quinta-feira, 3 de novembro de 2005

 

Só algumas perguntinhas...



Vamos imaginar que eu sou ministro das obras públicas.

Vamos supor que eu quero lançar algumas obras públicas de grande impacto, como por exemplo, deixa cá ver, e assim ao acaso: uma grande ponte, duas auto-estradas, duas vias rápidas e um importante nó rodoviário.

Vamos agora supor que eu exijo, para mim pessoalmente, às empresas vencedoras dos respectivos concursos públicos uma grande quantia em dinheiro ou qualquer outra vantagem, patrimonial ou não.
O que é que isto faz de mim?
A resposta não podia ser mais simples: eu seria um declarado corrupto!

Vamos também supor que as exigências que eu faço, quer fossem em dinheiro ou em qualquer outro tipo de vantagem, patrimonial ou não, desta vez não eram para mim, mas para uma pessoa de família, por exemplo.
O que é que isto faz de mim?
A resposta continua simples: eu seria um inqualificável corrupto!

Vamos ainda supor que as exigências que eu faço se destinam não a mim ou a uma pessoa de família, mas ao partido político que me colocou no meu rico lugar de ministro das obras públicas, uma vez mais quer em dinheiro quer, por exemplo, uma vantagem política ou eleitoral?
O que é que isto faz de mim?
A resposta é cada vez mais simples: eu seria um refinado corrupto!

E, neste último caso, o que seria o secretário-geral do meu partido, que por inerência era também primeiro-ministro do governo onde eu era ministro das obras públicas e que obviamente sabia de tudo?
A resposta é, uma vez mais, muito simples: também o secretário-geral do meu partido e primeiro-ministro do meu governo era, tal como eu, um alternadíssimo corrupto!

Bem: parece que até aqui estamos todos de acordo.

Então agora vamos supor que as obras que eu tenho em mãos como ministro das obras públicas eram, por mera hipótese, assim, deixa cá ver e ao acaso, o Nó da Buraca, a A-8 até Torres Vedras, a CREL, a IP4, a IP5 e até a Ponte do Freixo.

Vamos agora supor que eu pago a todas as empresas que estão a executar as obras, generosas quantias em dinheiro para os trabalhos serem apressados e ficarem prontos antes de um acto eleitoral que se aproxima (vamos supor que só para a Ponte do Freixo eu pago, por exemplo, assim um número à toa, 800.000 contos a mais), mesmo que isso se reflicta na qualidade final das obras.

Vamos agora até supor que, por causa das pressas, alguns troços e túneis das auto-estradas tenham de ser fechados para reparações depois de realizadas as eleições (com novos custos acrescidos, claro), e que as pessoas morrem e continuam a morrer como tordos em troços assassinos da IP4 e da IP5, ou no fim da CREL em Alverca.
Tudo isto, a confrangedora qualidade final dos trabalhos (com todas as consequências que disso advêm) e todo o dinheiro gasto a mais, só por causa das vantagens políticas e eleitorais que eu, como ministro das obras públicas, quis obter para o meu partido com a antecipação do fim das obras para antes das eleições.

Posta esta hipótese, meramente imaginária, claro, então agora é só mais duas perguntinhas:

O que é que tudo isto faz de mim, ministro das obras públicas?
E o que é que tudo isto faz do secretário-geral do meu partido e primeiro-ministro do meu governo?

Pois é!...




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