terça-feira, 10 de janeiro de 2006

 

Os Direitos do Fumador



Na última edição do semanário «Expresso», num artigo que intitula «Os Direitos do Fumador», Daniel Oliveira revolta-se contra a mais recentes políticas anti-tabágicas que ganham terreno por esse mundo fora.
E conclui:
«Começa a ser altura de os fumadores exigirem alguns direitos. Os mais básicos de todos: o direito ao respeito pela sua liberdade, pela sua saúde, pela sua carteira e pela sua inteligência».

Depois, Daniel Oliveira propõe com alguma graça aquilo a que chama uma «Carta dos Direitos Fundamentais do Fumador» onde exige «espaços arejados e confortáveis para fumar», onde pede «respeito pelas dependências dos cidadãos», que o tabaco baixe para um preço «justo» e se revolta contra a «linguagem alarmista, moralista e ofensiva» de quem alerta para os riscos do tabaco.

E logo em primeiro lugar proclama:
«Fumar é um direito. A saúde é um bem individual e a forma como cada cidadão a trata apenas a si próprio diz respeito».

Mas o Daniel Oliveira está redondamente enganado: fumar não é um direito!
Nem a saúde é um bem individual, nem a forma como cada cidadão trata de si lhe diz respeito exclusivo!

Parece é que o Daniel Oliveira quer tudo: quer um lugar arejado para fumar em liberdade, quer tabaco baratinho, quer respeito pela sua dependência e no fim... ainda quer que eu lhe pague a operação para lhe extirpar um pulmão minado pelo cancro!
É que a forma como cada cidadão trata da sua saúde nunca lhe dirá respeito exclusivo, enquanto a conta do Hospital for paga pelos impostos dos outros cidadãos.

E não será a saúde de cada um de nós também um pouco pertença dos nossos familiares e amigos e, muito principalmente, dos nossos filhos?
Fumar não será também uma escolha em que cada um deles é diariamente preterido?

Mas o Daniel Oliveira não quer saber disso: quer é que não o chateiem com mensagens «moralistas e ofensivas», enquanto na mesa ao lado do restaurante me atira fumo para cima enquanto eu estou a comer, ou quando se borrifa para a saúde dos colegas de trabalho no “open space”.
Porque o Daniel Oliveira tem as suas prioridades bem definidas e não quer que lhas baralhem com pequenas minudências.
O que quer é ir em paz num carro fechado com os filhos, a entupi-los com fumo durante um engarrafamento interminável, sem ter alguém a chagar-lhe os ouvidos sobre aquilo que está a fazer às crianças.

No seu texto Daniel Oliveira indigna-se profundamente quando um fumador é comparado àquilo a que ele próprio chama «um qualquer alarve sem educação».
Mas quando leio o medo da morte nos olhos de um amigo que fumou desabridamente durante 30 anos e que agora está a fazer quimioterapia, não posso deixar de perguntar:
- E o que é um fumador senão precisamente isso: um alarve sem educação?




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