sexta-feira, 30 de setembro de 2005

 

Nada de errado!



«A minha mãe sempre me disse que era muito simples contentar um homem: tens de ser uma criada na sala, uma cozinheira na cozinha e uma puta na cama. Cá para mim, vou contratar quem me trate das duas primeiras, que eu cá resolvo aquela parte da cama».



É o «Times Online» quem faz esta citação de Jerry Hall, a famosa modelo e ex-mulher de Mick Jagger, a propósito de uma sondagem que revela que uma em cada dez mulheres britânicas admitiu que perdeu completamente o interesse pelo sexo durante pelo menos seis meses do último ano, e até que 4% das mulheres inquiridas nem sequer conseguiam atingir o orgasmo.

Contudo, quer os homens quer também as mulheres tendem a sofrer igualmente em silêncio quando padecem de problemas do foro sexual, como a perda da libido, ejaculação precoce ou disfunção eréctil.


Mas mais: o estudo revelou que mais até do que as mulheres ou os homens solteiros, são precisamente as mulheres casadas quem se apresentaram mais atingidas por problemas sexuais.

Mas o estudo revelou também que o interesse sexual da mulher se reduz drasticamente quando existem em casa crianças pequenas para cuidar ou tarefas profissionais complicadas a desempenhar, e que são os casais que têm relações sexuais menos de uma vez por semana, em média, que estão mais sujeitos a revelar problemas sexuais, quer a curto quer a longo prazo.


Moral da história:
este estudo demonstra bem que, afinal, não existe nada de errado com as mulheres no que respeita a sexo.
É tudo más línguas!


quinta-feira, 29 de setembro de 2005

 

«I eat babies to stay young»



De acordo com o site noticioso «Local6.Com», ocorreu um repugnante caso de vandalismo numa igreja católica da cidade de Sharpes, na Flórida.

A polícia local anda agora à procura de quem resolveu escrever nos placards da igreja com tinta de spray a seguinte mensagem: «I eat babies to stay young», qualquer coisa como «Eu como bebés para continuar jovem».


Lula St. Jean, a secretária da igreja, declarou-se indignada com a mensagem e interrogou-se sobre o seu verdadeiro significado.
Já um destacado membro da congregação, Frank Monachello, manifestou-se «desanimado» e declarou: «Estou desanimado, realmente desanimado; Isto não me faz ficar furioso, faz-me ficar desanimado que pessoas façam algo como isto. Isto não devia acontecer».

Os piedosos simpatizantes desta igreja têm razão para estar indignados com o vandalismo da mensagem, dirigida obviamente a relembrar os escândalos de pedofilia que têm nos últimos anos envolvido inúmeros membros do clero católico, sob a complacência e até com o encobrimento do Vaticano.


De facto, é uma flagrante injustiça pensar que os padres católicos que, embora acusados de crimes de pedofilia, não deixam de ser pessoas, apesar de tudo, normalmente dotadas de alguma instrução, se tenham dedicado a «comer» crianças só porque queriam... permanecer jovens...

terça-feira, 27 de setembro de 2005

 

A Tourada à Portuguesa



Ao toque de uma corneta, deu-se início à função.

A multidão adivinha um bom espectáculo. Até a televisão pública está ali a transmitir em directo.
A «Festa Brava» vai começar!

Fizeram entrar na arena um touro de cornos embolados.
Assustado, o animal ainda deu umas corridas, meio estonteado com toda aquela parafernália de gente e de luz. Depois encostou-se resolutamente às tábuas.


Não havia outro remédio: entrou na arena um homem que trazia na mão uma longa vara que terminava numa ponta de ferro afiada, montado num cavalo protegido lateralmente por uma espécie de esteira.

Foi então que esse homem, o «picador» fazendo jus ao nome da sua profissão, começou a picar o touro com a longa vara. Dizem que é para o «espicaçar» e para o tornar mais «esperto» e bravo.

Contorcendo-se de dor e procurando defender-se, o touro investiu violentamente contra o cavalo. A princípio, a protecção da esteira foi eficaz a protegê-lo.
Mas uma cornada mais bem dirigida abriu-lhe um profundo golpe na barriga.
A multidão entrou em delírio à vista do cavalo a sair da arena a tropeçar nos seus próprios intestinos que arrastavam pelo chão: tínhamos touro!


Mas, como mais vale prevenir que remediar, o touro já vem «preparado» para a arena: tem bolas de algodão enfiadas nas narinas, para impedir que respire facilmente, tem os cornos revirados à força para baixo, o que diminui a perigosidade para o toureiro e perturba o sentido de equilíbrio e de direcção do animal

Depois, entra um cavaleiro vestido num espectacular «traje de luces». Vão-lhe dando uns paus compridos, decorados com umas fitinhas de papel de cores garridas, dotados de uma ponta em ferro em forma de seta, o que impede a sua saída depois de espetado.

Resguardado pela sua montada, começa então o valente e garboso cavaleiro uma dança à volta do touro e, de cada vez que acha mais ou menos apropriado, espeta-lhe um daqueles ferros nas costas.
De cada vez que um ferro é espetado no animal, a multidão entra em delírio e aplaude entusiasticamente. Principalmente quando o touro se contorce com dor.

Não há touros de morte em Portugal.
A não ser, claro, que alguém entenda que a sua terra é uma excepção. Então basta desafiar o poder político durante meia dúzia de anos, e o direito a matar touros é «excepcionalmente» garantido.

Então, como em Espanha, a população depois do ritual dos ferros nas costas do touro, ganha o direito a ver o animal a ser morto na arena à sua frente. Faz ainda parte da celebração da morte do touro o corte ritual das orelhas e do rabo, sempre sob o aplauso entusiástico do público.


Os «aficcionados», como a si próprios se chamam, partilham entre si uma espécie de mística e uma sobranceria que os traz convencidos que gostar de touradas os torna superiores ao comum dos mortais.
Em vez de «touro» preferem o termo «toiro» e são frequentemente dotados de um «marialvismo fadista» e de uma fervorosa e fanática religiosidade, que conciliam perfeitamente com uma homofobia militante, o que até os leva a fazer de conta que os trajes dos toureiros não são efeminados.

Os adeptos das touradas dizem que é função nobre do touro e uma «honra» para o animal «combater» e ser lidado numa arena.
Não sei se algum deles alguma vez pediu a opinião do touro, ou até se prontificou a ser voluntário em tão nobre destino.

Dizem também que é graças às touradas que os touros não estão já extintos como espécie.
Também não sei se se preparam para realizar campanhas contra a extinção do panda ou do tigre promovendo espectáculos públicos em que lhes espetam ferros nas costas.


Não sei quando serão proibidas as touradas.
Decerto um dia o serão.

Mas talvez a solução definitiva para as touradas esteja numa rigorosa avaliação psicológica – e até mesmo psiquiátrica – não só de quem se dedica profissionalmente à tortura de animais e a espetar-lhes ferros afiados nas costas, mas também de quem se diverte a assistir e aplaude tão triste e lamentável espectáculo.


sábado, 24 de setembro de 2005

 

A Expulsão



Segundo a «Associated Press», Shay Clark, uma menina de 14 anos foi expulsa de uma escola religiosa cristã de Ontário, uma escola que se afirma «cristã e católica», porque a sua mãe é lésbica e vive com outra mulher há já 22 anos.

De acordo com a carta que o director da escola enviou, a família da criança não se enquadrava na política de admissão da escola, que exige que nenhum dos progenitores tenha «práticas imorais ou inconsistentes com um estilo positivo de vida cristão, como sejam a coabitação sem casamento ou uma relação homossexual».

Não cessa de me surpreender o modo como as escolas religiosas, e as católicas em particular, adoptam critérios de selecção que baseiam numa moral que pretendem impor às outras pessoas, sem se preocuparem que consequências e traumas poderão advir para esta criança, que afinal não tem culpa nenhuma, com a expulsão de que foi alvo.


Mas, apesar de tudo, é um critério que não deixa de ser curioso: é que nunca vi nenhuma escola católica expulsar uma criança sob a acusação de que um dos seus pais é pedófilo.
Talvez, quem sabe, por questões de afinidade...

sexta-feira, 23 de setembro de 2005

 

C4P4C1D4D3 CER38RAL P4R4 D35COD1F1C4R




M473M471C0 (53N54C1ON4L):


4S V3235 3U 4C0RD0 M310 M473M471C0.
D31X0 70D4 4 4857R4Ç40 N47UR4L D3 L4D0
3 P0NH0- M3 4 P3N54R 3M NUM3R05,
C0M0 53 F0553 UM4 P35504 R4C10N4L.
540 5373 D1550, N0V3 D4QU1L0...
QU1N23 PR45 0NZ3...
7R323N705 6R4M45 D3 PR35UNT0...
M45 L060 C410 N4 R34L
3 C0M3Ç0 4 F423R V3R505
H1NDU-4R481C05



(R3C381D0 POR 3M41L)

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

 

O Regresso Triunfal



No meio de um triunfal aparato mediático e em grande apoteose por umas centenas de basbaques que a esperavam, Fátima Felgueiras regressou a Portugal.

Imediatamente, e ainda no aeroporto, apresentou-se às autoridades e pediu para ser detida.
Conduzida ao Tribunal de Felgueiras, a arguida do mesmo nome viu ser-lhe revogada a medida de coacção de prisão preventiva, saindo logo em liberdade.
Para somente duas horas mais tarde anunciar formalmente a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal.

O exílio forçado de Fátima Felgueiras começou logo após ter conseguido misteriosamente saber, e com a conveniente antecedência, a decisão do Tribunal da Relação de Guimarães que confirmou a ordem da sua prisão, o que lhe permitiu escapulir-se a tempo para o Brasil.

Dois anos depois, pôde agora invocar que nenhum fundamento existe já para que se mantenha decretada a sua prisão preventiva: não existe perigo de perturbação do inquérito, porque o inquérito terminou já; não existe perigo de continuação da actividade criminosa, porque renunciou já ao cargo de presidente da Câmara; e, finalmente, não existe já perigo de fuga pois, como está bom de ver, apresentou-se voluntariamente às autoridades.

E tudo isto com o argumento de reserva de que, como candidata a uma eleição autárquica está legalmente vedada a sua prisão preventiva.
Um «trunfo» que até nem foi preciso utilizar.

Absolutamente brilhante!

Mas é tão brilhante como é desprestigiante para a Justiça portuguesa, que assim se mostra vulnerável a estas manobras habilidosas e permite que uma arguida num processo crime escape a dois anos de prisão preventiva e regresse depois em triunfo, para ver a sua ordem de prisão ser-lhe revogada pelo mesmo tribunal que a tinha anteriormente decretado.

Mas é esta mesma Justiça que continuará desprestigiada enquanto não conseguir explicar a dualidade de critérios que levou a que fosse decretada a prisão preventiva de Fátima Felgueiras ao mesmo tempo que, acusados basicamente pelos mesmos factos, acha muito bem que Isaltino Morais, Valentim Loureiro, Isabel Damasceno e até mesmo Avelino Ferreira Torres continuem em liberdade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

 

A ajuda de Deus





À medida que se vai conhecendo a verdadeira dimensão das consequências do furacão «Katrina» que assolou o Sul dos Estados Unidos e, com particular violência a cidade de Nova Orleans, também se vai revelando a incomensurável incompetência da administração Bush para lidar com catástrofes de grandes dimensões.


Mas George W. Bush encontrou a receita ideal para se descartar de responsabilidades e fazer esquecer as nomeações de amigos e companheiros de evangelismo incompetentes para lugares de grande responsabilidade nos serviços da protecção civil americana: virou-se para Deus!


Foi com toda a certeza na busca da pureza divina que George W. Bush começou já a desviar os recursos financeiros e humanos dos serviços federais de segurança de luta contra o terrorismo para o combate a um novo flagelo, pelos vistos muito mais importante para a segurança da humanidade, que é... a pornografia.

Mas já há muito que o presidente norte americano tinha passado a referir-se em todos os seus discursos, com um registo cada vez mais místico e esotérico, à força que a sua fé lhe proporciona e à sua humildade e pequenez perante Deus.

Para apaziguar os críticos da inépcia do seu governo, Bush vai comparecendo a sucessivos serviços religiosos onde despudoradamente sacode a água do capote e passa a responsabilidade para quem tem as costas largas e não se pode defender:
«Peço o conforto de Deus para os homens e mulheres que tanto sofreram e rezo a Deus para que os desaparecidos encontrem um caminho seguro de regresso e para que os que morreram encontrem o repouso sagrado»

«Peço a ajuda do Todo-Poderoso para o difícil trabalho que temos pela frente».


É bem revelador da indignidade e do carácter de uma pessoa o seu persistente amesquinhamento e menosprezo perante uma divindade qualquer.

Mas já é muito preocupante que um chefe de Estado, o homem mais poderoso do planeta, que tem na sua disponibilidade invadir este ou aquele país sem prestar sequer contas à comunidade internacional, invoque a ajuda divina para a resolução dos problemas do seu país como se isso o libertasse da sua responsabilidade ou das consequências dos seus actos.

Porque, como nos ensina a História dos homens, todos os governantes que invocam a ajuda divina acabam mais tarde ou mais cedo por deixar de prestar contas à sua própria consciência para passarem a tornar-se reféns de um guru qualquer que acreditam ser o portador da «palavra de Deus».

segunda-feira, 19 de setembro de 2005

 

A Mulher de César



aqui no «Random Precision» falei uma vez deste assunto.

No entanto, a época de campanha eleitoral para as eleições autárquicas volta a conferir-lhe inequívoca actualidade, até pela persistente falta de esclarecimento que, apesar da sua extrema gravidade, o mesmo tem merecido por parte das pessoas directa ou indirectamente visadas.

De facto, continuo esperançado e ansiosamente à espera de um qualquer desmentido, ou até de um simples e mero esclarecimento – por pequeno que seja – à notícia do “Expresso” de 25 de Outubro de 2003.
Segundo aquele semanário, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, assinou o despacho de autorização para o 3º loteamento do empreendimento «Belas Clube de Campo», propriedade do empresário André Jordan.
Este loteamento prevê a construção de 1600 novos fogos naquela urbanização, para além dos que já estavam previstos no projecto de loteamento inicial.

Acontece que, decerto por simples e mero acaso, este número de fogos constitui, nada mais nada menos, do que o triplo do que está actualmente previsto na lei do Plano Director Municipal de Sintra (PDM).
Para além disso o PDM permite somente uma densidade de 10 habitantes por hectare, enquanto a nova autorização de Fernando Seara permite agora uma densidade de 34,9 habitantes por hectare.
Isto sem falar do “pequeno problema” que decorre do facto de que o loteamento se situa dentro do corredor previsto para o IC-16.

Confrontado pelo “Expresso” com esta situação, Fernando Seara declarou que não queria adiantar quaisquer pormenores sobre o conteúdo do despacho ou das condições da sua assinatura, remetendo «para mais tarde» os esclarecimentos necessários.
Até agora, não vi esclarecimento nenhum.

Refira-se ainda a talhe de foice que a aprovação camarária só foi possível porque mereceu a aprovação da CDU, que assim se aliou à coligação PSD-PP que preside actualmente aos destinos da autarquia.
Ainda que Lino Paulo, o histórico vereador comunista na Câmara de Sintra, se tenha imediatamente demitido em discordância com esta posição do seu partido.


Estes são os factos relatados pelo “Expresso”, que aqui reproduzo sem quaisquer comentários ou juízos de valor, porque não conheço mais pormenores do caso.

Não me passa pela cabeça pôr aqui em causa a honorabilidade de Fernando Seara, quer como simples cidadão quer como Presidente da Câmara Municipal de Sintra. Nem sequer quero fazer qualquer tipo de insinuação ou ironia sobre o assunto.
Com a honra de uma pessoa não se brinca.

Mas também é verdade que a gravidade deste caso e a delicadeza política de que se reveste há muito deveriam ter merecido um esclarecimento e a sua definitiva clarificação legal e política.
Porque, como é óbvio, não basta que a actuação do executivo municipal de Sintra e de todos os seus vereadores e presidente seja séria.
Ela tem também de o parecer!

E acontece que esta não parece!!!

Por isso, e enquanto aguardo os esclarecimentos que se impõem, resta-me aqui somente desejar as maiores felicidades ao empresário André Jordan, e esperar que este desfrute o melhor possível dos 40 ou 50 milhões de contos de lucro que, no mínimo, esta autorização camarária lhe deverá proporcionar.


sexta-feira, 16 de setembro de 2005

 

Um Mundo de Faz-de-Conta



Depois de verem frustrada a manifestação que vinham planeando, leio que os militares se preparam agora para no próximo dia 21 de Setembro organizarem uma outra manifestação onde, desta vez, estarão presentes... as suas mulheres.

Se do ponto de vista mediático esta manifestação das mulheres dos militares é, sem sombra de dúvida, uma ideia brilhante, ela revela, contudo, o mais elementar «chico-espertismo» lusitano com o seu recurso ao já tradicional «faz-de-conta».

Bem típico também da instituição militar!

Que fique para já bem claro que nada me move contra os militares!
Bastaria recordar o 25 de Abril e quem nos proporcionou a libertação das múmias que até então nos governavam.
Contudo, que também fique bem claro que os militares que prefiro associar ao 25 de Abril são mais representados por Salgueiro Maia que por Otelo.

Mas ao ouvir as reivindicações sindicais dos militares, não posso deixar de recordar o meu contacto directo com essa gente, que durou 16 meses, e que marcou em mim uma imagem de toda a instituição militar que ainda hoje perdura.
Talvez o exemplo mais paradigmático do que quero dizer tenha a ver com o seguinte:

Um belo dia, vai já para um quarto de século, enfiaram-me um capacete branco na cabeça e informaram-me que tinha passado a ser um «Polícia do Exército».
Entre os fretes de que me encarregaram, tinha de fazer umas «rondas» a locais considerados militarmente sensíveis em Coimbra.
Um desses locais era o paiol, onde eram armazenadas armas e munições, e que era guardado 24 horas por dia por um único sentinela, cuja vigilância me competia verificar.
A ronda fazia-se tradicionalmente de um modo que não me passou pela cabeça deixar de adoptar:

Lá pela 1 ou 2 da manhã, depois de termos tomado uns copos numa tasca que proporcionava nas traseiras um esconderijo eficaz para o jeep, lá íamos ao paiol fazer a ronda.
Obviamente que não íamos mais do que fazer de conta que estávamos a desempenhar uma delicada missão militar, pois todos bem sabíamos o que nos esperava.
Parávamos o jeep a alguma distância, e um dos soldados ia sem fazer barulho roubar a G-3 ao sentinela, que estava invariavelmente a dormir.
Pouco depois, chegávamos de jeep. O sentinela acordava com o barulho, e fazia de conta que estava acordado e perfeitamente vigilante no seu posto.
Claro que dava logo pela falta da G-3, e bem sabia que tínhamos sido nós a tirar-lha, mas o seu papel era fazer de conta que não sabia.
Então, eu fazia de conta que também não sabia de nada, fazia de conta que não sabia que ele bem sabia o que se passava, e perguntava-lhe pela G-3.
E ele então fazia de conta que estava surpreendido com o desaparecimento da arma, e fazia de conta que a procurava por toda a guarita.
E eu fazia de conta que esperava.
Passados uns minutos, eu fazia de conta que participava dele por ter deixado roubar a G-3.
Ele, obviamente, fazia de conta que estava preocupado.
Depois de passar o tempo tradicionalmente recomendado, eu lá lhe aparecia com a G-3 e ele fazia de conta que estava muito surpreendido e agradecido pelo seu súbito aparecimento.
Depois, eu pedia-lhe a identificação militar, e fazia de conta que ia participar dele por estar a dormir no seu posto de sentinela, ainda por cima num local tão sensível como o paiol.
Claro que, como lhe competia, o soldado começava imediatamente a fazer de conta que chorava, pois bem sabia que à minha participação correspondia a pena de 6 anos de presídio militar.
Eu fazia de conta que era um Polícia do Exército inflexível, e dizia-lhe que não restava outra alternativa, e tomava nota da sua identificação num papel.
Depois disto, íamos embora, deixando-o a fazer de conta que estava preocupado.
Como é óbvio, mal chegava ao jeep eu deitava fora a porcaria do papel, pois não me passava pela cabeça mandar o rapaz para presídio militar nenhum.
O sentinela ficava então a fazer de conta que «tinha aprendido a lição» e que passava a estar vigilante no seu posto, embora bem soubesse que podia dormir descansado o resto da noite, pois mais ninguém o iria chatear até de manhã.
E no dia seguinte, e no outro depois, assim numa espécie de tradição militar onde todos fazem de conta, tudo se repetia com mais um sentinela.

É esta a ideia que ainda hoje tenho da instituição militar: um gigantesco «faz-de-conta» à custa do Orçamento de Estado!

Sinceramente não consigo entender onde raio se baseiam os militares para reivindicar regalias que os outros funcionários públicos não têm.

Salvaguardadas as óbvias e costumeiras excepções, ainda hoje me perdura a ideia de que os militares são um tipo de funcionários públicos que não sabem fazer nada.
E que, sem fazerem nada porque também nada têm para fazer, vão arrastando a farda pelos quartéis, conscientes da sua absoluta inutilidade em caso de guerra, ocasionalmente trocando respeitosas continências entre eles, endividando-se mutuamente em jogos de cartas onde todos fazem batota, inventando intrigas de que resultam participações aos seus superiores, mas que não levam a nada, enquanto esperam pacientemente que cheguem as horas das refeições.
Claro que, como é óbvio, e ao contrário do que acontece com os restantes funcionários públicos, as refeições são integralmente pagas pelo Orçamento de Estado, nunca percebi bem porquê.
Até porque tal como os restantes funcionários, e com excepção de um «serviço» lá de mês a mês, todos trabalham 35 horas por semana.

De vez em quando, os militares resolvem visitar-se mutuamente nos quartéis uns dos outros, normalmente para variar de ementa, com as deslocações generosamente subsidiadas por um mecanismo a que chamam «ajudas de custo», embora sinceramente me pareça que as deslocações não lhes «custam» nada a fazer e até contribuem para amenizar o mais que certo tédio de que as suas vidas de ócio castrense se devem revestir.

É decerto deste ócio que nascerá a filosofia das reivindicações que os nossos militares têm vindo a apresentar ao Governo.

E é decerto da consciencialização das suas vidas de «faz-de-conta» que nascerão as suas manifestações sindicais. Feitas não por si, mas por interpostas pessoas que vão fazer de conta que são eles: desta vez as suas mulheres.

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

 

O Congresso dos Aldrabões



Estava o «Random Precision» encerrado para as suas merecidas férias quando, e como já é costume, foi profusamente noticiada (por exemplo no «Portugal Diário») a realização de mais uma edição do já célebre «Congresso de Medicina Popular» de Vilar de Perdizes.

O sucesso crescente desta iniciativa (é já a 19ª vez que se realiza), assegurou a instalação de 70 “stands” montados pelos mais afamados videntes, médiuns, curandeiros, ervários, tarólogos, astrólogos e outros aldrabões do género que, sob a pretensão equívoca de que estão ali a tratar de cultura e também daquilo a que chamam «medicina popular», impunemente vigarizam os mais de 30 mil visitantes que ali acorrem todos os anos.

Os temas tratados no congresso são tão interessantes como variados, pois vão do xamanismo mexicano ao tarot, passando pelo livro de São Cipriano e pela «regressão a vidas passadas», e este ano teve mesmo como ponto alto um muito esperado encontro de exorcistas.


Muito estranho que toda esta gente continue impunemente a enganar e a burlar as pessoas, unicamente para as explorar, aproveitando-se frequentemente de estados de fragilidade psicológica e cultural para lhes extorquir dinheiro, que muitas vezes nem sequer têm.

O que já não estranho mesmo nada, é que toda esta aldrabice seja organizada e patrocinada por... um padre...

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

 

A Greve de Zelo



Provavelmente o começo do ano lectivo vai uma vez mais trazer às primeiras páginas dos jornais as mais recentes políticas da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
Desde a iniciativa de começar o ensino do inglês já nas escolas primárias, à decisão de implementar concursos plurianuais de professores, passando pela aparente colocação a tempo e horas dos professores neste ano lectivo, o que não é nada pouco se nos lembrarmos da balbúrdia do ano passado.

Mas a medida que parece estar a causar mais polémica é a obrigatoriedade da permanência dos professores nos seus estabelecimentos de ensino durante a totalidade das 35 horas semanais dos seus horários de trabalho.

Com isto pretendeu a ministra «separar o trigo do joio», querendo fazer a mais básica justiça de destrinçar os professores que verdadeiramente trabalham, quer em actividades lectivas propriamente ditas ou com elas relacionadas, quer também em projectos pedagógicos paralelos, daqueles que simplesmente dão 16 ou 18 horas de aulas por semana, e lá vão fotocopiando uns testes dos anos anteriores que vão sucessivamente corrigindo durante as próprias aulas que, aliás, nem lhes passa pela cabeça preparar minimamente.

Simplesmente, acontece que esta medida foi considerada como a última e suprema afronta à nobre classe dos professores.
E talvez também ao seu já célebre «dia de folga» semanal.

Mas, e o que é mais curioso, é que não são os professores mais relapsos e incompetentes que têm bramado contra este «insulto» ministerial.
Não! Esses têm estado caladinhos, a ver se não dão nas vistas e “à espera que a crise passe”.

Por estranho que pareça, aqueles que se têm manifestado mais profundamente indignados são os professores mais competentes e interessados, e aqueles que até agora mais empenho demonstravam na sua profissão quando, ao invés, tudo levaria a supor que seriam precisamente estes a beneficiar de uma política que visa distingui-los dos seus colegas incompetentes e preguiçosos.

E como resolveram esses professores manifestar a sua indignação?

Não ouvi qualquer declaração sindical, nem vi nenhum professor manifestar-se preocupado com o recente descalabro das notas dos exames do 12º ano ou dos exames de português e de matemática do 9º ano, bem reveladores do estado de degradação a que chegou o ensino em Portugal.
Nem tão pouco ouvi qualquer diagnóstico ou proposta de solução vinda, afinal, dos profissionais desta matéria.

Não! Isso decerto são «pequenos problemas» que agora não interessam para nada.

O que tenho ouvido são reacções indignadas e ameaças sindicais de greve àquilo que os professores consideram um autêntico ultraje a toda a sua classe, embora, diga-se de passagem, não tenha ouvido quaisquer outros argumentos contrários que não passem única e simplesmente pela quantidade de metros quadrados que se calcula que os professores ocupam na escolas ou pelo número de computadores que ali existem.

Mas a reacção destes professores não fica por aqui!
De quem sinceramente não esperava, dei por mim a ouvir, não por um ou dois professores, mas até por muitos mais, argumentos como este:
- «Ai a ministra quer 35 horas? Então dou as minhas aulinhas, e já que não há computadores para todos, cumpro o resto das 35 horas na sala dos professores e não faço mais a ponta de um corno!»

E então, é assim que quando finalmente temos uma ministra que quer acabar com a tradicional falta de escrutínio e de uma avaliação de desempenho verdadeiramente eficazes e que sejam reveladores da incompetência de tantos professores que, ano após ano, se arrastam pelas escolas a criar sucessivas gerações de alunos ignorantes, e é também assim que quando uma medida ministerial parece finalmente querer premiar a competência, o interesse e a diligência numa profissão, a mais acérrima oposição, agora em forma de uma espécie de «greve de zelo», provém, paradoxalmente e por incrível que pareça, exactamente dos mais capazes e competentes, motivados unicamente pelos mais básicos e primários sentimentos corporativos de uma classe crescentemente desacreditada.

E que, pelos vistos, quer continuar nivelada.
Nivelada por baixo, sim.
Mas nivelada!

sábado, 10 de setembro de 2005

 

The light that burns twice as bright burns half as long...





...and you have burned so very, very brightly, Roy.

sexta-feira, 9 de setembro de 2005

 

A Especialidade da Casa



Segundo a «Reuters» um restaurante na província de Heilongjiang, no nordeste da China era conhecido por servir como especialidade da casa pratos de carne de tigre e ainda aguardente medicinal à base ossos do mesmo animal, a preços bem proporcionais à raridade da iguaria.

Provavelmente porque a frequência do restaurante já o devia justificar, tanto mais que a generalidade dos povos orientais acredita piamente nas propriedades afrodisíacas da carne de tigre, o que é facto é que as autoridades policiais e sanitárias chinesas resolveram intervir e fecharam o restaurante, acusando o proprietário de violar as leis de protecção do tigre como espécie em vias de extinção.

Foi então que o empreendedor proprietário do restaurante resolveu confessar que a carne vendida não era de tigre mas tão somente carne de burro, essa sim marinada em urina de tigre, o que lhe dava aquele “gostinho especial”.
De qualquer modo, o homem acabou por não explicar devidamente como conseguia arranjar a urina de tigre em quantidades suficientes para a confecção de tão apreciado manjar.

Moral da história:
Não te zangues com nenhum empregado de restaurante. Sobretudo se for chinês...


quinta-feira, 8 de setembro de 2005

 

O Despedimento













Esta simpática senhora chama-se Caterina Bonci.

Tem 38 anos de idade e há mais de 14 anos era professora de religião na cidade de Fano, na costa italiana do Adriático.


Era, mas já não é!

É que as autoridades da Igreja Católica Apostólica Romana, responsáveis pela contratação da senhora, decidiram despedi-la porque acharam que ela é demasiado atraente e se veste de uma forma demasiadamente sexy para ser professora de religião.

Como era bom de ver, a ilustre docente não se conformou com tão eclesiástica decisão e quer o seu emprego de volta.

Mas as autoridades religiosas não se demovem e, embora nunca tenham questionado a sua competência profissional, contrapõem que o despedimento foi motivado unicamente pelo facto de a professora ser... divorciada.
Isto embora a boa da professora esteja separada há dez anos e divorciada há mais de cinco, sem que isso tenha merecido até agora qualquer reparo dos seus santos e castos empregadores.

E, asseguram ainda, o despedimento não está de forma alguma relacionado com o crescente número de pais que tinham decidido acompanhar e assistir regularmente às aulas de religião dos filhos...


quarta-feira, 7 de setembro de 2005

 

Duas citações



Oliver Thomas, presidente do Concelho Municipal de Nova Orleans, quando confrontado com as mortes e a devastação provocadas pelo furacão «Katrina»:

«Tal como em Sodoma e Gomorra, talvez tudo isto seja um acto de Deus, destinado a limpar-nos e a purificar-nos»





Bertrand Russell, matemático e filósofo britânico (18/5/1872 - 2 /2/1970):

«Toda a concepção de Deus é derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres.
«Quando vemos na igreja pessoas a menosprezarem-se a si próprias e a dizerem que são miseráveis pecadores e tudo o mais, isso parece-me desprezível e indigno de criaturas humanas que se respeitem».

terça-feira, 6 de setembro de 2005

 

Roger Waters






George Roger Waters nasceu no dia 6 de Setembro de 1943.



Em 1965 Roger Waters formou com Syd Barrett uma das mais famosas bandas de Rock ‘n Roll de todos os tempos, os Pink Floyd, cujo nome foi inspirado em dois músicos americanos de “blues” que ambos admiravam: Pink Anderson e Floyd Council.

A formação original dos Pink Floyd (que Roger Waters acabou por abandonar em meados dos anos 80) incluía ainda Richard William Wright (Rick Wright) e Nicholas Berkeley Mason (Nick Mason).
Mais tarde, já em 1968, David Gilmour juntou-se ao grupo.


Tive oportunidade de conhecer pessoalmente Roger Waters, com quem conversei por ocasião dos dois concertos que deu em Lisboa em Maio de 2002, e pedi-lhe para me autografar algumas capas de discos, ao que acedeu com grande simpatia e afabilidade, escrevendo: «To Luís, best wishes, Roger Waters».




A personalidade e a obra de Roger Waters estão profundamente marcados pela morte de seu pai, que nunca conheceu, ocorrida em 1944 durante a batalha da testa de ponte de Anzio, somente alguns meses após o seu nascimento, e reflectem um profundo desprezo pela hierarquia e pelas instituições militares.

É absolutamente inegável o brilhantismo da obra musical e a excelência da composição e da execução de Roger Waters, logo desde os primeiros álbuns dos Pink Floyd, com um rock mais pesado e de influência marcadamente psicadélica, até às suas últimas obras a solo, de conteúdo muito mais elaborado, passando pelo inexcedível «The Dark Side of the Moon», que ainda hoje, mais de 30 anos depois da sua publicação, ocupa regularmente lugares cimeiros nos tops de vendas.

Mas é o álbum «The Wall» por muitos considerado uma das melhores composições de Rock ‘n Roll de sempre, que será sempre visto como a obra prima de Roger Waters.
A inspiração e o conceito desta obra surgiram-lhe quando se surpreendeu a si próprio a cuspir num fan mais exaltado durante um concerto no Canadá, e que Roger Waters explica assim:

«Nos velhos tempos, antes do “Dark Side of the Moon”, os Pink Floyd tocavam para audiências que, pela sua dimensão, permitiam uma intimidade e uma conexão que eram mágicas.
«Contudo, o sucesso tomou conta de nós e por volta de 1977 já tocávamos em estádios de futebol.
«A magia desapareceu esmagada com o peso dos números, e todos nós fomos ficando viciados na armadilha da popularidade.
«Então, dei comigo cada vez mais alienado nessa atmosfera de avareza e egoísmo.
«Até que uma noite, no “Olympic Stadium” em Montreal, o caldeirão das minhas frustrações rebentou: um amalucado fan adolescente tentava trepar a rede que nos separava da manada humana em frente do palco, gritando a sua devoção aos “semi-deuses” que não conseguia alcançar.
«Perturbado pela sua atitude e pela minha própria conivência, cuspi a minha frustração na sua cara.
«Mais tarde, nessa noite e de volta ao hotel, chocado pela minha própria atitude, fui confrontado com uma escolha: negar a minha dependência e conformar-me com aquela existência “comfortably numb”, aquele “limbo confortável” mas sem magia, ou aceitar o fardo da compreensão, tomar o caminho mais difícil e embarcar numa viagem, indubitavelmente dolorosa, para descobrir quem eu era e onde eu próprio me encaixava.
«The Wall foi o quadro que eu pintei para me ajudar a mim próprio a fazer essa escolha».


domingo, 4 de setembro de 2005

 

Pôr do Sol

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O esplendor de um pôr do Sol na costa alentejana.

Um pôr do Sol que celebra o fim das férias e nos desperta para mais um ano.


E que nos recorda como afinal são tão poucas as coisas desta vida que são de facto importantes...

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