quarta-feira, 11 de outubro de 2006

 

A história de uma professora de matemática



Era uma vez uma professora de matemática que dava aulas numa escola bem perto daqui.

Há dois anos foi professora da adolescente cá de casa, estava ela a fazer o 9º ano.

Ora bem:
Um belo dia chegou o primeiro teste de matemática.
Pimba! Uma nega. E logo das boas.

Sendo as negas, felizmente, uma coisa rara na adolescente cá de casa, procurei averiguar o que tinha corrido mal.
Sempre a dar o devido desconto, que nisso os adolescentes são todos iguais, lá ouvi as justificações do costume.
Não queria acreditar no que ouvia:
Que todos os alunos tinham tido negativa no teste, que a professora faltava uma em cada três ou quatro aulas, que não explicava nada, que ninguém sequer entendia o que ela dizia, que ninguém percebia peva daquilo mas que ela espingardava com os alunos que ousavam tirar-lhe dúvidas, que as aulas eram uma grande rebaldaria, eu sei lá.
A desgraça era completa: não faltava nada.

Verdade ou não, exagero ou não, o que é certo é que eu estava mas é a ver a vida a andar para trás.

Não fosse o Diabo tecê-las, lá foi a adolescente para uma explicação de matemática.
E por lá andou o ano todo, à razão de 250 euros por mês.

Até que chegou o fim do ano lectivo, e com ele aqueles "exames" engraçados que não contam para nada.
E lá foi a adolescente cá de casa fazer os exames de português e de matemática.
Testes de aferição, acho que era o que lhes chamavam.

Quando saíram os resultados lá fomos ver as notas.
E é então que verificamos todos uma coisa curiosa.
Mesmo muito curiosa.
De todos os alunos daquela professora de matemática, mas todos mesmo na escola inteira, somente uma aluna apenas tinha tido positiva no teste.
Sim, adivinharam: foi a adolescente cá de casa.

Não havia dúvida de que o explicador de matemática era competente e tinha merecido cada cêntimo que lhe tinha pago ao longo do ano.
E, por sua vez, não havia dúvida quanto à competência daquela professora de matemática.
A adolescente cá de casa afinal tinha razão.
(Se ela ler isto, é bom que saiba que foi uma vez sem exemplo, claro).

Pois é.
E o que aconteceu à professora de matemática com aquela espectacular média de aprovações entre todos os seus alunos?

Pois é.
Não aconteceu rigorosamente nada.

Como é «efectiva» lá na escola, lá continua, ano após ano, a passear impunemente a sua clamorosa incompetência, todos os anos a criar mais uma geração de analfabetos em matemática.

Pois, como o desempenho dos professores não é avaliado, como não está prevista na lei a possibilidade de despedir um professor que é efectivo só pelo “simples motivo” de que os seus alunos chumbam todos eles nos exames, lá continua a professora de matemática na escola bem perto daqui a dar aulas mais este ano.
E lá vai mais um ano, e lá vai mais uma geração de analfabetos em matemática.
Sem que ninguém faça nada.

E quando, talvez pela primeira vez na História deste país, aparece uma ministra que quer acabar com esta rebaldaria, e que pretende implementar um sistema que distinga os competentes dos incompetentes num sector da função pública, os professores não querem.
Sentem-se ofendidos e insultados, dizem, na sua dignidade profissional.

Sob o pretexto de clamarem contra outras medidas da ministra (onde até podiam ter muita razão), metem tudo no mesmo saco e, em vez de considerarem dignificante para a sua classe uma política governamental que a expurgue de uma imensa minoria de incompetentes e de bestas que por lá andam a fazer de conta que são professores e a dar mau nome a uma classe inteira, que bem merecia ser mais prestigiada, deixam-se antes manobrar por Sindicatos que ainda não se aperceberam que o Muro de Berlim já lá não está, e fazem greves sucessivas e manifestações onde vão, pasme-se, mais de 20 mil professores!

Uma aposta que aquela professora de matemática da escola bem perto daqui foi à manifestação.
Afinal, não era a manifestação por sua causa?...


Por isso, não é por demais repetir:
Senhora ministra: por favor não desista!




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