terça-feira, 31 de maio de 2005

 

O Abutre


O Sr. Ilídio Ferreira foi presidente da Junta de Freguesia da Ramada, no concelho de Odivelas, durante década e meia.

Nascida de uma divisão da freguesia de Odivelas, a freguesia da Ramada é uma típica freguesia dos subúrbios de Lisboa: uma floresta de betão com prédios encavalitados, escassos equipamentos sociais e, claro está, nenhuma oferta cultural.

Eleito pelas listas da CDU, o Sr. Ilídio Ferreira é daqueles autarcas que tem a admiração e a incondicional estima da população. Por isso, quase nem precisava do incondicional apoio do PSD, que lhe proporcionou ao longo dos anos uma confortável maioria no executivo da Junta a que presidiu tanto tempo.
Desenvolveu, de facto, um excelente trabalho tentando humanizar a freguesia, e para isso criou imensos jardins e espaços verdes.
Assim de repente não me lembro de mais nada que tivesse feito, é certo.
Mas isso agora não interessa nada.

Clamou sempre publicamente contra a política urbanística da Câmara Municipal de Odivelas, cujo presidente foi eleito pelo PS, a quem acusou de promover a construção desenfreada na freguesia.
Claro que não refere que os alvarás de loteamento e as subsequentes licenças de construção foram todos concedidos aos promotores imobiliários do concelho pela antiga Câmara Municipal de Loures, na ocasião (e por mais de 20 anos) com executivo precisamente da CDU.
Mas isso agora não interessa nada.

Como é perfeitamente natural, a CDU está a tentar rentabilizar o capital de popularidade do Sr. Ilídio Ferreira e decidiu apresentá-lo como cabeça de lista à Câmara Municipal de Odivelas.
Faz a CDU muito bem.
E, o que é facto, é que a sua candidatura vai de vento em popa, com Blog de apoio e tudo!

Eu não voto na freguesia da Ramada, nem sequer no concelho de Odivelas.
Mas estava até capaz de me recensear por lá, só para ter uma posição marcante de NÃO VOTAR no Sr. Ilídio Ferreira.

Eu explico porquê:

Em Novembro de 2002 um autocarro de passageiros entrava em Odivelas, vindo da CREL pelo acesso da IC22.
Já no limite da freguesia da Ramada, quando passava numa descida íngreme, o autocarro perdeu subitamente os travões.
Com um sangue frio incrível, o motorista procurou conduzir o autocarro até ao fim da descida.
Ali chegado, tentou virar à direita. Mas a velocidade era já muita e o autocarro acabou por embater numa árvore e capotar sobre a sua lateral esquerda, caindo por cima de um muro.
Morreram 6 pessoas e 48 ficaram feridas.

Foram chamados os bombeiros que levaram mais de duas horas a desencarcerar as pessoas dos destroços do autocarro.
Acorreram os três canais de televisão, e todos fizeram «directos» do local do acidente.

Prontamente acorreu também ao local do acidente o Sr. Ilídio Ferreira, na qualidade de presidente da Junta de Freguesia da área do acidente.
Andava por ali de um lado para o outro com ar atarefado, e foi logo entrevistado pelas televisões.
Sob as luzes intensas das câmaras de televisão, com os flashes da máquinas fotográficas e com os microfones a procurar as suas palavras, o Sr. Ilídio até parecia uma estrela de cinema!
Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira entendeu por bem aproveitar a audiência nacional que inesperadamente lhe era proporcionada e resolveu capitalizar politicamente o acidente.
Mas o que dizer?
Como deitar as culpas do acidente para a Câmara Municipal?
Como culpar o presidente da Câmara?

Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira, transmitido em directo pelos três canais de televisão, teve esta brilhante ideia:
Pôs-se ao lado do autocarro onde trabalhavam as equipas de desencarceramento dos Bombeiros de Odivelas e de onde apressadamente se retiravam cadáveres e feridos em estado grave para serem conduzidos ao hospital.
Depois, num gesto largo apontou toda a cena e declarou solenemente:

- Tudo isto é da responsabilidade da Câmara de Odivelas; tudo isto é culpa do presidente da Câmara; eu próprio já lhes ando a dizer há imenso tempo para... tirarem daqui esta descida...


segunda-feira, 30 de maio de 2005

 

O Miguel Rolha


Se há político que nos últimos anos tem sabido gerir como ninguém a sua imagem pública e uma insólita reputação de competência técnica e profissional, ele é Miguel Cadilhe.

Há muito que Cadilhe sabe que para dar nas vistas não há nada melhor do que, num primeiro momento, fazer-se associar a um partido político, para logo depois o criticar em ocasiões cuidadosamente estudadas.

Isso, Miguel Cadilhe sabe-o bem, tem uma tripla vantagem:
- Desde logo, e do ponto de vista pessoal, cola-lhe uma reputação de independência intelectual, e de que põe os princípios à frente dos meros interesses político-partidários;
- Depois, fica bem visto no seu próprio partido, que assim pode exibir em público um militante de destaque que é intelectualmente independente e que, quando um dia resolver elogiar o partido, poderá fazê-lo sob essa reputação;
- Finalmente, fica bem visto nos restantes partidos, principalmente se algum deles estiver no Governo, que assim se pode aproveitar politicamente de uma crítica aos oponentes, e que desde logo goza de uma presunção de seriedade e acerto. Pois não vem ela do interior do próprio adversário?
Ganha sempre e sai sempre bem visto perante todos!

Mas o que melhor Cadilhe sabe fazer é, sem dúvida, escolher o momento certo para «atacar».

Por exemplo, lembro-me que em Dezembro passado e, já após a dissolução da Assembleia da República, quando as sondagens indicavam unanimemente uma larga vantagem do PS nas eleições que se aproximavam, Cadilhe veio a público manifestar-se «insatisfeito com o país que tem para apresentar aos investidores» e tecer duras críticas ao Governo cessante.
E, numa altura em que se adivinhava já que o Primeiro-ministro que sairia das eleições de Fevereiro seria José Sócrates, Miguel Cadilhe deu-se mesmo ao luxo de vir elogiar... a co-incineração...

Escassos dois meses depois, Cadilhe não se coibiu de se insinuar a Santana Lopes, fazendo-o cair infantilmente na esparrela de vir a público indicar o seu nome como seu próximo ministro das Finanças, se viesse a ganhar as eleições que toda a gente sabia que iria perder.
Uma vez mais uma fabulosa gestão de Cadilhe da sua imagem política, agora com um compromisso de lealdade partidária que sabia que não ia ter de cumprir, mas que acabou por fazer com que o seu nome fosse novamente sinónimo de «trunfo político».

Há poucas semanas, Miguel Cadilhe declarou numa conferência que a solução para o problema do défice seria o Governo vender... as reservas de ouro.
Claro que Cadilhe bem sabe que nem a venda das reservas de ouro significaria a resolução do défice, nem o Governo iria levar a cabo uma medida tão suicidária quanto inútil.
Mas uma vez mais os seus objectivos foram cumpridos: falou-se dele nos jornais e nos telejornais e novamente como alguém «que não tem papas na língua» (o que é sempre alguma coisa que o grande público aprecia), mesmo que seja só para dizer barbaridades.

Mas a última de Miguel Cadilhe é, de facto, a mais notável:
Num texto que, como seria de esperar, mereceu honras de primeira página do «Expresso», Miguel Cadilhe veio agora «informar» o país que afinal é o próprio Cavaco Silva quem é «o pai do monstro», esquecendo-se de que foi seu ministro das Finanças e acusando-o de ser o responsável pelo actual Sistema Retributivo da Função Pública, que representa hoje 15% do PIB.

Cá temos a táctica do costume, num «timing» que não poderia ser mais apropriado:
- Cavaco lidera todas as sondagens para as eleições presidenciais;
- A esquerda parece não encontrar ninguém que consiga contrariar essa tendência;
- E Cadilhe está a escassos meses de acabar o seu mandato como presidente do Conselho de Administração da A.P.I. (Agência Portuguesa para o Investimento)...


E assim Miguel Cadilhe vem vindo flutuando ao longo dos anos na política portuguesa, vogando calmamente ao sabor dos ventos que vão soprando em cada momento.

E, por incrível que pareça, essa mesma imagem de independência política e de enorme competência técnica tem-no mesmo acompanhado ao longo da sua presidência da A.P.I., por muito insólito, e até absurdo, que achem todos os que com ele lidam de perto.

Mas talvez só enquanto não houver quem finalmente investigue o que a A.P.I. tem, afinal, significado verdadeiramente para o investimento em Portugal, ou enquanto não houver alguém que se disponha a revelar que a maior percentagem da actividade que essa Agência de Investimentos desenvolveu nos últimos anos resulta de investimentos... nela própria...

domingo, 29 de maio de 2005

 

Segurança

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sábado, 28 de maio de 2005

 

Parabéns!

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sexta-feira, 27 de maio de 2005

 

O Sr. Gomes

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Os governos mudam, o BES fica...


Depois do meu post «O Triste Legado» a propósito das estreitas ligações entre os Governos PSD-PP e o Grupo Espírito Santo, um amigo mandou-me como desafio um texto sobre o tema de «outras» ligações governamentais àquele mesmo Grupo.
Provavelmente terá pensado que eu não o publicaria, só para depois me chamar nomes...
Enganaste-te, pá!

Aqui vai:

«Factos, factos, há o seguinte:

O ministro da Economia, Manuel Pinho, não esconde no curriculum, disponível no site do Governo, a sua ligação ao BES desde pelo menos há 11 anos.
Foi, diz o ministro, entre 1994 e 2005, o seguinte:

Administrador, Banco Espírito Santo, S.A.
Vice-presidente, BES Investimento, S.A.
Administrador, ESAF, SGPS, S.A.
Administrador BES Finance
Administrador BES Overseas
Presidente da Espírito Santo Research

«Julgo que se pode dizer que ha aqui uma relação estreita.

«Segundo escreveu o «Expresso» aqui há uns meses, o BES vendeu ao seu administrador Manuel Pinho a «Casa de Almeida Garrett», já com um projecto camarariamente aprovado para demolição e construção de um edifício alto. Acrescenta o mesmo jornal que a venda foi feita a um preço favorável, um preço sem relação com o montante que se supõe estar em jogo na construção de um edifício destes.

«A casa Garrett é, supostamente, um edifício cuja conservação teria algum interesse público, de modo que não é líquido que o projecto seja levado em frente.
«Não me parece haver mal nenhum no facto de um administrador bancário enveredar pela via da promoção imobiliária.
«Nem me parece que os edifícios de interesse público tenham de ser protegidos contra tudo e contra todos.
«Mas também me parece que há aqui um negócio bastante benéfico para Manuel Pinho.

«Também segundo o caderno de economia do «Expresso», o ministro Manuel Pinho terá manifestado a intenção de promover o desmembramento da «Galp» em varias empresas mais pequenas.
No entender do «Expresso», isto viria beneficiar o grupo BES, que teria já um acordo com uma empresa do ramo da energia que quererá adquirir algumas dessas empresas. que resultarão do desmembramento.
«Entretanto, ouvi dizer que o tal desmembramento já não vai avante, mas isto foi só o que ouvi dizer.

«Factos, factos, em suma, temos o de que um ministro do actual governo que tem uma ligação muito amiga com o BES e o de que o «Expresso» publicou notícias que deixam entender ser mesmo muito amiga esta ligação entre o BES e o ministro.
«Não conheço as fontes do «Expresso» nem sou da opinião de que o «Expresso» seja completamente de fiar.
«De resto, pensem o que quiserem».


Ok, pá!
É o que eu vou fazer!

E é o que eu vou fazer também a propósito da nomeação de Fernando Gomes, o «Capachinho Vermelho», para o Conselho de Administração da GALP.

Mas, para já, ainda estou sem palavras...


quinta-feira, 26 de maio de 2005

 

O Estado de Graça


E pronto!
Terminou o estado de graça do Governo de José Sócrates.

Uma vez mais temos um Governo que opta pela consolidação financeira em detrimento do desenvolvimento económico do país.
Uma vez mais temos um Governo que investe na consolidação orçamental pretendendo alcançar o progresso económico, quando, com muito menos custos para os portugueses, poderia muito bem ter optado pela solução inversa.
Uma vez mais temos um Governo com falta de coragem para afrontar os burocratas de Bruxelas e para desafiar o «Pacto de Estabilidade e Crescimento», que pode ter muito de estabilidade financeira mas nada tem de crescimento económico. Como a França e a Alemanha já o demonstraram.


A subida dos impostos foi, de facto, a solução mais fácil.
E nem sequer souberam aproveitar a embalagem para acabar com o anacronismo das SCUT’s ou com os chocantes benefícios fiscais a sociedades financeiras.

É uma solução tão mais chocante quanto é a mesma que tinha sido encontrada por Durão Barroso e por Manuela Ferreira Leite, com os resultados absolutamente catastróficos para Portugal que todos conhecemos.
Fui contra essa solução nessa ocasião. E sou contra a mesma solução agora.

Mas não sou o único contra.
Já também o era um candidato a Primeiro-ministro, de nome José Sócrates, que em plena campanha eleitoral declarou (citações gamadas ao «Blasfémias») sem deixar quaisquer dúvidas:

«Eu não estou de acordo que se baixem os impostos por essas duas razões: porque isso destabiliza ainda mais as finanças públicas e porque isso é uma ameaça ao bom funcionamento e à qualidade dos serviços públicos em Portugal.
«Mas também não estou de acordo com a subida de impostos, não estou. Porque isso também já foi uma receita do passado. Isso já foi feito no passado e não produziu bons resultados».

«Eu não acho que os problemas das contas públicas em Portugal se possam fazer à custa da Economia, fazendo lançar impostos.
«Neste momento, no meu ponto de vista, criaria ainda condições para um arrefecimento ainda maior da economia portuguesa.
«Ora, eu acho que esse não é o caminho. O caminho é o caminho do crescimento, da aposta no crescimento, porque só a aposta no crescimento pode fazer com que possamos resolver o problema das finanças públicas, combater o desemprego e também combater as injustiças sociais»

«Há aqui, também, um julgamento a fazer, um julgamento sobre esses últimos três anos.
«Esse comportamento de quem prometeu nas eleições baixar impostos e quando chegou ao Governo, não os desceu, mas, ao contrário, subiu-os, tem de também ser penalizado, porque isso é negativo para a Democracia, é negativo para a confiança e, não se esqueça, que foi exactamente nesse momento que tudo começou a ruir.
«Foi no momento da falha dessa promessa eleitoral, quando o Governo chegou ao poder e decidiu aumentar o IVA, que a confiança veio por aí abaixo».


Quão proféticas poderão vir ainda a ser estas palavras?
Só espero que mesmo assim, algures, exista ainda uma diferença entre as duas governações.

Porque será que quando penso nesta obsessão fanática pelo défice orçamental, só me lembro daquela anedota do sujeito que deixou de dar de comer ao cavalo, e ao fim de um tempo se lamentava:
- Ora bolas: logo agora que o bicho estava a ficar habituado a não comer, é que morreu!...


quarta-feira, 25 de maio de 2005

 

O Comissário


António Guterres é o novo Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados.

O ACNUR, que tem sede em Genebra, tem um orçamento anual de mil milhões de dólares e tem seis mil funcionários ao seu serviço, espalhados por 115 países, tem a espinhosa missão de prestar assistência a mais de 17 milhões de pessoas desalojadas.

Depois de um complicado jogo de interesses e de influências internacionais, onde se destacavam os candidatos francês e dinamarquês, terão provavelmente sido primordiais para a escolha de António Guterres a entrevista pessoal a Kofi Anan e o seu prestigiado currículo pessoal e político.

Esta escolha honra e prestigia Portugal.

Aliás, ela foi unanimemente realçada por responsáveis de todos os quadrantes políticos e sociais, incluindo todos os líderes dos partidos da oposição.

O próprio presidente do PSD, Marques Mendes, declarou:
«O PSD congratula-se com a escolha do engenheiro António Guterres para o cargo de ACNUR. É mais um português a ocupar um lugar de prestígio».

E como às vezes não sabe estar calado, Marques Mendes lá resolveu borrar a pintura toda e acrescentar:
«Tal como no passado nos congratulámos com a escolha de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, não podemos agora, do mesmo modo, deixar de apoiar a escolha de António Guterres para o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os refugiados».

Vindas de Marques Mendes, não podem estas declarações resultar de um simples acaso.
Dizer que apoia a nomeação porque politicamente já se adoptou no passado a mesma atitude em circunstâncias semelhantes, não é mais do que uma maneira diplomaticamente cínica como outra qualquer de Marques Mendes desvalorizar a nomeação de Guterres.

É como o adepto de futebol que pensa que está a tomar uma atitude «politicamente correcta» quando diz que apoia o clube rival que está a disputar um jogo internacional.
Mas que lá no fundo o que deseja mesmo é a sua derrota.

Só que não tem coragem de o dizer publicamente...

terça-feira, 24 de maio de 2005

 

O Triste Legado


Talvez nunca se venha a conhecer verdadeiramente o estado em que os dois Governos de coligação PSD-PP deixaram o país.

Já não falo do estado das contas públicas e da desastrosa situação do défice que aquela gente nos deixou, e que, sabe-se agora, ronda os 7%.
Já não falo da inqualificável política financeira de «faz-de-conta» que nos procurou impingir uma situação de estabilidade e de rigor das contas públicas, conseguida artificialmente à custa de «receitas extraordinárias», e que só contribuiu para afundar o país num descalabro económico que ainda agora vamos começar a pagar.

E que nem ao menos têm a decência e a dignidade de reconhecer!!!

Aquilo que Portugal – e todos nós portugueses – vamos ter de pagar é bem mais grave do que isso:

Prende-se com as verdadeiras consequências do escândalo do «Caso dos Sobreiros» que denunciou a cumplicidade entre o Grupo Espírito Santo e membros do anterior Governo e dos partidos que o suportavam.

É que durante o seu mandato à frente do ministério da Defesa, Paulo Portas decidiu abrir concurso para a substituição da velha espingarda metralhadora G-3 por uma arma mais moderna.
Muito bem.

Ao concurso, orçado em mais de 75 milhões de euros, concorreram 2 empresas: a «Swiss Arms» e a alemã «Heckler & Koch».
Paulo Portas admitiu então estas duas empresas à fase de testes práticos, embora a «Swiss Arms» pareça derrotada à partida, já que a sua proposta é significativamente mais cara.
Desconheço os fundamentos da decisão, que até pode ter sido correctamente tomada.
Mas isso é completamente irrelevante.

Acontece que outras empresas da especialidade, a americana «Colt», a austríaca «Steyr», que já tinham anteriormente questionado a transparência do concurso público, vieram agora, e desta vez conjuntamente, alertar o actual titular da pasta da Defesa, Luís Amado, para as ligações da empresa virtualmente vencedora, a «Heckler & Koch», ao Grupo Espírito Santo.

Em primeiro lugar, alegam que foi a «Escom» a organizar todo o processo de contrapartidas ao Estado português.
Depois, afirmam que até os requisitos técnicos do caderno de encargos pareciam mesmo feitos de encomenda e de propósito, não só para se encaixarem na G-36, a arma da «Heckler & Koch», como também para afastarem liminarmente de qualquer possibilidade de admissão ao concurso as armas da «Colt», e da «Steyr».

Não sei se as empresas afastadas têm razão ou não.
Até é possível que não tenham.
Mas, como disse, não é nada disso que está em causa.

O que está em causa é que unicamente graças a esta espécie de concubinato entre o Grupo Espírito Santo e o Governo anterior, principalmente com os ministros do PP, o que é facto é que duas empresas estrangeiras, de renome internacional, numa atitude que decerto está a correr por esse mundo fora, estão agora a questionar a própria honorabilidade do Estado português!!!

E o pior do que tudo, bem vistas as coisas, é que têm muita razão para o fazer!!!

E então, se virmos bem, será principalmente esse o triste legado que nos deixaram os dois governos anteriores...


segunda-feira, 23 de maio de 2005

 

CAMPEÕES!!!

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Parabéns, filha!

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domingo, 22 de maio de 2005

 

O gajo faz anos!!!

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A Política

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sexta-feira, 20 de maio de 2005

 

A Arrogância Yankee


Não há dúvida que em toda a sua campanha iraquiana os americanos se têm revelado ao mundo.

Primeiro, com as mais esfarrapadas desculpas e as mais despudoradas mentiras que Bush inventou para invadir um país soberano, com a conivência de meia dúzia de papalvos, de Blair a Aznar (parece que Durão Barroso também apareceu uma vez numa fotografia, mas ninguém sabia quem ele era).
Um país comandado por um ditador sanguinário, sim, mas um país tão soberano como a Coreia do Sul ou Cuba.
Invadido à revelia das mais básicas noções de Direito Internacional, unicamente para satisfazer negociatas obscuras de multinacionais ligadas à própria administração americana.

Depois, com os escândalos da prisão de Abu Ghraib, e com as torturas e as humilhações infligidas aos prisioneiros de guerra iraquianos, algumas das quais registadas em fotografias.


Agora, e para cúmulo, é a vez de Saddam Hussein ser mostrado em roupa interior, fotografado pelos seus próprios guardas à porta da cela da prisão onde está detido, na mais abjecta humilhação a um Chefe de Estado derrotado, exibido ao mundo como um simples troféu de caça.

Quando um imperador romano regressava das suas conquistas e desfilava aclamado pelo povo em parada triunfal pelas avenidas da capital do Império, seguia com ele na quadriga que o transportava um escravo, que não só segurava uma coroa de louros sobre a sua cabeça, num gesto simbólico de grandiosidade e de vitória, mas que lhe repetia constantemente: «lembra-te que és humano!».


De facto, a grandiosidade e a dignidade dos homens – e também a dos povos – mais do que na derrota, revelam-se nas vitórias que conquistam!


 

A Última Ceia

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quinta-feira, 19 de maio de 2005

 

A Minuta


O meu cepticismo quanto ao funcionamento da Justiça em Portugal, principalmente no que se refere aos órgãos de investigação e acção criminal, leva-me muitas vezes a evitar comentar casos judiciais pendentes.
Muito mais quando está em causa a honorabilidade das pessoas envolvidas.

Só conheço o que li nos jornais sobre a investigação criminal que procura apurar a amplitude das relações entre diversas empresas do Grupo Espírito Santo e determinados membros do Governo de Pedro Santana Lopes.

Sei que foram constituídos arguidos três administradores do Grupo BES: Luís Horta e Costa, Carlos Calvário e José Manuel Santos.
Foi também constituído arguido Abel Pinheiro, que no tempo de Paulo Portas foi o responsável pelas finanças do CDS-PP, e que sei que é de muito boas famílias.
Foi ainda constituído arguido o antigo ministro do Ambiente, Luís Nobre Guedes, igualmente militante do CDS-PP, e de quem só sei que tem uma casa na Arrábida.

Sejamos então politicamente correctos: confiemos «na acção da Justiça» e não esqueçamos a «presunção de inocência» de que gozam todos os visados.

Mas leio hoje no «Público» que a Polícia Judiciária apreendeu nas instalações da «Escom» nada menos do que a minuta preparatória do despacho dos ex-ministros Nobre Guedes, Telmo Correia e Costa Neves que declarou a «imprescindível utilidade pública» do empreendimento turístico do Grupo Espírito Santo em Benavente.

Não quero pensar agora no que tal situação significa em concreto para a honorabilidade dos ex-ministros envolvidos, ou qual o verdadeiro alcance de um «despacho pré-datado».
Não sei, nem faço a mínima ideia, se os arguidos são ou não culpados dos crimes de tráfico de influências (ou até de corrupção) por que estão já indiciados.
Não sei, nem faço a mínima ideia se é verdadeiro o autêntico regabofe de que acusam a generalidade dos membros do anterior Governo, principalmente desde a altura em que o Presidente dissolveu a Assembleia da República.

Mas já sei perfeitamente o que significa encontrar uma minuta de um despacho ministerial de um Governo de um Estado de Direito, nas instalações de uma empresa privada que sai beneficiada desse mesmo despacho!

quarta-feira, 18 de maio de 2005

 

Ter o pássaro na mão...

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Anti-católico, eu? Por amor de deus!


E pronto: bastaram meia dúzia de textos para a recorrente necessidade de rotular as pessoas com alguma coisa ter feito de mim um perigoso anti-católico.
Posso ser “anti” muita coisa.
Mas anti-católico não é uma delas.

Simplesmente acho que me é permitido ver a Igreja Católica com os meus próprios olhos, principalmente pelos reflexos que esta produz, e procura persistentemente produzir, na sociedade onde vivo.

E penso também que me é permitido olhar qualquer fenómeno religioso com os meus olhos ateus.
Tal como é meu direito procurar viver a minha vida isenta de influências clericais, e como também é meu dever procurar resguardar as minhas filhas de influências que considero nefastas.

Eu dou um exemplo:
Há muitos anos visitei no interior longínquo de Angola uma aldeia nativa onde decorria uma cerimónia religiosa.
Essa cerimónia, de um colorido riquíssimo, reflectia nas máscaras, nos trajes, nas danças, na música, a religião animista daquela gente.
Ainda hoje me recordo de toda a cerimónia a que tive o privilégio de assistir e considero-me enriquecido por tudo aquilo que vi, sempre procurando entender todo o significado antropológico dos ritos e do culto às forças da natureza, talvez velhos de milénios.

Como poderia ser contra isto?
Seria absurdo!

Esqueçamos agora as pessoas que são contra, e a forma como desde há séculos têm tentado fazer substituir religiões que fazem parte da cultura africana por cultos importados doutros continentes.
Isso é outra conversa.

Onde eu quero chegar é aqui:
Permitam-me que olhe e que dê a um culto animista africano o mesmo significado que dou a qualquer outra cerimónia religiosa. A uma missa católica, por exemplo.

Pode ser mais ou menos colorida, numa cubata ou numa catedral, mas para mim o significado é o mesmo: nada mais do que uma simples curiosidade antropológica, por vezes dotada até de um pouco – permitam-me – de “ridículo”...

E, como e óbvio, não sou “anti” nenhuma delas.

São estes os valores que considero correctos e que procuro transmitir às minhas filhas.
E que procuro que elas sigam.
Mas não por estarem sob a vigilância de uma entidade espiritual qualquer que “tudo vê”, ou sob a ameaça de caírem em “pecado”.
Mas simplesmente pela convicção sincera de que são isso mesmo: correctos!

E talvez eu esteja a fazer um bom trabalho:
Aqui há uns tempos, a escola de música que a minha filha mais velha frequenta foi solicitada para ir tocar numa missa que naquela ocasião se revestia de um significado qualquer que já não recordo.
Obviamente não me opus.

Quando ela regressou, e como aos 14 anos de idade nunca tivesse ainda assistido a uma missa, perguntei-lhe o que tinha achado da cerimónia e de tudo aquilo que tinha visto.
Ao que ela me respondeu:
- Foi engraçado! Parecia um filme dos Monty Python...

terça-feira, 17 de maio de 2005

 

Ainda «O Filho da Puta»


O «Ciberjus» é um excelente Blog, que visito diariamente e que está linkado aqui ao lado, e é feito por juristas de grande renome.

Foi nesse Blog, em dois posts que intitulou «Homilia Irresponsável II» e «A Homilia III», que João Centeno, com bastante elevação, admito, se insurgiu contra o meu post «O Filho da Puta», onde comentei a homilia do padre que rezou a missa do 7º dia da pequena Vanessa.

João Centeno, que se confessa católico (só lhe faltava ser do Sporting para a desgraça ser completa), refere-se-me dizendo entre outras coisas:

«Pois, apesar de lamentável a homilia do padre, não menos lamentável é o texto do Dr. Luís Grave Rodrigues , que pelo modo como escreveu e o fim pretendido, não andando longe o critico do criticado. Antes pelo contrário. Muito perto».
E ainda:
«Triste é que alguém se aproveite de uma triste homilia, para se socorrer dela para atacar uma Igreja na sua totalidade, verdadeira intenção dissimulada do autor».

Sobre este e outros comentários feitos nos dois posts que referi, queria somente fazer dois ou três pequenos reparos.

Em primeiro lugar, não entendo onde foi João Centeno buscar a ideia de que eu tinha uma «intenção dissimulada» de atacar a Igreja na sua totalidade.
Pelos vistos aqui falhei, pois no meu texto fiz todos os possíveis por deixar claro que o meu ataque à Igreja na sua totalidade era bem explícito e não deixava dúvidas.

Em segundo lugar, fico agora ciente de que para um católico como João Centeno a barbaridade proferida pelo padre fica equiparada àquilo que sobre ele eu disse.
Por outras palavras: disse eu sobre o padre que «a sua boçal forma de pensar e as palavras que produziu revelam um tipo de personalidade e uma forma de demência e de alienação místicas que, um dia, o levarão longe na hierarquia católica»
E ainda que
«E um dia, enfim, um conclave de filhos da puta assim formado, elegerá como Papa o melhor de entre eles...».

E que disse o padre?
Disse que interromper o desenvolvimento de um embrião é muito pior do que o que aconteceu com a Vanessa, uma criança de 5 anos que foi barbaramente torturada, sucessivamente mergulhada em água a ferver enquanto era espancada repetida e sistematicamente, até à morte.
E que até se poderia muito bem ter defendido.
Para este ilustre católico, as duas afirmações são comparáveis.
Fico agora ainda mais ciente do típico modo de pensar de um fervoroso católico...

Em terceiro lugar, João Centeno cita a famosa frase de Voltaire (não sei porque o faz em inglês):
«não concordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo».

Fá-lo em defesa do padre, a quem atribui o direito de falar, mesmo que seja para fazer aquilo a que chama num notável exercício eufemístico, uma «homilia lamentável».
Constato que para João Centeno eu próprio não sou merecedor de tal direito.
Mas o padre é.
Provavelmente por ser padre.

Depois João Centeno diz que quando leu os comentários ao meu texto ficou com a sensação «de ter lido textos retirados do Senado Romano, presidido por Nero, de uma qualquer reunião na Chancelaria, presidida por Hitler, de uma reunião da Convenção do Terror da Revolução Francesa, ou do Politburo de Estaline».
Mas não; João Centeno está enganado.
A sensação que dá é a de estarmos a ler as actas de um qualquer tribunal da Santa Inquisição...

Finalmente, diz João Centeno que as afirmações do padre não são caracterizadoras da Igreja na sua totalidade e que ele próprio não se revê na tal «homilia lamentável».
E aqui uma vez mais João Centeno está equivocado!

Não conheço João Centeno. Mas por aquilo que lhe li, acredito perfeitamente no que diz e na sua boa fé.
E por isso as generalizações são sempre perigosas e frequentemente injustas.

Mas se deixarmos às excepções o seu usual papel de confirmar a regra, o que é facto é que as afirmações do padre são bem típicas e caracterizadoras da Igreja Católica Apostólica Romana na sua globalidade!
Infelizmente são.

Como já disse ao João Centeno num comentário ao seu texto, o que é lamentável é que tanta gente confunda a sua fé ou o deus em que acredita com a Igreja vigente no país onde por obra do acaso nasceu.

Porque são os homens que fazem as instituições a que pertencem e são os actos desses mesmos homens que as caracterizam.
Dizer «não olheis aos nossos pecados, mas à fé da Vossa Igreja» ou dizer que este padre ou Torquemada ou qualquer outro facínora do género não caracterizam a Igreja Católica é um equívoco tremendo.
Porque, de facto, caracterizam!

Por esta ordem de ideias ainda vai para aí aparecer gente a dizer que não é lá por Eichmann ou Himmler terem feito umas «coisas lamentáveis» que devemos julgar o Partido Nazi no seu conjunto...

segunda-feira, 16 de maio de 2005

 

Uma História Deliciosa


Não há dúvida que o melhor que se pode fazer a um fanático, principalmente se for um fanático religioso, é dar-lhe a provar do seu próprio veneno.

Vem isto a propósito de uma história que comecei a seguir a partir do «Oeste Bravio» (e que depois me conduziu a uma outra) que se passa nos Estados Unidos, país onde a demência religiosa e fanática tomou já conta da rádio e da televisão e até do próprio aparelho do Estado.

Como nos conta o Filipe Castro no «Oeste Bravio», é nos Estados Unidos que o reverendo Pat Robertson diz aos telespectadores para se abraçarem à televisão (e, claro, mandarem um cheque) para receberem a “graça de “deus”.

E que o reverendo Falwell, avisa os pais e mães americanos contra uma conspiração tenebrosa da BBC: o Tinky Winky dos teletubbies é gay!

Não lhes fica atrás a tresloucada Ann Coulter, que acha que os EUA deviam invadir os países muçulmanos e obrigá-los a converterem-se ao cristianismo…
Foi precisamente esta Ann Coulter, que acusa os «liberais» de destruírem a civilização ocidental, que deu recentemente uma conferência em Austin, no Texas.
«Ann Coulter é extremamente agressiva e tem uma cara a que os franceses chamam “tête à claques”.
«Rapidamente o sistema em vigor, em que uma pessoa tem direito a fazer uma pergunta e depois tem de se ir sentar enquanto a megera berra os insultos que lhe apetecer, gerou um clima de intimidação e respeitinho na sala.
«Um dos alunos, um “republicano moderado”, acabou por se ir sentar a chorar com uma resposta de Ann Coulter. Mas o aluno que estava a seguir na fila das perguntas não se deixou intimidar e começou a pensar se faria sentido fazer uma pergunta séria a uma doida varrida, a uma taliban desvairada e violenta…

Vai daí, perguntou-lhe o aluno:
- You say that you believe in the sanctity of marriage. How do you feel about marriages where the man does nothing but fuck his wife up the ass?

Toda esta história, bem como todos os acontecimentos que se lhe sucederam, está aqui muito melhor contada pelo próprio.
O estudante acabou por ser preso pela polícia, foi algemado e conduzido à prisão, onde ficou detido algumas horas.

Mas, ao que parece, a senhora não lhe conseguiu responder...

A segunda história é contada pelo «New York Post» e é passada com o juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos Antonin Scalia, durante uma conferência numa Universidade de Nova York.
Antonin Scalia ficou conhecido pelas suas posições radicalmente homofóbicas, principalmente num processo em que a sua intervenção veio permitir a interpretação de uma lei do Estado do Texas no sentido da proibição pura e simples das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo.
Durante a conferência, um estudante homossexual perguntou ao juiz qual era afinal o interesse do Governo em promover e implementar leis contra a sodomia consensual.
Mas foi perante a estupefacção geral que o estudante perguntou ao juiz, que por acaso até tinha a mulher ao seu lado:
- O Senhor sodomiza a sua mulher?

Ao que parece o juiz retorquiu-lhe que se tratava de uma pergunta que não era digna de uma resposta.

Ao contrário, pela preocupação que o juiz devota ao tema, a mim parece-me mais uma maneira habilidosa e mesmo muito suspeita de fugir à pergunta...

domingo, 15 de maio de 2005

 

Achas?...

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sexta-feira, 13 de maio de 2005

 

O Filho da Puta


Decerto estará na memória de todos o caso da pequena Vanessa que aos cinco anos foi brutalmente agredida pelo próprio pai.
Até à morte.

Teve agora lugar a missa do 7º dia da Vanessa.

Durante a homilia, o padre que oficiou essa missa – e cujo nome nem sequer é digno de ser aqui pronunciado – depois de bramar contra a sociedade que promove o uso do preservativo, declarou que «há mortes mais graves que outras» e que o aborto significa matar uma criança no seio materno e, por isso, é muito mais grave e violento do que assassinar uma criança de 5 anos.
Porque, disse este ilustre católico, uma criança de 5 anos já pode defender-se.

A indignação e a profunda náusea que estas palavras me causam está para além do que me é possível descrever.

Elas significam uma ofensa a toda a condição humana.
Significam uma ofensa à memória de todas as crianças brutalizadas, violadas e assassinadas por essa mundo fora.
Mas, até porque foram proferidas na própria missa que assinalava o 7º dia da sua morte, elas significam principalmente um ultraje à memória da pequena Vanessa, de cinco anos, morta à pancada, e cujo corpo apareceu a boiar no rio Douro.

Vai longe este padre!

A sua boçal forma de pensar e as palavras que produziu revelam um tipo de personalidade e uma forma de demência e de alienação místicas que, um dia, o levarão longe na hierarquia católica.

Por certo será em breve feito bispo e, logo depois, será provavelmente catapultado para o posto de cardeal.

E um dia, enfim, um conclave de filhos da puta assim formado, elegerá como Papa o melhor de entre eles...


quinta-feira, 12 de maio de 2005

 

Finalmente a Solução!



Às vezes as soluções para os problemas mais complicados estão mesmo atrás da porta sem que a gente se aperceba disso.
É o caso dos já célebres atrasos dos tribunais.

Mas agora uma meretíssima juíza parece ter finalmente encontrado a solução.

O caso é simples:

A acção deu entrada em Abril de 2001 e foi distribuída a uma das Varas Cíveis de Lisboa.

Quatro anos depois, finalmente o primeiro despacho.
Nesse despacho é determinada a realização de uma audiência preliminar para o próximo dia 17 de Novembro de 2005, ou seja, daqui a seis meses.


(clicar na imagem para a ampliar)


Mas a meretíssima juíza já avisou:
Basta!!! Nada de mais atrasos!

Por isso, já ficou toda a gente muito bem advertida que no final da audiência preliminar, (onde têm que ser indicados todos os meios de prova) nem sequer será permitido aos advogados invocar a complexidade dos autos para beneficiar do prazo previsto no nº 2 al. a) do artigo 508º-A do Código de Processo Civil.
«fundadas razões» e é um pau!

Portanto, o rol de testemunhas e todos os restantes meios de prova terão que ser indicados de imediato logo na audiência preliminar, mesmo que ainda não seja previsível o modo como a «Base Instrutória» será organizada, isto é, mesmo que ainda não se saiba o que vai ser necessário vir a provar no julgamento.

Mas pronto! Se é para poupar tempo... tudo bem!

Mesmo que ainda não saiba para quando a meretíssima juíza vai marcar o julgamento.
Mas, enfim, tenho fortes esperanças que se realize ainda no ano de 2006, vá lá, o máximo em 2007.

Só resta dizer que o tal prazo previsto no nº 2 al. a) do artigo 508º-A do Código de Processo Civil, agora tão espectacularmente poupado no processo pelo meretíssima juíza, pode ser fixado livremente pelo tribunal, de acordo com as circunstâncias particulares de cada caso.
Normalmente é fixado em... 10 dias...

Absolutamente brilhante!!!


quarta-feira, 11 de maio de 2005

 

O Líder da Oposição


Marques Mendes, o novo Presidente do PSD é, de facto, um político notável.

Dotado de um instinto político inato, tem determinado e influenciado nos últimos anos, de uma maneira ou de outra, a maior parte das iniciativas políticas do PSD e dos Governos de que fez parte.
Estou até convencido que muito provavelmente o próprio Governo de Santana Lopes teria tido outro destino se Marques Mendes dele tivesse feito parte, já que não lhe teria permitido metade das «trapalhadas» a que assistimos naqueles seis meses.

Será, por isso, um temível «líder da oposição», com quem os socialistas terão de lidar com muita cautela.

Marques Mendes percebeu já, desde o primeiro dia, que a oposição ao Governo socialista tem de ser feita não com slogans mediáticos ou medidas «populistas», mas antes com apelo a uma imagem de rigor, seriedade, determinação e competência – precisamente os valores que levaram José Sócrates a Primeiro-ministro.

Depois de conseguir junto dos eleitores esse tipo de imagem, Marques Mendes só terá de esperar calmamente, e sem sequer fazer muitas ondas, o natural desgaste do Governo socialista e do próprio José Sócrates.
O que, como é óbvio, mais cedo ou mais tarde surgirá.

E Marques Mendes começou já a trabalhar nesse sentido, procurando simultaneamente devolver aos políticos, e à política de um modo geral, uma reputação de seriedade, que tanto dela tem andado afastada.

Mesmo sem ser preciso o aparecimento regular de escândalos e casos de polícia como o que agora envolve Luís Nobre Guedes e Abel Pinheiro – e por tabela também Telmo Correia – tendo aqueles sido já constituídos arguidos num caso de tráfico de influências com um perfume de milhões de euros.

Prova desta determinação de Marques Mendes é, sem dúvida, a intransigente firmeza com que, sem apelo nem agravo, afastou Santana Lopes da Câmara de Lisboa.
Mas muito principalmente foi também o recente desafio ao mais anquilosado «aparelhismo» partidário do PSD, quando recusou o apoio político e a ratificação das candidaturas de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras e de Valentim Loureiro à Câmara de Gondomar.

Marques Mendes tem razão: a imagem que se colaria ao PSD com as candidaturas destes dois «dinossauros» laranja, ambos arguidos em processos crime e em acusações que ainda não conseguiram explicar, seria de difícil gestão política no futuro.
Ser-lhe-ia atirada à cara todos os dias, tal como ele próprio atirou Fátima Felgueiras à cara de Guterres.
Ou como agora atirarão Nobre Guedes à cara de Paulo Portas.

A determinação de Marques Mendes na manutenção da sua decisão é inevitável. Até porque qualquer recuo agora significaria o seu automático suicídio político. E isso, ele sabe-o bem.

Mas Marques Mendes tem ainda algumas explicações a dar: para já terá de fazer entender porque motivo fez cair Isaltino Morais e Valentim Loureiro, mantendo ao mesmo tempo o apoio à candidatura à Câmara de Leiria de Isabel Damasceno, igualmente arguida no processo «apito dourado».
Depois, terá de explicar muito bem os seus critérios de rigor político-partidário na próxima bacorada ou alarvidade que ouvirmos a Alberto João Jardim.

Mas há ainda outro fenómeno que Marques Mendes terá de saber gerir mesmo muito bem:
É que tanto Isaltino Morais como Valentim Loureiro anunciaram que, mesmo sem o apoio do PSD, concorrerão como independentes às respectivas Câmaras Municipais.

E por muito que ambos tenham ainda que explicar à justiça, e por muito que isso choque os mais básicos fundamentos de ética política, uma coisa é certa: é mesmo muito provável que as ganhem!


terça-feira, 10 de maio de 2005

 

Fahrenheit 451


Pela mão deste amigo, chegou a minha vez de ser apanhado por este interessantíssimo desafio - Fahrenheit 451 - que anda há uns tempos por essa Blogosfera fora (já nem sei quem é o seu autor original).

Ao pensar nas respostas que me são pedidas sou assaltado por um sentimento de culpa, talvez mesmo uma espécie de vergonha, quando vejo como tenho lido tão pouco nesta última meia dúzia de meses.
Se calhar nem sequer «a falta de tempo» seja já a desculpa mais adequada. Mas o cansaço do trabalho, a televisão e até a porcaria do Blog são desculpas muito esfarrapadas, não são?...
Mas, de qualquer modo, aqui vai:


Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Que livro quereria eu ser?
Eu sou o «Do Androids Dream of Electric Sheep?» de Philip K. Dick!

Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
É difícil ler Steinbeck sem ficar a ser amigo de cada personagem, que parece que ficamos a conhecer intimamente, ao ponto de anteciparmos as suas reacções e vivermos intensamente as suas vidas. E até de ficarmos com a sensação de termos perdido um amigo quando chegamos à última página do livro.

Mas se alguma vez uma personagem de ficção me deixou apanhadinho do miolo, foi o Deckard, o Blade Runner do filme de Ridley Scott (interpretado por Harrison Ford), e a sensação estranha com que ficamos no final da história de que, afinal, também ele é um «replicant».
E não o seremos todos nós?...

Qual foi o último livro que compraste?
Infelizmente talvez os últimos 10 livros que comprei são de direito.
Mas talvez isso não conte.
É pena, porque era muito bem feito compartilhar com os leitores deste blog a estopada da sua descrição...
Assim a meio termo, comprei o livro do Carlos Cruz «Preso 374» que li de um fôlego, angustiado com o estado da nossa justiça.
Depois, comprei o «Inside Out» do Nick Mason, o «The Colours of Infinity», de Ian Stewart e Arthur C. Clark, entre outros (e que vem acompanhado de um cd do David Gilmour) e o «Pink Floyd: The Press Reports» de Vernon Fitch (é proibido dizer coisas como «Pronto! Eu já sabia...»).
Comprei ainda «Uma Antologia» de W. B. Yeats, agora reeditada pela Assírio e Alvim e com uma brilhante tradução de José Agostinho Baptista. Mas confesso que ainda só li algumas páginas soltas.
Se também contar, ofereceram-me «O Sonhador Pragmático» de Melo Antunes, que está já na bicha para ser lido em breve.
Finalmente, não resisti a comprar o «Nus de Pessoas Famosas» de Jon Stewart, o apresentador do «Daily Show»

Qual foi o último livro que leste?
Se não contarmos com o «Código Da Vinci», de Dan Brown, li «Um Mundo Infestado de Demónios» de Carl Sagan e as «Cartas de Jack London».

Que livros estás a ler?
Essa pergunta é traiçoeira, porque sou levado a admitir que é o «Anjos e Demónios» do Dan Brown.
Mas também é verdade que em cima da mesa de cabeceira já está o «Memoria de mis putas tristes» de Gabriel Garcia Marquez, «A Minha História» de Hillary Clinton e, à procura de melhores dias, novamente o «Ulisses» de James Joyce, desta vez na tradução portuguesa, que a «brasileira» era uma merda.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Como não podia deixar de ser, o inigualável «Do Androids Dream of Electric Sheep?» de Philip K. Dick. Será que a ilha deserta tem dvd?
Depois, tinha de levar Eça de Queirós. Talvez «Os Maias» e «O Crime do Padre Amaro», sem dúvida exemplos do melhor que já se escreveu neste planeta.
Steinbeck também. Podia ser «A Um Deus Desconhecido» e, como é óbvio, o «Inverno do Nosso Descontentamento».
E como não podia deixar de ser, Somerset Maugham. O «Ah King!», claro.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Pessoas que merecem sofrer a minha vingança?
Deixa cá ver...

O Carlos Esperança – porque compartilhamos as mesmas veemências;
O João Costa – porque compartilhamos algumas veemências;
O Rodrigo Moita de Deus – porque não compartilhamos as mesmas veemências.


segunda-feira, 9 de maio de 2005

 

Uma Nova Cruzada


De repente isto tornou-se assustador!

Em Timor-Leste a iniciativa da Igreja Católica local, levada a cabo pelos seus dois bispos, de comandar um bando de insurrectos num desafio à autoridade do Estado e de um Governo democraticamente eleito acaba de produzir resultados.

De facto, para «precaver problemas futuros» o Governo e a hierarquia católica de Timor-Leste acordaram na criação de um grupo de trabalho, onde terão assento representantes do Governo e de responsáveis eclesiásticos, e onde serão tomadas algumas das futuras decisões do país.
Para já, sabe-se que será mantida a disciplina de religião católica como cadeira curricular, e que a prática da prostituição, ainda que voluntária, passará a ser definida como crime.
Do alto da sua magnanimidade os dois bispos acabaram por concordar que a interrupção voluntária da gravidez apenas não será considerada crime quando «for absolutamente necessário evitar a morte da mãe», recusando-se no entanto a aceitá-la mesmo nos casos de violação da mulher ou de malformação do feto.
Finalmente, foi garantida a amnistia dos manifestantes que, decerto em nome de deus, feriram polícias à pedrada e torturaram «suspeitos» nas próprias casas dos bispos e com a complacência destes.

Em Espanha, os mais altos responsáveis católicos persistem em desafiar a autoridade do Estado, apelando à desobediência civil às leis que não se enquadrem nos cânones determinados pelas autoridades de outro Estado - o Vaticano - e que, pelos vistos, os cardeais e bispos espanhóis valorizam mais do que as do seu próprio país.

Dos Estados Unidos chegam sinais preocupantes da crescente influência das mais fundamentalistas e fanáticas seitas cristãs, quer nos governos estaduais quer no próprio governo federal.
De tal forma que se preparam iniciativas legislativas que conduzirão em muito breve prazo ao afastamento definitivo de qualquer conceito de Estado laico, considerado um perigoso «mito socialista».

Em pleno século XXI, aos poucos mas sistematicamente, prepara-se na única super-potência do planeta a instalação de um Estado Teocrático, com a imposição intransigente de valores de inspiração divina, como o ensino obrigatório do «criacionismo».
Com a consequente proibição do ensino da Teoria da Evolução, obviamente considerada herética.
Simultaneamente preparam-se lobbies para a elaboração de leis federais que passarão a considerar a blasfémia, a apostasia e a sodomia como crimes puníveis com a pena de morte.
Mas mais: preparam-se novas definições de actos que passarão a ser considerados bruxaria, que passará igualmente a ser um crime punido com a morte.

Como se não bastasse, e depois de não terem conseguido sucesso o ano passado, esta mesma gente tenta agora uma vez mais limitar as possibilidades de recurso para o Supremo Tribunal, impedindo a apreciação de decisões de tribunais ou autoridades administrativas que tenham sido proferidas de acordo com o «reconhecimento de deus como a soberana origem da lei, da liberdade ou de um governo».

De facto, de repente tudo isto se tornou muito assustador.
Pode até pensar-se que o que se descreveu «é mau demais» e é de tal forma aberrante que pura e simplesmente não poderá vingar e ser efectivamente levado à prática.
Mas, o que é verdade é que por todo o planeta são cada vez maiores os sinais da crescente influência das religiões – todas elas – nos domínios dos Estados e da vida dos cidadãos.
Com a complacência e até a colaboração bem activa de muitos chefes de Estado, como é o caso do presidente americano George W. Bush.

Que haja pessoas que queiram determinar a sua própria vida de acordo com as suas convicções, a sua fé, ou a sua religião – acho muito bem.

Como Voltaire, sou o primeiro a dizer:
«Não concordo com o que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo".

Mas não é isso que está em causa.
O que se passa é que essa mesma gente, cujos direitos eu não hesitaria em defender, em troca procura sistematicamente privar-me dos meus próprios direitos!
E acha-se detentora de uma qualquer inspiração divina que lhe concede a misteriosa e esotérica obrigação de determinar a minha vida, de me impor as suas convicções e os seus valores éticos e morais, e de me obrigar ao cumprimento de ritos e práticas medievais de uma religião que não perfilho.

E que, por ridícula e risível que me pareça, não procuro proibir.

Trata-se, na verdade, de uma nova cruzada!
Não uma cruzada de exércitos de mercenários e de escravos arrebanhados um pouco por todo o lado, e que invadem os países onde se praticam religiões distintas, violando, pilhando e devastando tudo à sua passagem.
Pelo contrário, esta nova cruzada procura agora insidiosamente minar e destruir, um a um, os mais básicos conceitos do Estado de Direito, até conseguir finalmente a instauração de um Estado teocrático ou "talibã", que pura e simplesmente elimine qualquer oposição que se atreva a surgir.

Não sei se algum dia terá sucesso.
Mas uma coisa é certa: mesmo que não concordem com o que eu digo, defenderei até a morte o MEU direito de dizê-lo!

domingo, 8 de maio de 2005

 

O Pequeno Almoço

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sexta-feira, 6 de maio de 2005

 

O Último Caso


O Dr. Miguel Trindade (vamos chamar-lhe assim), era um famoso advogado aqui duma das comarcas limítrofes de Lisboa.

Exuberante, extrovertido e «espalha-brasas», devia a sua fama mais à publicidade que fazia a si próprio do que à ciência jurídica de que era dotado e que, frequentemente, parecia colada com cuspo.

Mas o Dr. Miguel Trindade tinha outras particularidades: por exemplo, em vez de pedir aos clientes simples procurações forenses para os representar em juízo, pedia-lhes sempre procurações notariais com plenos poderes para tudo e mais alguma coisa.
Por isso, quando se concretizava qualquer transacção judicial formalizada numa escritura pública, o cliente nem aparecia: o Dr. Miguel Trindade representava-o plenamente.
Mas o que o Dr. Miguel Trindade não explicava era a persistente diferença que parecia sempre haver entre os números do negócio realizado e aqueles que eram transmitidos ao cliente.

Uma vez ganhei-lhe uma acção de algum relevo em que fui seu oponente. Como é óbvio, de imediato comuniquei as boas notícias ao meu cliente, alertando-o, contudo, para a probabilidade da outra parte vir ainda a recorrer.
Nessa mesma noite o meu cliente telefonou-me assustado: não me teria eu enganado? É que tinha surpreendido o Dr. Miguel Trindade num restaurante, a comemorar efusivamente com os seus clientes a vitória nessa acção. Até já lhes tinha cobrado os honorários correspondentes ao grande sucesso obtido.
Provavelmente planeava dizer-lhes mais tarde que eu tinha recorrido e ganho o recurso. Mas os honorários... esses já lá cantavam.

O último caso do Dr. Miguel Trindade é simples de contar:

Era uma acção de despejo em que o Dr. Miguel Trindade representava o senhorio.
Já no decorrer da acção, chegaram a acordo com o inquilino, um guarda da G.N.R. já aposentado: o inquilino nem contestava a acção e abandonava a casa no prazo de 3 meses; no acto da entrega da chave o senhorio pagava-lhe uma determinada quantia, equivalente hoje a cerca de 5.000 contos.
Simples!
Como era tudo gente de palavra nem sequer foi preciso escrever nada.
O Dr. Miguel Trindade ficou como intermediário do negócio e, por isso, o senhorio entregou-lhe logo o dinheiro, «em notas de banco», que ficou à sua guarda como garantia.
O guarda da GNR juntou então todas as economias da sua vida (cerca de 4.000 contos) e deu entrada para uma nova casa. Com os 5.000 contos que receberia do senhorio, pagaria um reforço desse sinal.
O remanescente do preço da casa seria pago por intermédio de um empréstimo hipotecário de 9.000 contos, o máximo que o banco lhe emprestava face aos parcos rendimentos proporcionados pela sua pensão.

No dia combinado, o inquilino entregou a chave da casa do senhorio no escritório do Dr. Miguel Trindade.
Mas nesse dia o inquilino não recebeu a quantia em dinheiro combinada, porque o Dr. Miguel Trindade, segundo explicou, tinha deixado acabar os cheques.
Nem nesse dia nem nos dias seguintes.
Nem sequer quando o inquilino lhe explicou que precisava urgentemente dos 5.000 contos para o reforço do sinal da sua casa nova, e que, se não o pagasse, perderia o sinal já dado, em que tinha investido todas as suas economias, o Dr. Miguel Trindade se condoeu.
Só quando o guarda da GNR explicou claramente que se não recebesse os 5.000 contos ficava com a família no olho da rua, sem casa e sem dinheiro, o Dr. Miguel Trindade foi finalmente claro: ninguém o tinha mandado ser parvo, pois não tinha ficado nada escrito e a acção de despejo nem sequer tinha sido contestada; agora, se ele queria o dinheiro, «que fosse receber ao Totta».

Nesse mesmo dia, o guarda da GNR esperou o Dr. Miguel Trindade à porta do restaurante onde almoçava todos os dias.
Quando o viu sair, aproximou-se dele e desfechou-lhe dois tiros no peito à queima roupa.

O Dr. Miguel Trindade teve morte imediata.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

 

Adeus, Vanessa!


A Vanessa tinha cinco anos.
Vivia com o pai e com a avó, no Bairro do Aleixo, no Porto.
O pai tem 25 anos, é toxicodependente e está desempregado. A avó é costureira e vive do Rendimento Mínimo Garantido.

Mas a Vanessa não era uma menina como as outras.
A Vanessa não brincava com as outras crianças, pois nem sequer ia à escola. Ficava todo o dia em casa com a avó.
Quando a avó tinha de sair e não a podia levar, fechava-a na despensa durante horas a fio, sozinha.
A Segurança Social que acompanhava aquela casa, nem sequer sabia da sua existência.

A Vanessa não tinha ouvido falar (e se tivesse não teria compreendido) do caso da pequena Catarina.
A Catarina tinha vivido ali perto, em Ermesinde.
A Catarina morreu o ano passado, vítima de maus tratos e de repetidos abusos sexuais, praticados pelo próprio pai e pela tia.
A sentença do tribunal que os condenou a 14 anos de prisão precisou de 104 páginas para descrever a invulgar brutalidade do crime.
A Catarina tinha dois anos.

A Vanessa já tinha cinco.

O mundo da Vanessa era o pai e a avó.
Provavelmente amou-os do fundo do seu pequeno coração.
E confiou neles.
Não tinha mais ninguém.

Não tinha mais ninguém que lhe contasse uma história à noite na cama.
Que lhe aconchegasse os cobertores nas noites frias de Inverno.
Que lhe respondesse à sua curiosidade sobre as coisas deste mundo.
Que a confortasse e a abraçasse com força a meio da noite, depois de um pesadelo.
Que a ouvisse cantar e dançar. E a rir.
Que às vezes lhe desse um beijo.
Que a amasse.

Mas não. A pequena Vanessa não teve essa sorte.
Em vez disso, o pai e a avó bateram-lhe selvaticamente.
Fria, metódica e sistematicamente.
Nem lhe deram tempo para viver ou para sonhar. Nem sequer para brincar um pouco mais.
Bateram-lhe tanto, tanto, que a mataram!

Que teria pensado a Vanessa enquanto a avó e o seu próprio pai a matavam lentamente?
Quantas vezes terá perguntado a si própria porquê?
Que tristeza, que desilusão, que sofrimentos terá vivido?
Que solidão terá sentido?

O seu corpo pequenino tinha múltiplas marcas de fracturas, algumas já antigas, e tantas equimoses que até metia dó.
Para esconderem o seu crime, o pai e a avó inventaram um rapto numa feira, e atiraram o seu corpo ao rio Douro.
Apareceu a boiar, ao pé do cais.

Disseram as vizinhas, na televisão, que a Vanessa era muito bonita e tinha uns lindos olhos azuis.

Adeus, Vanessa!

quarta-feira, 4 de maio de 2005

 

A Revista da Mulher de Verdade

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De facto, uma boa revista nunca perde a actualidade...

(Clicar na imagem para a ampliar)



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segunda-feira, 2 de maio de 2005

 

A Arrogância Bávara



O Luís, o Jorge, o Orlando e o Mané tinham um jeep UMM lindíssimo com que se dedicavam ao seu passatempo favorito: as corridas de todo-o-terreno.

Mas o crescente desgaste do jeep (clicar na imagem para a ampliar), as sucessivas mudanças regulamentares daquele tipo de desporto automóvel, aliados à falta de patrocínios publicitários obrigou-os a reconhecer que aquela brincadeira estava a ficar cara demais.
Tomaram então uma decisão: vender o jeep e todo o equipamento de competição.
Mas desde logo foi combinado entre todos que o dinheiro obtido seria depositado numa conta bancária – que foi aberta em nome do Jorge – e seria utilizado especificamente para a compra de uma moto para cada um.
E assim foi.

Num belo dia da Primavera do ano de 1998 o Luís descobriu uma espectacular moto BMW F-650, à venda num stand da «Baviera», precisamente a concessionária da marca.
Apesar de usada estava em excelente estado e o preço era convidativo: 800 contos.
Sem hesitar, o Luís fechou o negócio.
O Jorge passou o cheque (da parte do Luís da «conta do jeep»), e entregou-o à «Baviera».
No dia combinado a «Baviera» entregou a moto ao Luís e ainda uma «autorização de circulação válida por 30 dias».

Mas, passados os 30 dias da validade da tal «autorização de circulação» o Luís verificou que a «Baviera» não havia meio de por a moto em seu nome ou de lhe dar os respectivos documentos.
Foi ao stand.
E foi então que as coisas começaram a correr mal!

Apesar de há muito ter descontado o cheque e de ter feito seu o dinheiro, a «Baviera» participou ao Luís que se recusava a por a moto em seu nome se o emitente do cheque (o Jorge) não passasse uma declaração a autorizar essa operação.
Repare-se que a «Baviera» não se limitou simplesmente a «pedir» a emissão da estapafúrdia e inútil declaração (o que provavelmente teria merecido uma reacção diferente): exigiu-a arrogantemente numa inesperada chantagem, participando que, das duas uma: «ou vem a declaração ou não há documentos da moto p’ra ninguém».

Mas se as coisas começaram mal, pior continuaram.
Tentou-se marcar reuniões: a «Baviera» não quis reunir;
Escreveram-se cartas: nenhuma resposta foi dada.
Finalmente, quando o Luís pediu para falar pessoalmente com o responsável daquela área da «Baviera», puseram-no ao telefone com um cavalheiro do Porto que, sem sequer o deixar falar, lhe participou secamente:
- Ó meu caro amigo: eu não tenho nada a falar consigo porque aí em Lisboa já lhe explicaram tudo direitinho várias vezes. É simples: ou nos dá a declaração ou não há documentos.
E desligou-lhe abruptamente o telefone na cara!

Como é óbvio, lá foi o caso para tribunal.

Na acção que intentou o Luís pediu (basicamente) que o tribunal condenasse a «Baviera» a reconhecer a sua propriedade sobre a moto e a pagar-lhe uma indemnização que o compensasse da perda da sua utilização e disponibilidade.
O montante da indemnização peticionado correspondia ao «valor económico» da moto, que se fez equivaler ao custo do aluguer de uma moto de características semelhantes: na ocasião cerca de 11 contos por dia.

No decorrer da acção ainda se tentou um acordo.
O Luís propôs o seguinte: a «Baviera» punha a moto em seu nome e pagava as custas do processo. Como «indemnização» simbólica, o Luís pediu somente que lhe emprestassem um BMW Z-3 por um fim de semana.
Mas a «Baviera» não aceitou este acordo.
E repetiu: «ou vem a declaração ou não há documentos da moto p’ra ninguém!».
E o processo prosseguiu.

A acção terminou agora há uns dias, e estão já esgotadas todas as possibilidades de recurso.

A «Baviera» foi condenada a pagar ao Luís uma indemnização que (calculados já os juros contados desde 1998) chega quase, quase, quase aos 7.000 contos...

domingo, 1 de maio de 2005

 

Ler os outros


1 – No «Renas e Veados», o comentário de um leitor (aparentemente um médico) a este post a propósito da objecção de consciência recomendada pelos responsáveis da Igreja Católica aos alcaides espanhóis a quem seja solicitada a celebração de um casamento entre homossexuais:

- Da próxima vez que tiver de fazer reanimação a um padre, vou invocar objecção de consciência!...

2 – No «Portugal dos Pequeninos», este post do João Gonçalves a propósito do «Acórdão de Ponta Delgada» e que, apesar de constituir um tema que anda por essa blogosfera fora, está aqui soberanamente escrito.

3 – No «Barnabé», e ainda a propósito do «Acórdão de Ponta Delgada», este post do Daniel Oliveira, que desconstrói a inesperada indignação de Miguel Sousa Tavares sobre o tema.

4 – No «Bloguitica», este post do Paulo Gorjão «O KIT-KAT DA BT-GNR», a propósito da estranha atenção selectiva da Brigada de Trânsito da GNR aos infractores ao Código que circulam nas nossas auto-estradas.

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