deixasse de ser desempenhado - e por um período limitado - por qualquer cidadão, escolhido pelo mérito que os seus concidadãos entenderem reconhecer-lhe em eleições livres, mas passasse a ser desempenhado por mera e simples nomeação de uma única pessoa, cuja «legitimidade» para o exercício desse cargo nos proviria de uma, pois claro, «imposição» decorrente unicamente do seu... nascimento!

A democracia portuguesa já não seria uma fraude se o cargo de Chefe de Estado fosse de nomeação vitalícia, mesmo que o ilustre herdeiro designado se viesse a revelar um autêntico imbecil, um reaccionário cretino, imbecil e retrógrado, e ainda por cima enfeudado e vendido a uma religião, ou fosse, enfim, uma besta qualquer que o povo tivesse de aturar (como tantas vezes já sucedeu) para o resto da sua vida.

E então, a democracia portuguesa já não seria uma fraude se à volta do Chefe de Estado passasse a rodopiar uma clique de fadistas marialvas vestidos de coletes verde-tropa, assim com muitos bolsinhos de lado e tudo, e que só conseguem visibilidade pública ou nas bancadas das «toiradas» ou pelas fantásticas e geniais tiradas homofóbicas e misóginas que fazem em programas de televisão idiotas para que são convidados, porque aí, claro está, sentem-se mais à vontade.

Deslocam-se de preferência num verdejante Range-Rover e arrogam-se títulos nobiliárquicos inexistentes e inventadas superioridades dinásticas de grandes senhores feudais da idade média, de quem herdaram não mais do que o atraso mental.

Mas descansemos:
Porque, decerto convencida de que ser «adepto da Coroa» é sinónimo de uma qualquer e misteriosa superioridade intelectual e traz automaticamente consigo notoriedade social, há por aí muito boa gente que, provavelmente porque não olhou bem para ele ou ainda não o ouviu bem a abrir a boca, ainda não se apercebeu deste simples facto:
- Que o principal adversário da «causa monárquica» em Portugal é precisamente esta peculiar personagem que dá pelo nome de «Duarte Pio de Bragança».




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