sexta-feira, 30 de dezembro de 2005

 

UM BOM ANO DE 2006



«Um carabineiro com um martelo de madeira dá-me um forte golpe nos dedos mindinhos de ambas as mãos. A seguir, com um alicate, começa a arrancar-me as unhas.
«Nesse momento entra o sargento, que lhe tira o alicate para o utilizar a arrancar-me o bigode. Em dada altura, como resultado da grande dor e do desespero, consigo morder-lhe a mão, o que faz com que um carabineiro me dê uma coronhada na cara.
«Perco a consciência e, ao despertar, dou-me conta que sangro muito da cabeça, do nariz, da boca, e que me faltam oito dentes. Tinham-mos arrancado com o alicate ou com golpes. Não sei».


«Estava grávida de cinco meses.
«Obrigaram-me a ficar nua e a ter relações sexuais com a promessa de uma pronta libertação.
«Apalparam-me os seios, deram-me choques eléctricos nas costas, na vagina, no ânus.
«Arrancaram-me as unhas dos pés e das mãos. Agrediram-me com bastões de plástico e com a coronha de espingardas. Drogaram-me. Simularam fuzilar-me.
«Deitada no chão, com as pernas abertas, introduziram-me ratos e aranhas na vagina e no ânus. Sentia que era mordida e acordava banhada no meu próprio sangue.
«Conduzida a lugares onde era violada vezes sem conta, chegaram a obrigar-me a engolir o sémen dos violadores.
«Enquanto me agrediam na cabeça, no pescoço, na cintura, obrigavam-me a comer excrementos».


Entre 35.686 testemunhas, estes são apenas dois depoimentos de vítimas de tortura da Junta Militar do Chile durante o regime de Pinochet que voluntariamente se dirigiram à “Comissão Nacional sobre Prisão Política e Tortura”.
Esta comissão foi criada no Chile em 2003 para dar a conhecer em toda a sua extensão, aos chilenos e ao mundo, os horrores praticados pela ditadura militar e pela adopção da tortura e do horror como uma política de Estado no período compreendido entre 1973 e 1990.

Como pode isto acontecer?
Como podem tantos seres humanos praticar actos de uma barbárie indescritível?


Recordo-me da experiência realizada em 1974 por Stanley Milgram, professor de psicologia social na Universidade de Yale, com o objectivo de estudar a «Obediência à Autoridade»:

Entre pessoas comuns (operários, estudantes, secretárias, empresários, lojistas, etc.) foram recrutados voluntários a quem foi atribuído o papel de “professores”.
Esses “professores” foram instruídos a aplicar choques eléctricos de intensidade crescente (de 15 a 450 Volts) num outro indivíduo (que estava amarrado a uma cadeira com eléctrodos numa sala adjacente), e que era designado "estudante".
Os choques seriam administrados todas as vezes que o "estudante" errava uma resposta a um questionário previamente determinado.
Milgram tinha explicado aos "professores" recrutados que o objecto daquele estudo residia precisamente nos efeitos da punição sobre a memória e sobre aprendizagem.

Como é óbvio, o "professor" não sabia que o "estudante" da pesquisa era afinal um actor, que convincentemente interpretava e manifestava desconforto e dor a cada aumento da potência dos “choques eléctricos” que lhe eram infligidos.

O resultado da experiência foi absolutamente perturbador e mais “chocante” que qualquer voltagem aplicada:
Nada menos do que 65% das pessoas envolvidas – os "professores" – chegaram mesmo, e sem qualquer hesitação, a administrar ao "estudante", sob ordens do cientista (que na experiência representava a “autoridade”) os choques mais potentes, dolorosos (de 450 volts) e claramente identificados como perigosos e... potencialmente mortais!

E todos os "professores" - mas todos eles - administraram pelo menos 300 volts!
Em muitos casos houve "professores" que a determinada altura da aplicação dos choques eléctricos se preocuparam com o bem-estar do "estudante" e até perguntaram ao cientista quem se responsabilizaria caso algum dano viesse a ocorrer.
Mas quando o cientista os descansou, afiançando-lhes que assumiria toda e qualquer responsabilidade do que acontecesse e os encorajou a continuar, todos os "professores" persistiram na aplicação dos choques com as voltagens mais elevadas, mesmo enquanto ouviam gritos de dor e súplicas dos “estudantes” para que os parassem.


Já aqui o disse há exactamente um ano (e a actualidade do tema justifica esta repetição):
É esta “obediência”, firmada em primeiro lugar na ausência de um consciência individual, e que é cega a qualquer noção de ética, censura moral ou até à mais básica dignidade humana, que leva às barbaridades praticadas pelos Homens.

Seja em nome de uma ideologia, de uma política e até mesmo de uma religião;
Seja nas ditaduras latino americanas, na União Soviética, na Alemanha de Hitler, ou noutro país qualquer, até mesmo em Portugal.
E que conduz ao Holocausto ou aos Gulags e ao extermínio de milhões de pessoas.
Que conduz a uma Inquisição ou a um terrorismo frio e sem rosto que torturam e matam em nome de Deus.

As ditaduras podem ser instituídas por uma “Junta Militar”, por uma religião, ou por um qualquer punhado de indivíduos que assumiram num país uma tal concentração de poderes que lhes permite a prática impune de tudo o que lhes vem à ideia.

Mas só é possível – sejamos claros – com a complacência, com a cumplicidade de toda a estrutura da sociedade.

De todos nós!

De facto, Stanley Milgram repetiu a sua famosa experiência em mais de uma dezena de outros países, de todos os continentes, sempre com resultados absolutamente idênticos.
Do Chile de Pinochet ao Cambodja de Pol Pot, passando pelo Portugal da Pide e dos Tribunais Plenários, será talvez a “obediência” e a "falta de sentido crítico" que explicam porque motivo pessoas comuns, colocadas em determinadas circunstâncias e sob a influência de uma autoridade, que nem sequer se lembram de questionar, sejam capazes de cometer os crimes mais hediondos.
E é até irónico que virtudes humanas como lealdade, sacrifício próprio, disciplina ou amor ao próximo, e que tanto valorizamos, sejam as mesmas propriedades que criam máquinas destrutivas de guerra, corrupção e morte, e ligam homens e mulheres a sistemas, ideologias e princípios perversos.

Ideologias e princípios, quer políticos quer religiosos que são, ainda hoje, cega e incondicionalmente apoiados e seguidos por tantas e tantas pessoas.


É a este planeta, habitado pelos humanos, que desejo um bom ano de 2006!







 

We don’t know how much time we’ve got.





Who does?...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

 

A Comemoração: cinco anos seguidos sem sexo oral!



Com o ano de 2005 prestes a terminar, teve lugar na Casa Branca uma cerimónia muito especial, destinada a comemorar o evento de há já cinco anos seguidos não haver qualquer espécie de contacto oral-genital no interior daquele histórico edifício.

Durante a cerimónia o presidente George W. Bush declarou:

«Esta administração cumpriu a promessa de devolver a dignidade à Casa Branca; posso assegurar-vos que ninguém – incluindo eu próprio, Dick Cheney, Karl Rove, Scooter Libby ou Condi Rice – receberam ou proporcionaram essa espécie não-natural, depravada e francamente grosseira de acto sexual que, não há muito tempo, desonrou esta casa aos olhos do mundo».

De seguida juntaram-se ao Presidente Bush o líder da maioria republicana do Senado, Bill Frist, e também Tom Delay e, em conjunto, cortaram um bolo de baunilha em forma de um perfeito quadrado, feito especialmente para a ocasião.

Na foto à direita estão o Presidente George Bush e a sua mulher Laura Bush, cujas bocas nunca tocaram os órgãos genitais um do outro.


Pronto!
Eu confesso:
Foi ao site satírico «The Onion» que eu fui gamar este texto.

Mas a intenção é que conta, não é?


quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

 

Satanás vai nu!



Segundo a «I.B.S.», as autoridades policiais de Lake County, no Estado norte-americano da Florida receberam diversas queixas de um homem que andava aos gritos pelas ruas.

Quando os agentes chegaram, depararam com Roy Lee Henson (à esquerda na foto) com as boxers pelos tornozelos e a gritar selvaticamente proclamando ser... Satanás.
Logo que foi abordado, ameaçou e feriu um ajudante do xerife local, acabando por ser preso.

Que este homem precisa de tratamento psiquiátrico urgente é coisa que ninguém que leu esta notícia duvida por um só momento.

Mas a minha dúvida é outra:
Porque será que uma pessoa imbuída de tamanha religiosidade e misticismo só quando os manifesta em voz alta na rua é que passa por não estar boa da cabeça?...


 

O Bolo-Rei







(Gamado ao «Jumento»)


terça-feira, 27 de dezembro de 2005

 

Uma vida «chata»



Segundo o «Washington Post» o Papa Bento XVI declarou no seu discurso de Natal que os homens e as mulheres correm o risco de se tornarem vítimas das suas próprias... realizações intelectuais.

Mesmo ainda antes de ocorrer a sua transmutação em Papa, já o «Rottweiler de Deus» havia anunciado solenemente que «os fiéis são pessoas simples que é preciso proteger dos intelectuais».


É muito curioso como é o próprio Papa quem persiste em tratar o seu rebanho de fiéis e devotos católicos como autênticos atrasados mentais.

E como parece temer aqueles a que chama pejorativamente «intelectuais», e a que estranhamente contrapõe os fiéis da Igreja Católica, como se de figuras opostas e inconciliáveis se tratasse.
Como se ele próprio reconhecesse que um fiel, um crente, não pudesse por natureza ser um intelectual.

Como se receasse que os intelectuais, esses horríveis seres pensantes, «contaminem» os crentes e os obriguem a deixar de ser pessoas simples e naturalmente afastadas de realizações intelectuais.


Já aqui há uns dias, durante a cerimónia comemorativa do 40º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II o Papa Bento XVI tinha denunciado aquilo a que chamou a ideia completamente errada de que levar uma vida virtuosa é uma coisa “chata”.


Tem razão o Papa!
Do alto da sua infalibilidade papal, estas elucubrações do chefe máximo da Igreja Católica são, de facto, brilhantes.

Tanto ele próprio como muitos milhares de outros ilustres religiosos que consagraram a sua vida a Deus e que levam uma vida piedosa e de oração, inteiramente virtuosa e completamente isenta de “pecado”, têm decerto uma vida muito longe de ser considerada “chata”.

Pode ser uma vida completamente inútil, isso sim.
Pode ser uma vida inteira desperdiçada, pateticamente dedicada a bajular e a louvaminhar alguém que não existe.
Pode mesmo ser uma vida «simples».
Pode até ser uma vida totalmente isenta de «realizações intelectuais».

Mas “chata”, não!
Isso ela não é com certeza!



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)



segunda-feira, 26 de dezembro de 2005

 

Músicas de Outros Tempos





sábado, 24 de dezembro de 2005

 

O Natal dos Deuses Cristãos



As primeiras manifestações de religiosidade do Homem relacionavam-se com o culto das forças da natureza e, mais ainda do que de uma explicação divina para uma «vida depois da morte», elas nasceram do temor e da falta de compreensão para os fenómenos naturais, desde o vento à chuva ou aos relâmpagos, até à própria periodicidade dos ciclos solar ou lunar.

É por isso absolutamente normal que o Homem, animista nas suas origens religiosas, fosse também natural – e quase geneticamente – politeísta.
O desenvolvimento e a evolução do Homem vieram ao longo de milhares de anos trazer uma maior complexidade aos seus cultos religiosos. Sempre com uma natureza politeísta.
No entanto, nalgumas civilizações da antiguidade ainda assistimos a tentativas mais ou menos bem sucedidas de unificação de divindades, embora normalmente protagonizadas por sacerdotes ou por governantes mais interessados na unificação e no poder temporal que daí poderia resultar.


O crescente desenvolvimento do cristianismo encontrou no Império Romano uma população de uma profunda religiosidade e, também por isso, uma riquíssima mitologia, com deuses para todos os gostos, feitios e ocasiões.
De tal modo, que em determinada altura o próprio Imperador Constantino (também influenciado pela sua própria mulher, Santa Helena, entretanto convertida) acabou por achar melhor adoptar o sábio princípio: «se não os podes vencer, junta-te a eles».

Sem nunca se ter convertido, Constantino acabou por tolerar o cristianismo e, juntamente com Licínio, o tetrarca Oriental (a quem escassos onze anos mais tarde mandou matar, assim tomando o controle de todo o Império Romano) assinou em 313 o Édito de Milão, que proclamava a independência do Império em relação a quaisquer credos religiosos, fazendo devolver aos cristãos as propriedades e os lugares de culto confiscados.

A partir de então, em todo o Império Romano o cristianismo convive pacificamente com a religião tradicional pagã (no sentido de religião politeísta ou não cristã, embora a designação se aplique também às religiões distintas da judaica, que também beneficiou desta tolerância e convivência pacífica inter-religiosa).

Mas muito havia para esclarecer, explicar e estabelecer nessa nova religião que era o cristianismo.
Até que no ano 325 Constantino convoca o Concílio de Niceia.
Com a presença de mais de 300 bispos (nomeados por líderes religiosos locais e pelo próprio Constantino), o primeiro concílio ecuménico – que marca o início da Igreja Católica – visava antes de mais condenar o «Arianismo», uma heresia que nega a divindade de Jesus Cristo.

O «mistério» da Santíssima Trindade encontra neste concílio as bases da sua fundamentação, com a aprovação pela maioria dos bispos presentes (e não pela sua unanimidade, tendo ficado célebres as perseguições de Constantino aos bispos discordantes) da ideia de que Jesus é da mesma “substância” e da mesma “essência”, isto é, a mesma entidade existente do Pai.
Ou seja, haveria somente um Deus e não dois: a distinção entre o Pai e o Filho está dentro da «unidade divina». O Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é.
O próprio «Credo» de Constantino, saído do Concílio de Niceia, reconhece a divindade de Jesus Cristo, dizendo que o Filho e o Pai são “de uma única substância” e que o Filho é «gerado», (único gerado, ou unigénito), mas não no sentido de «feito».

Desesperado para encontrar uma nova religião de massas através da qual pudesse controlar o povo, é no concílio de Niceia que Constantino molda o cristianismo a seu bel-prazer e ora faz inscrever ora faz abolir da Bíblia os textos e os evangelhos que acha mais apropriados, re-escrevendo-os e adaptando-os às suas políticas e aos seus interesses e depurando-os de contradições entre si.

Foi no Concílio de Niceia que foi decidido quais os evangelhos que tinham sido inspirados pelo Espírito Santo e que, por isso, eram os únicos dignos de figurar na Bíblia, os «evangelhos canónicos», por oposição aos evangelhos indignos dessa honra, conhecidos por «evangelhos apócrifos» ou «gnósticos».
Várias são as versões que contam como se deu a separação entre os evangelhos canónicos e apócrifos:
Há quem diga que, durante o Concílio, estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por si só.
Uma outra versão relata que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram ao chão.
Outra ainda afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba e foi pousando no ombro direito de cada bispo, segredando aos seus ouvidos os evangelhos inspirados.

Depois, e na melhor tradição do costume babilónico da deificação do rei ou do imperador, foi com uma habilidade notável que Constantino aproveitou as festas, os costumes e os princípios pagãos e judaicos, já conhecidos e tradicionais no Império, para os adaptar e criar a doutrina desta nova religião, em progressivo crescimento e implantação popular.
Exemplo paradigmático disso é a festa pagã do Solstício de Inverno, adaptada ao Natal e às comemorações do nascimento de Jesus Cristo.

Esta nova Igreja, a Igreja Católica fundada no Concílio de Niceia («Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica...») está, pois, bem longe de ser a «Igreja Primitiva dos Apóstolos» e, obviamente, não foi fundada por Pedro.
Poderá até dizer-se que o seu primeiro Papa foi Constantino.

Quando morreu, em 337, Constantino foi baptizado e enterrado como um verdadeiro décimo terceiro Apóstolo, e na iconografia eclesiástica, veio a ser representado recebendo a coroa das mão de Deus.

Mais tarde, já com Teodósio, o cristianismo haveria de tornar-se a religião oficial do Império, institucionalizando-se profundamente na sociedade romana e constituindo um polo de união comum a todos os territórios conquistados, surgindo então o profissionalismo religioso e toda uma estrutura teológica e uma casta sacerdotal dominante, que se impunha aos fiéis proclamando de forma rígida e autoritária que «fora da Igreja não há salvação».



Quase dezassete séculos depois do Concílio de Niceia comemora-se uma vez mais o Solstício de Inverno, transformado habilmente por Constantino nas comemorações do nascimento do Deus dos cristãos.

O Concílio de Niceia foi de tal modo primordial para o cristianismo – e para a religião católica em particular – que ainda hoje os seus fundamentos e princípios doutrinais e filosóficos são precisamente os mesmos que foram inventados por Constantino.

Até é precisamente o mesmo o raciocínio e o hábil jogo de palavras que faz passar o cristianismo por... uma religião monoteísta.

De facto, é através de um mero jogo de palavras a que chama um «Mistério», isto é, um dogma que não tem explicação possível, que esta religião persiste em fazer-se passar como «uma das três grandes religiões monoteístas do mundo».

Mas que de monoteísta nada tem!

Só deuses tem três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Podem os mais fiéis defensores do «Mistério da Santíssima Trindade» dizer que estes três deuses são, afinal, um só.
Mas o que é facto é que eu conto três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Quanto ao Deus «Espírito Santo», que à boa maneira cristã é de formulação masculina, sempre se diga ainda que, com a sua atitude típica e persistentemente misógina, os católicos perderam a oportunidade de tornar a sua origem e a sua explicação bem mais interessante.
Poderiam, por exemplo, ter dado mais atenção ao apóstolo Filipe que nos transmitiu no seu evangelho gnóstico, excluído por Constantino da honra de figurar entre os evangelhos canónicos:

«Alguns dizem que Maria concebeu do Espírito Santo.
«Erram, não sabem o que dizem.
«Quando é que uma mulher concebeu de uma mulher?»

A explicação para este aparente contra-senso é bem simples: é que em grego, língua original em que foram escritos os evangelhos e até em copta, o idioma para que foram em primeiro lugar traduzidos antes de transpostos para os idiomas actuais, «Espírito Santo»... é do género feminino!
E assim, com uma simples mudança do género de uma palavra numa tradução, a Igreja Católica perdeu a oportunidade de respeitar a «Santíssima Trindade» na sua formulação original de «Sagrada Família» e de Pai, Mãe e Filho.

A estes três deuses acresce a mãe do Deus Filho.
De tal modo deificada que, tal como Jesus Cristo, e apesar falta de sustentação bíblica para tal, foi feita subir ao Céu em corpo e alma após a sua morte terrena.
E já vão quatro!

De tal forma que, assumindo várias personalidades consoante as regiões geográficas, e multiplicando-se como que para confirmar o politeísmo cristão, a Nossa Senhora de Fátima, ou de Lourdes, ou a Virgem Negra polaca, ou a Virgem de Guadalupe sul-americana, concorrem mesmo com os três principais deuses na devoção dos cristãos.
Diz-se mesmo que o Papa João Paulo II, conhecido como «devoto mariano», mais que aos seus próprios patrões rezava à mãe do Deus Filho.

Depois, aparecem os santos. Que se contam aos milhares!
E que são tão deuses como os outros deuses, pois com eles concorrem na adoração dos fiéis cristãos e como eles são omnipotentes e omnipresentes.

E não é essa a definição de «Deus»?

De tal modo, que em todos os cristãos existe um «santo de devoção», frequentemente corporizado numa imagem ou num ícone, a quem se pede um favor, uma graça, ou «uma cunha» para um emprego, para a cura de uma doença ou para um prémio no Euromilhões.

Foi também com um hábil jogo de palavras que o Segundo Concílio de Niceia (o sétimo Concílio Ecuménico), realizado no ano de 787, distinguiu o que é «adoração» do que é «veneração».
E estipulou que pedinchar uma coisa a um Deus, se chama «adorar»; e que pedinchar a mesma coisa a um santo se chama «venerar».
Embora os resultados previsíveis da pedinchice sejam basicamente os mesmos. ..

Não admira, pois, que os cristãos, com um folclore, uma mitologia e uma iconoclastia tão rica, sejam tão preocupados e cuidadosos a celebrar o Natal.

E se é assim, então, a todos um bom Natal!




(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)



sexta-feira, 23 de dezembro de 2005

 

E agora, minhas Senhoras e meus Senhores:


O Pai Natal!



quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

 

Uma Escolha Consciente



Segundo a «Agência Ecclesia» o Papa Bento XVI decidiu nesta quadra de Natal inspirar-se em Santo Agostinho.

De facto, o Papa elegeu uma exortação de Santo Agostinho para os votos do primeiro Natal do seu pontificado.
Pelo seu próprio punho, o Papa escreveu em latim:
«Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo»
Que é como quem diz: «Desperta, homem: porque, por ti, Deus se fez homem».

Mas quem foi este tal de Santo Agostinho?

Aurelius Augustinus, que viveu entre os anos 354 e 430 foi considerado um «Doutor da Igreja» e deixou uma obra vastíssima entre livros, cartas e sermões.

Sem sermos exaustivos, respiguemos (principalmente da Wikipedia) apenas alguns aspectos da biografia deste brilhante cristão, até para tentarmos compreender de onde vem a admiração que, pelos vistos, por ele sente o Santo Padre, o Papa Bento XVI.

Para já, Santo Agostinho é considerado pelos protestantes evangélicos a fonte teológica inspiradora da Reforma.
Não obstante, este santo homem começou por ser um fervoroso adepto do Maniqueísmo, uma espécie de mistura explosiva de Zoroastro com Jesus Cristo. Só aos 33 anos, sob a nefasta influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão, se converteu ao cristianismo.

Depois era um confesso tarado sexual e, como se não bastasse um irredutível pedófilo.
Enquanto proclamava a sua máxima preferida «dêem-me a castidade, mas por enquanto ainda não», Santo Agostinho manteve por mais de uma década uma concubina de tenra idade, e que lhe deu um filho. Mas que não hesitou em abandonar à sua sorte para fazer um casamento de sociedade.
Uma vez mais teve de esperar dois anos para que a sua noiva tivesse idade legal para casar.

Foi ordenado padre em 391. É nomeado bispo assistente de Hipona cinco anos depois, abandona mais uma mulher e converte-se então ao celibato.
Coincidência ou não, juntou-se com um grupo de amigos, criou uma fundação monástica em Tagaste e fechou-se com eles lá dentro.

Deve-se a Santo Agostinho a adopção oficial pelo cristianismo ocidental da ideia de «pecado original» e também do conceito da «predestinação divina», tão do agrado de tantos teólogos ainda hoje.
Foi também a sua hábil distinção teórica entre «magia» e «milagres» que durante séculos sustentou ideologicamente a luta da Igreja contra o paganismo e a bruxaria.

Santo Agostinho foi também um feroz anti-semita, defendendo a dispersão dos judeus pelo mundo.
Separou habilmente a origem judaica de Jesus Cristo do judaísmo de um modo geral porque, dizia, os judeus não acreditavam que Cristo fosse o Messias.
As suas teorias serviram de base ideológica para inúmeras perseguições a judeus, que considerava irrecuperáveis inimigos da Igreja Cristã.

Mas foi principalmente a sua luta sem quartel contra os Donatistas que mais fama granjeou a Santo Agostinho.
O Donatismo foi uma doutrina religiosa cristã que defendia que os sacramentos só eram válidos se quem os ministrava era digno de o fazer.
Pelo contrário a religião católica defende que os sacramentos valem por si, seja o ministrante (geralmente um sacerdote) um indivíduo corrupto ou não.

É então que este santo homem defende pura e simplesmente o uso da força contra os donatistas e a sua completa aniquilação, dizendo:
«Porque não deveria a Igreja usar da força para compelir seus filhos perdidos a retornar, se os filhos perdidos compelem outros à sua própria destruição?»

Em suma:
É neste homem que o Papa Bento XVI resolveu inspirar-se neste aniversário do nascimento do Deus dos cristãos.
Um homem que além de tarado sexual, pedófilo e anti-semita, defendia o assassinato e a aniquilação física de quem não perfilhava as suas ideias religiosas.

Uma escolha certamente muito consciente.
E que, por isso mesmo, é bem capaz de dizer muito de Bento XVI...



(Publicado simultaneamente no «Diário Ateísta»)


quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

 

Uma Carga de Porrada!



Foi finalmente um Mário Soares dos «bons velhos tempos» que esta noite debateu com Cavaco Silva.

Sabendo que a larga vantagem que Cavaco leva nas sondagens o obrigavam a passar «ao ataque», Mário Soares não se fez rogado: com um sentido político e uma agudeza de espírito que ainda não tinha mostrado nesta campanha, Soares atirou-se a Cavaco Silva como gato a bofe, e deu-lhe «uma carga de porrada» que até fez pena.

Sempre ao ataque, Mário Soares reduziu Cavaco Silva a um manequim da Rua dos Fanqueiros, deixando-o com a boca seca, o ar crispado e a fala titubeante de quem sabia que estava a ser completamente cilindrado.

Até a arrogância e o provincianismo bacoco e retrógrado do funcionário da bomba de gasolina que veio para Lisboa estudar finanças se desmoronaram por completo.

Cavaco Silva ainda tentou falar do crescimento económico espanhol, mas acabou acossado a um canto, sem alento sequer para responder quando Mário Soares insinuou até o seu completo alheamento da cultura e o seu desconhecimento da História de Portugal, e o acusou de nem sequer ter formação política.

Um autêntico massacre!

Neste debate, Cavaco Silva revelou-se, desta vez sem quaisquer dúvidas, um candidato medíocre, um reaccionário sem ideias nem ideais, sem sentido nem projecto político.

Uma vez mais Cavaco demonstrou que não é mais do que um candidato de plástico e artificial, completamente falso e sem chama, e que é conscientemente que tenta enganar o eleitorado que as sondagens dizem que já cativou, graças à sua reputação de construtor de auto-estradas com o dinheiro da União Europeia.
Mas um economista, afinal, incompetente, que só sabe governar com o recurso sistemático a défices gigantescos que deixa para os governos seguintes resolverem.

Um mero robot, que debita banalidades e frases feitas sem qualquer sentido e que, fora da área das finanças, se recusa a esclarecer uma só ideia política, um só projecto de presidência, uma só previsão de actuação num eventual cenário de crise ou em circunstâncias mais extremas.

Uma pessoa que é incapaz de suportar uma crítica, porque «nunca se engana e raramente tem dúvidas», mas que à primeira oportunidade não hesita em trair os amigos e o próprio partido que o suporta, sacrificando-os sem remorso aos seus projectos pessoais.

Como disse Mário Soares no debate é, decerto, «uma candidatura de risco».

Nas próximas eleições presidenciais não sei quantas pessoas vão encolher os ombros e, talvez para não votarem nos outros candidatos, vão votar Cavaco Silva «mesmo assim».
Não sei sequer se este debate mudou ou não, ou decidiu o sentido de voto de muita gente.

Mas uma coisa é certa: decidiu o meu!


terça-feira, 20 de dezembro de 2005

 

Os mais de 2005



Entre tragédias, guerras e desastres naturais, o ano de 2005 trouxe-nos também a sua quota parte de acontecimentos invulgares, revoltantes, tragicómicos, ou simplesmente idiotas.


E que segundo a «Agência France Press» foram, entre muitos outros, os seguintes:


- As autoridades que administram um cemitério perto de Tel Aviv ficaram estupefactas quando encontraram turistas em autêntica romaria para a campa de um jovem soldado britânico de 19 anos, morto em combate há mais de 66 anos.
O nome gravado na pedra tumular é... Harry Potter.

- Um inventor alemão teve a genial ideia de colocar no interior de caixões um telemóvel especialmente adaptado para o efeito, para que os parentes possam falar com as pessoas falecidas sem ter de sair de casa.

- No Japão, a polícia ficou tão preocupada ao saber que um estudante apanhado num acidente de trânsito corria o risco de chegar atrasado a um importante exame, que lhe concedeu uma escolta com sirenes e tudo até à escola. Conseguiram chegar 10 minutos adiantados.

- Um homem e uma mulher que se encontravam presos em celas contíguas na Turquia, fizeram um buraco na parede que as separava e conseguiram manter relações sexuais e conceber mesmo uma criança.
Viram a sua pena agravada em mais quatro meses de prisão por danificarem propriedade pública.

- Alguém ofereceu ao presidente croata Stipe Mesic um quadro que se veio a descobrir mais tarde ter sido roubado de uma exposição de arte local.

- Os funcionários de uma estação de Correios na Alemanha chegaram a pensar que tinham entre mãos uma bomba, quando um pacote começou a vibrar e a fazer ruídos estranhos.
Veio depois a apurar-se que se tratava somente de um brinquedo sexual insuflável.

- Antes de assaltar um banco no Mali, um homem colocou amuletos que acreditava que o faziam invisível.
Foi baleado e preso pela polícia de serviço no banco.

- Uma mancha de infiltração de águas num viaduto de uma auto-estrada perto de Chicago originou uma romaria de fervorosos crentes cristãos que achavam que a dita mancha lembrava a virgem Maria.
Antes de as autoridades pintarem a parede toda de cima a baixo, um artista de graffitis mais ousado ainda teve tempo de escrever por cima da mancha: «Grande Aldrabice».

- Um pastor da Igreja Dinamarquesa que tinha sido suspenso porque não acreditava em Deus, foi autorizado a reintegrar a congregação. O ministro dos assuntos religiosos, que superintende a Igreja Protestante Luterana declarou: «estamos a dar-lhe mais uma oportunidade».

- Um jovem absolutamente mudo que foi encontrado a vaguear numa praia no sul da Inglaterra, foi tido como um misterioso virtuoso do piano e fascinou durante meses os jornais de todo o mundo.
Veio a descobrir-se mais tarde que era um alemão simplesmente à procura de fama, e que nem sequer tocava bem piano.

- Depois de uma violenta discussão sobre dinheiro com a sua mulher, um abastado israelita abriu o cofre da família, tirou o equivalente a 680.000 dólares em notas, e queimou-as no quintal.

- Uma mulher japonesa que pagou o equivalente a 136.000 dólares a um assassino contratado para matar a mulher grávida do seu amante, apresentou queixa à polícia porque o assassino não cumpriu o contrato.

- O ministro alemão da Administração Interna determinou que as pessoas terão de deixar de ser fotografadas a sorrir nas fotos para os documentos de identificação oficiais, porque isso prejudica a tecnologia para o seu reconhecimento biométrico.

- Uma companhia chinesa que se intitulava «Lunar Embassy» enquanto as autoridades não a impediram tentou vender lotes de terreno na Lua.
O seu fundador dizia que não havia nenhuma lei que o impedisse de o fazer.

- Um motorista de taxi de Los Angeles, imigrante do Afeganistão, encontrou no interior do seu carro uma bolsa contendo diamantes no valor de 350.000 dólares.
Imediatamente entregou a bolsa à polícia.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

 

Quem fala assim...



É frequente citarmos as «pérolas» de futebolistas e comentadores desportivos.
É um manancial absolutamente inesgotável!
O treinador do Sporting, Paulo Bento, por exemplo, declarou mesmo há meia dúzia de dias:

«Para mim, o todo é mais importante que a soma das partes»
.
E se assim é, convenhamos, não há nada a dizer!

Mas nos últimos tempos, principalmente quando se ouve tanta gente a falar «do antigamente», talvez devêssemos também recordar muito mais frequentemente as pessoas que corporizaram esses tempos de antanho, e que tão bem se deram a revelar através dos discursos que proferiam.

Até porque esses tempos não estão ainda tão distantes como isso!

Transcrevo abaixo somente algumas das inúmeras «pérolas» proferidas pelo Almirante Américo Tomás que, por mais incrível que isso agora nos pareça, foi durante quase duas décadas Presidente da República de Portugal.

Talvez elas sirvam, antes de mais, para nos recordar o cuidado que devemos ter quando formos votar nas próximas eleições para o Presidente da República...

Aqui vão elas:

«A hora vai demasiadamente adiantada, precisamente porque nós estamos muito atrasados e é por isso que limitarei as minhas palavras às indispensáveis»
«Começo por me congratular com a inauguração deste melhoramento; melhoramento da maior importância para os povos desta região, melhoramento que, evidentemente, não pode comparar-se àqueles que inaugurei faz hoje precisamente um ano».
«Mas as obras, como os homens, não se medem aos palmos e, para esta região, a Ponte da Varela terá certamente mais importância que a ponte da Arrábida».

«A minha boa vontade não tem felizmente limites. Só uma coisa não poderei fazer: o impossível. E tenho verdadeiramente pena de ele não estar ao meu alcance».
(in «Diário de Notícias», 23/6/1964).

«Ao visitar todas as terras de Portugal, embora só tenha nascido numa, parece que, afinal de contas, pelas saudades que todas me deixam, nasci simultaneamente em todas elas».

«O Sr. Prof. Oliveira Salazar, ao longo de mais de trinta anos, é uma vida inteiramente sacrificada em proveito do país, e desconhecendo completamente todos os prazeres da vida, é um homem excepcional que não aparece, infelizmente, ao menos, uma vez em cada século, mas aparece muito raramente ao longo de todos os séculos».
(in «Seara Nova», Maio 1965).

«Foi uma manhã sumamente produtiva, porque numa das cerimónias cumprimos o preceito; e na outra prestámos homenagem de gratidão».

«Neste almoço ouvi vários discursos, que o Governador Civil intitulou de simples brindes. Peço desculpa, mas foram autênticos discursos».
«... com palavras que dirigiu a minha mulher e a mim, pode crer que apreciámos os dois, sumamente.
«Não queremos sequer ponderar se elas foram ou não inteiramente justas; mas como foram inteiramente sentidas, é como se fossem inteiramente justas».
(in «Diário de Notícias», 14/9/1970).

«Pedi desculpa ao Sr. Engº. Machado Vaz por fazer essa rectificação. Mas não havia razão para o fazer porque, na realidade, o Sr. Engº. Machado Vaz referiu-se à altura do início do funcionamento dessa barragem e eu referi-me, afinal, à data da inauguração oficial. Ambas as datas estavam certas.
«E eu peço, agora, desculpa de ter pedido desculpa da outra vez ao Sr. Engº. Machado Vaz».
(in «Seara Nova», Agosto 1972).

«Eu prolongo no tempo esse anseio de V. Exª. e permito-me dizer que o meu anseio é maior ainda. Ele consiste em que, mesmo para além da morte, nós possamos viver eternamente na terra portuguesa, porque se nós, para além da morte, vivermos sempre sobre a terra portuguesa, isso significa que Portugal será eterno, como eterno é o sono da morte».
(in «Diário da Manhã, 24/5/1969).

«É a primeira vez que visito oficialmente Celorico da Beira. Nos meus longos anos de chefia do Estado tenho visitado certamente milhares de terras do nosso país.
«No entanto, algumas não tiveram ainda oportunidade de receber a visita de um Chefe de Estado e esta era uma delas.
«É, pois, não só a minha primeira visita, como a primeira visita de um Chefe de Estado a esta histórica terra .
«E ainda bem que assim foi».
(in «República», 18/11/1972).

«Lembrei que há 4 anos e quase um mês, aqui estive. Voltei hoje em circunstâncias totalmente diferentes.
«O entusiasmo é o mesmo, o desejo de bem servir nunca me abandonou nem abandonará.
«Nesse aspecto, sou digno de elogio; talvez seja o único aspecto em que o mereça».
(in «O Segundo Mandato na Chefia do Estado»)

«Quem me ouviu falar pode supor que tenho espírito de guerreiro. Não, não sou um guerreiro; sou apenas um homem que deseja o bem de Portugal e a verdade é que também, muitas vezes, o bem se consegue através do mal».
(in «Diário de Notícias», 26/6/1970).

«A minha dificuldade reside somente na impossibilidade de compreensão para o que me não é possível compreender».
(in «O Segundo Mandato na Chefia do Estado»).

sábado, 17 de dezembro de 2005

 

Porque será?...




Segundo o «Público», a direcção da Associação de Professores de Português diz-se "perplexa" com a atitude do Ministério da Educação que, seguindo uma recomendação do Conselho Nacional de Educação, decidiu manter a obrigatoriedade do exame nacional àquela disciplina em todos os cursos gerais do 12º ano.



Mas porque será que os professores temem tanto a avaliação do seu desempenho?...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

 

E agora?



Em meados de Novembro o colectivo do Tribunal da Relação de Lisboa que apreciou o recurso do Ministério Público no âmbito do «Processo Casa Pia» decidiu por unanimidade que não havia indícios suficientes para levar Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves a julgamento, mantendo assim o despacho de não-pronúncia da juíza de instrução.

Segundo o «Diário de Notícias» o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa pôs em causa toda a argumentação do Ministério Público, considerando no caso de Paulo Pedroso haver uma «dupla e insanável dúvida» quanto à veracidade das imputações feitas ao arguido e quanto à pretendida inocência deste.

Mas o acórdão da Relação não se limitou simplesmente a considerar que não havia «indícios suficientes de o arguido haver cometido os imputados crimes».

O acórdão foi mais longe:
Pôs em causa os reconhecimentos e os testemunhos, a que chamou «pretendidamente incriminatórios» e classificou as declarações como «falsas, inventadas, contraditórias e delirantes».

E foi muito mais longe ainda:
Concluiu que Paulo Pedroso nunca deveria ter sido arguido neste processo, e muito menos ser nele acusado, e acusou mesmo o Ministério Público de retirar conclusões ilegítimas e de «tentativa de manipulação grosseira de depoimentos».

Estas considerações sobre a actuação do Ministério Público são de uma gravidade incomensurável e mancham e envergonham toda a Justiça portuguesa no seu conjunto.

E agora?

Bem:
Agora Paulo Pedroso vai processar o Estado português e demandar civil e criminalmente todos os intervenientes no processo que o fizeram passar pela afronta de ser acusado do pior e mais abjecto de todos os crimes, e por ter passado cinco meses preso por isso.
E por ter a sua reputação inegavelmente manchada para o resto da sua vida.

Agora Paulo Pedroso acusa publicamente o Procurador Geral da República do Estado português de «faltar aos deveres de isenção imparcialidade» que o cargo lhe deveria merecer.

E é tudo!!!

Porque à boa maneira portuguesa, com a costumeira complacência pela incompetência e pela mediocridade, tudo o resto vai ficar na mesma:

Porque os agentes e os inspectores da Polícia Judiciária que começaram a investigação do caso continuam impunemente nos seus cargos, sem que alguém os questione sobre o bonito trabalho que andaram a fazer ou até mesmo se estão no seu perfeito juízo.

Porque os magistrados do Ministério Público que dirigiram e conduziram do processo continuam tranquilamente nos seus postos, sem que ninguém questione a sua competência e até procure aquilatar da sua responsabilidade e da sua aptidão pessoal para os importantes cargos que desempenham.

Porque o juiz de instrução que no início do processo deu cobertura a tudo isto e até foi à Assembleia da República prender pessoalmente Paulo Pedroso debaixo dos holofotes das televisões (entretanto misteriosamente alertadas para comparecerem em peso no local), continua constitucionalmente irresponsável e isento de avaliação pelo seu desempenho neste caso.

Porque o próprio Procurador Geral da República que, recorde-se, avocou o «Processo Casa Pia» para a sua responsabilidade, continuará, sempre com aquele inocente e singelo sorriso, a desempenhar o seu cargo até ao fim do mandato, misteriosamente protegido pelo próprio Presidente da República, que não permite que o Governo o demita.

Sem ter a dignidade e a hombridade de assumir as suas responsabilidades e de ele próprio se demitir, o Procurador Geral da República continuará tranquilamente a fingir que nada se passou, e a fazer de conta que o acórdão do Tribunal da Relação, que fala em «tentativa de manipulação grosseira de depoimentos», não lhe diz respeito, apesar de ter avocado o processo para a sua responsabilidade pessoal e directa.

Enquanto isso, um simples cidadão tem a ousadia e o autêntico desplante de acusar publicamente o próprio Procurador Geral da República do Estado português de «falta de isenção e imparcialidade» sem que nada lhe aconteça.
Como se o próprio silêncio do Procurador Geral da República lhe desse razão!

Se um país se define em primeiro lugar pelo modo e pelas pessoas que administram a justiça junto dos seus cidadãos, então Portugal está em muito maus lençóis...


quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

 

O Membro Honorário



No dia 15 de Dezembro de 1961 Adolf Eichmann foi condenado à morte por um tribunal israelita, especialmente criado para o julgar.

Adolf Eichmann foi um oficial das SS de alta patente da Alemanha nazi, e durante o Holocausto foi responsável pela logística do extermínio de milhões de pessoas, em especial de judeus.
Ficou por isso conhecido como o «Executor Chefe» do Terceiro Reich.

No fim da Segunda Guerra Mundial, Eichmann foi capturado por tropas americanas. Mas em 1946 conseguiu fugir do campo de prisioneiros onde se encontrava detido.
Com um passaporte diplomático que lhe foi concedido pelo Vaticano, Adolf Eichmann conseguiu fugir para a Argentina, onde viveu mais de uma década sob o nome de Ricardo Klement.

Contudo, a 11 de Maio de 1960 um equipa de agentes secretos israelitas conseguiu raptá-lo, e clandestinamente levou-o para Israel num voo de um avião da «El Al».

Eichmann foi julgado em Israel, acusado de crimes contra a Humanidade e contra o povo judeu, alegando sempre que cumpria ordens.
Foi condenado à morte e enforcado poucos minutos depois da meia noite do dia 1 de Junho de 1962.

No final do julgamento Adolf Eichmann proferiu o seguinte agradecimento:

«É com profunda gratidão que recordo a ajuda da Igreja Católica e de muitos padres católicos na minha fuga da Europa. Por isso, e em honra da fé católica, decidi tornar-me seu membro honorário».


quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

 

Olhó Robot



Precedido por uma imagem de competência tecnocrática que tão pacientemente soube cultivar nos últimos 10 anos, Aníbal Cavaco Silva apareceu na pré-campanha para as eleições presidenciais agraciado nas sondagens com uma confortável vantagem sobre todos os restantes candidatos.

A falta de comparência de um oponente que verdadeiramente lhe pudesse fazer frente, a novela da candidatura de Manuel Alegre e um Mário Soares requentado e já sem chama prenunciam-lhe agora uma vitória já à primeira volta.

Conhecedores, como é óbvio, desta vantagem, Cavaco Silva e os seus estrategas de campanha sabem muito bem que, se a percentagem das intenções de voto que as sondagens lhe atribuem dificilmente poderá subir, ela pode muito bem descer ao mínimo erro ou ao mais pequeno passo em falso.
Devem estar mesmo a rezar desesperadamente para que a campanha eleitoral passe depressa e que chegue já o dias das eleições, para que toda esta ansiedade termine de uma vez por todas.
Nem sequer o deixam comer bolo-rei!

É assim que temos assistido a um Cavaco Silva que se apresenta nesta campanha eleitoral incompreensivelmente crispado, nervoso e titubeante, com um discurso artificial e visivelmente ensaiado até ao mínimo pormenor.
E que, como um autêntico “robot”, debita mecanicamente frases feitas.

Sem sequer conseguir disfarçar o tédio, o enfado e a autêntica sensação de inutilidade que a campanha eleitoral inquestionavelmente lhe causa.
Ao mesmo tempo, e procurando capitalizar a sua reputação, deriva invariavelmente para a área económica todas e quaisquer questões que lhe são postas pelos jornalistas: ora preconizando a estabilidade governamental, ora defendendo a necessidade de uma contenção orçamental, enquanto faz de conta que se esqueceu que o «monstro do défice» se deve em grande parte a si próprio.

Decerto para não se enganar, já que dúvidas decerto não terá, Cavaco Silva não respondeu ainda a uma única das questões que lhe foram colocadas fora das áreas da economia e das finanças.

Se lhe perguntam se vetaria politicamente uma determinada lei laboral ou qualquer outro diploma mais ou menos inovador ou polémico que lhe fosse submetido para promulgação, Cavaco pura e simplesmente... recusa-se a responder!

O que é perfeitamente natural, pois Cavaco Silva bem sabe que enquanto se mantiver calado não diz asneiras: toda a gente sabe que em boca fechada não entram moscas.
Ainda que isso seja, de facto, muito pouco dignificante para quem se prenuncia como o próximo Presidente da República.

O que já não é tão natural é que tanta gente tencione votar em Cavaco Silva absolutamente no escuro, esquecendo o autoritarismo, a arrogância, o provincianismo bacoco e o completo autismo político dos tempos dos seus governos e, afinal, sem fazer a mínima ideia de quem é este homem, o que ele pensa, ou o que ele fará em circunstâncias extremas se eventualmente vier a ser eleito Presidente da República.

O que, convenhamos, é muito pouco dignificante para um cidadão eleitor.
E também para a própria Democracia.


segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

 

As Horas de Maria



Foi já no distante ano de 1978 que estreou no cinema «Nimas» em Lisboa o filme «As Horas de Maria», com argumento e realização de António de Macedo.

O argumento do filme parece-me hoje até um bocado ingénuo.
Mas recordo que foi muitíssimo acesa a polémica que o filme levantou naquela época, com muito boa gente a defender a sua pura e simples proibição, e a querer traçar ali mesmo os limites para a liberdade de expressão em Portugal.

O argumento andava à volta de uma jovem cega, Maria, que é supostamente violada pelo padrasto e é internada em isolamento num hospício.
Sob a apertada vigilância de um médico impotente e de uma tia freira católica, de um fanatismo exacerbado, Maria vive as suas horas completamente obcecada à espera de um milagre de Nossa Senhora de Fátima que nunca chega.

Muitas imagens bíblicas e uma interpretação muito própria da vida de Jesus Cristo, cuja ressurreição, por exemplo, é atribuída a um irmão gémeo que entra em cena após a sua morte na cruz, foram suficientes para a polémica e para a autêntica ira que varreu as hostes católicas portuguesas.

O realizador foi insistentemente perseguido, e um dos membros da equipa de cineastas foi mesmo espancado violentamente na rua.

Confesso que foi precisamente esta polémica que me fez na ocasião ir ao «Nimas» ver o filme.
E por isso tive oportunidade de viver a sensação única de, depois do filme acabar, ter de sair de uma sala de cinema sob a protecção de uma escolta policial!

Porque durante todo o tempo em que o filme esteve em exibição, havia invariavelmente algumas dezenas de entusiasmados militantes católicos que em frente ao cinema, e da placa central da Avenida 5 de Outubro, por entre ladainhas e terços que rezavam pela conversão dos infiéis espectadores (e como se isso não bastasse), ainda os insultavam até à 3ª geração e os apedrejavam com paralelepípedos que arrancavam dos passeios.

Enfim:
Mais um bom exemplo do que é na realidade a tolerância católica e de como é interpretado e levado à prática pelos mais fiéis militantes da Igreja Católica Apostólica Romana o amor ao próximo como mandamento divino.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2005

 

I have something to say:




It’s better to burn out, than to fade away!!!


 

As Aparências Iludem



Às vezes nem tudo é o que parece!


Clique nesta imagem para ver se é ou não daquele tipo de pessoas que tira conclusões ou faz julgamentos precipitados sobre as primeiras coisas que lhe aparecem à frente.

Mais fotos -> AQUI


quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

 

A Luta Pelo Casamento



«A Luta Pelo Casamento» é o título de um artigo publicado na edição de hoje no «Jornal de Notícias» que fala das mais recentes iniciativas que procuram promover o debate sobre o tema do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal, e visam a declaração de inconstitucionalidade da norma do artigo 1.577º do Código Civil, que restringe a celebração do casamento civil unicamente a pessoas e sexo diferente.

A vertente jurídica deste tema já aqui foi explicada no «Random Precision», bem como a iniciativa conjunta com o «Renas e Veados», no post intitulado «Em Busca da Legalidade Perdida».

O artigo dá ainda conta da iniciativa da «ILGA Portugal» de recolha de 4.000 assinaturas necessárias à apresentação de uma petição que garanta o debate deste tema em plenário da Assembleia da República.

Finalmente, com o subtítulo «Advogado apadrinha casal gay», o artigo do «Jornal de Notícias» fala aqui deste vosso amigo!


Uma coisa é certa: com o fim da homofobia anacrónica que até agora o tem impedido, a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo será mais tarde ou mais cedo uma realidade em Portugal.
Tal como já o é em tantos países por esse mundo fora.

Mas, e como é costume em todas as iniciativas susceptíveis de causar alguma polémica no nosso país, também a eliminação definitiva da inconstitucionalidade da norma do Código Civil só está neste momento dependente de uma coisa: da vontade dos deputados da Assembleia da República e da sua coragem para, num sentido ou noutro, se comprometerem politicamente com este assunto.


terça-feira, 6 de dezembro de 2005

 

Uma Dívida de Gratidão



Naqueles longínquos anos 80 o Prof. Aníbal Cavaco Silva era docente na Universidade Nova de Lisboa.
Mas o prestígio académico e político que entretanto granjeara (recorde-se que havia já sido ministro das Finanças do 1º Governo da A.D.) cedo levaram a que fosse igualmente convidado para dar aulas na Universidade Católica.

Ora, embora esta acumulação de funções muito certamente nunca lhe tivesse suscitado dúvidas ou sequer provocado quaisquer enganos, o que é facto é que, pelos vistos, ela se revelou excessivamente onerosa para o Prof. Cavaco Silva.

Como é natural, as faltas às aulas – obviamente às aulas da Universidade Nova – começaram a suceder-se a um ritmo cada vez mais intolerável para os órgãos directivos da Universidade.
A tal ponto que não restou outra alternativa ao Reitor da Universidade Nova, na ocasião o Prof. Alfredo de Sousa, que não instaurar ao Prof. Aníbal Cavaco Silva um processo disciplinar conducente ao seu despedimento por acumulação de faltas injustificadas.

Instruído o processo disciplinar na Universidade Nova, foi o mesmo devidamente encaminhado para o Ministério da Educação a quem, como é bom de ver, competia uma decisão definitiva sobre o assunto.

Na ocasião era ministro da Educação o Prof. João de Deus Pinheiro.

Ora, o que é facto é que o processo disciplinar instaurado ao Prof. Aníbal Cavaco Silva, e que conduziria provavelmente ao seu despedimento do cargo de docente da Universidade Nova, foi andando aos tropeções, de serviço em serviço e de corredor em corredor, pelos confins do Ministério da Educação.

Até que, ninguém sabe bem como nem porquê... desapareceu sem deixar rasto...
E até ao dia de hoje nunca mais apareceu.

Dos intervenientes desta história, com um final comprovadamente tão feliz, sabe-se que entretanto o Prof. Cavaco Silva foi nomeado Primeiro-ministro.

E sabe-se também que o Prof. João de Deus Pinheiro veio mais tarde a ser nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros de um dos Governos do Prof. Cavaco Silva, sem que tivesse constituído impedimento a tal nomeação o seu anterior desempenho, tido geralmente como medíocre, à frente do Ministério da Educação.

Do mesmo modo, o seu desempenho como ministro dos Negócios Estrangeiros, pejado de erros e sucessivas “gaffes”, a tal ponto de ser ultrapassado em competência e protagonismo por um dos seus jovens secretários de Estado, de nome José Manuel Durão Barroso, não constituiu impedimento para que o Primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva viesse mais tarde a guindar João de Deus Pinheiro para o cargo de Comissário Europeu.

De qualquer modo, e como é bom de ver, também não foi o desempenho do Prof. João de Deus Pinheiro como Comissário Europeu, sempre pejado de incidentes e críticas, e de quem se dizia que andava por Bruxelas a jogar golfe e pouco mais, que impediu mais tarde o Primeiro-ministro Cavaco Silva de o reconduzir no cargo.

A amizade é, de facto, uma coisa muito bonita...


segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

 

O Fiasco Judiciário



Segundo o «Público» da passada sexta-feira, (sem link disponível para este artigo) o Supremo Tribunal de Paris ilibou totalmente de todas as acusações os últimos seis arguidos de um «mega-processo» de pedofilia francês, tal como havia já feito no ano passado com outros sete acusados do mesmo processo.

Este caso já é considerado o maior fiasco judiciário francês de todos os tempos.

De tal forma que o Primeiro-ministro francês Dominique de Villepin vai receber pessoalmente todos os acusados, enquanto o ministro da Justiça Pascal Clément lhes pediu formalmente desculpa em nome de toda a instituição judiciária, e anunciou que lhes vai atribuir avultadas indemnizações financeiras.

Mas, para muitos destes acusados nenhuma compensação será alguma vez possível: todos foram desacreditados e vilipendiados em toda a sociedade francesa, perderam os seus empregos, tiveram de vender as suas casas e viram os seus filhos menores entregues a orfanatos.
Um deles suicidou-se na prisão.

Todo este caso começou em 2000 com uma «simples» denúncia de incesto e pedofilia feita pelos serviços sociais de Outreau, uma pequena vila do Norte de França.
Dois casais provenientes de um meio de grande miséria material e cultural são então presos e condenados.

Mas a mulher de um destes casais, Myriam Delay, mais tarde reconhecida como mitómana, aparentemente não quis ir sozinha para a prisão.
Ou talvez pensasse (o que é muito mais comum do que se poderia supor) que sairia beneficiada do caso se procurasse dividir com mais pessoas a sua culpa.
Foi então que começou a denunciar a torto e a direito as mais variadas pessoas, mais ou menos conhecidas e públicas na sociedade francesa, inventando a sua participação numa rede de clientes e de prostituição de menores.
O caso depressa passa para as primeiras páginas dos jornais num escândalo trágico, feito de mentiras e falsidades sem precedentes.

Mas, com um Ministério Público de uma inqualificável inépcia e deslumbrado com a mediatização do caso, com uma Polícia Judiciária confundida com a dimensão do caso Dutroux (pouco tempo antes descoberto na Bélgica) e, ainda por cima, com um Juiz de Instrução totalmente inexperiente e incompreensivelmente incompetente, imediatamente são presas 17 pessoas, arrastadas para esta lama putrefacta de que nunca mais sairão, por muitas indemnizações que recebam.

A incompetência de todas as instituições judiciárias foi de tal ordem e de tal dimensão, que foi o próprio procurador do Ministério Público que agora interveio no Supremo Tribunal francês quem pediu aos jurados que inocentassem os acusados «com humildade e humanidade», dizendo que «este caso é um mil-folhas de pequenos erros, de maus funcionamentos, de faltas de atenção». E ainda que «ninguém terá tido sentido crítico para parar a engrenagem».

Num acto sem precedentes, os advogados dos arguidos renunciaram mesmo a fazer as alegações da defesa.
Quando o júri leu a sentença de ilibação, os seis homens e mulheres acusados aplaudiram em uníssono.
E, a seguir, todos começaram a chorar.


São inegavelmente perturbadoras as semelhanças deste caso com o processo de pedofilia mais mediático de Portugal, vulgarmente conhecido como o «Processo Casa Pia».

De todos os acusados neste processo, não se sabe ainda quem é verdadeiramente culpado ou inocente.
E provavelmente nunca se saberá, qualquer que seja o veredicto que venha a ser proferido sobre cada um dos arguidos. O que só por si, se virmos bem, abona muito pouco em favor da Justiça portuguesa.

Por isso mesmo, seria bom que todas as autoridades judiciárias portuguesas retirassem as devidas ilações deste chocante caso francês.
E procurassem, antes de mais, apurar a verdadeira competência de todos quantos já tiveram intervenção no caso português.
Todos: dos agentes da Judiciária, aos procuradores dos Ministério Público, aos juizes de Instrução.

Mas, muito sinceramente, e recorrendo às palavras do Procurador francês, parece-me que de todos os intervenientes no caso muito poucos, de facto, me parecem «possuir sentido crítico para parar a engrenagem».


sábado, 3 de dezembro de 2005

 

Troca por Troca



Um grupo ateísta da Universidade de San Antonio no Texas, denominado «Atheist Agenda», resolveu levar a cabo uma iniciativa de troca de Bíblias, e também de outros escritos e artigos de natureza religiosa, por revistas e artigos pornográficos.




Atendendo à similitude e à natureza dos artigos cuja troca é proposta, trata-se, de facto, de uma notável iniciativa de civismo e cidadania, que deveria até ser encorajada e apoiada com financiamentos governamentais por esse mundo fora.

Um exemplo a seguir!


sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

 

Small World


Durante mais de 30 anos a Nikon tem vindo a premiar e a recompensar os melhores «micro-fotógrafos» de todo o mundo, não só pela espectacularidade das fotos mas também pela sua contribuição para inúmeras descobertas científicas de grande importância.

O primeiro prémio deste ano foi atribuído a esta foto (de Charles B. Krebs, dos Estados Unidos), que representa uma mosca doméstica:




As restantes fotografias premiadas, igualmente espectaculares, podem ser vistas -> AQUI.


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