segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

 

As Horas de Maria



Foi já no distante ano de 1978 que estreou no cinema «Nimas» em Lisboa o filme «As Horas de Maria», com argumento e realização de António de Macedo.

O argumento do filme parece-me hoje até um bocado ingénuo.
Mas recordo que foi muitíssimo acesa a polémica que o filme levantou naquela época, com muito boa gente a defender a sua pura e simples proibição, e a querer traçar ali mesmo os limites para a liberdade de expressão em Portugal.

O argumento andava à volta de uma jovem cega, Maria, que é supostamente violada pelo padrasto e é internada em isolamento num hospício.
Sob a apertada vigilância de um médico impotente e de uma tia freira católica, de um fanatismo exacerbado, Maria vive as suas horas completamente obcecada à espera de um milagre de Nossa Senhora de Fátima que nunca chega.

Muitas imagens bíblicas e uma interpretação muito própria da vida de Jesus Cristo, cuja ressurreição, por exemplo, é atribuída a um irmão gémeo que entra em cena após a sua morte na cruz, foram suficientes para a polémica e para a autêntica ira que varreu as hostes católicas portuguesas.

O realizador foi insistentemente perseguido, e um dos membros da equipa de cineastas foi mesmo espancado violentamente na rua.

Confesso que foi precisamente esta polémica que me fez na ocasião ir ao «Nimas» ver o filme.
E por isso tive oportunidade de viver a sensação única de, depois do filme acabar, ter de sair de uma sala de cinema sob a protecção de uma escolta policial!

Porque durante todo o tempo em que o filme esteve em exibição, havia invariavelmente algumas dezenas de entusiasmados militantes católicos que em frente ao cinema, e da placa central da Avenida 5 de Outubro, por entre ladainhas e terços que rezavam pela conversão dos infiéis espectadores (e como se isso não bastasse), ainda os insultavam até à 3ª geração e os apedrejavam com paralelepípedos que arrancavam dos passeios.

Enfim:
Mais um bom exemplo do que é na realidade a tolerância católica e de como é interpretado e levado à prática pelos mais fiéis militantes da Igreja Católica Apostólica Romana o amor ao próximo como mandamento divino.




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