terça-feira, 5 de dezembro de 2006

 

Profanação de Cadáver



Vinte e seis anos depois da morte de Sá Carneiro, o seu cadáver continua a servir regularmente de instrumento de propaganda política.

Depois de um processo judicial arquivado por falta de arguido e de provas, depois de meia-dúzia de comissões parlamentares de inquérito, que ora acham que foi acidente ora concluem que foi atentado, sempre que o PSD se acha na mó-de-baixo política, lá se desenterra o caso mais uma vez.
Como se o cadáver de Sá Carneiro fosse uma espécie de património político do PSD e como se da tese do atentado resultasse uma auto-comiseração que pudesse render votos.

Vinte e seis anos depois da queda do avião em Camarate, era fatal como o destino: lá veio Marques Mendes, em fase de insuspeita recessão partidária, invocar que é «uma vergonha para a democracia» continuarem por esclarecer as circunstâncias da morte de Sá Carneiro.

Concordo que ficou por fazer o julgamento das circunstâncias em que em Portugal morreram um Primeiro-ministro e um ministro da Defesa. E todos temos o direito de saber o que na realidade se passou.
Mas, ao fim de vinte e seis anos, depois de um processo judicial e depois de tantas comissões parlamentares de inquérito, pelos vistos de utilidade nula, esse julgamento já só pode ser histórico e terá de ser feito em consciência por cada um dos portugueses individualmente.

Invocar a realização de um julgamento de excepção, para já não se sabe bem de quem, num caso inevitavelmente prescrito, e nem que para isso se defenda a criação de uma coisa insólita chamada «procuradores especiais» que aplicariam leis com efeitos retroactivos é, antes de mais, um insulto à democracia e ao Estado de Direito e, também por isso mesmo, à própria memória de Sá Carneiro.

Mas mais do que isso: a exumação regular deste caso e o seu aproveitamento político partidário só servirá ainda mais para o achincalhamento que significa o seu inevitável aproveitamento para promoções publicitárias de bruxos e aldrabões que já ninguém leva a sério.

E nada disto me parece que seja a forma mais adequada de honrar o nome e a memória de um Primeiro-ministro de Portugal.




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