sexta-feira, 21 de outubro de 2005

 

O Voto no Escuro



Em pose friamente calculada, mas numa postura artificial de manequim de alfaiate a que não consegue de maneira nenhuma fugir, Aníbal Cavaco Silva anunciou a sua candidatura à presidência da república.

Fazendo uma longa arenga ao seu currículo político, Cavaco Silva acabou por pedir aos portugueses o cheque em branco de um voto no escuro.

Decerto não levará o meu!


Já aqui o disse, um candidato a Presidente da República celebra com os seus eleitores um «contrato político», prefigurando-lhes uma actuação política de acordo com uma determinada ideologia, que deve esclarecer inequivocamente qual é e que tem de enquadrar devidamente numa determinada área política.
Cavaco, habilidosamente não o faz, jogando não só nesta indefinição como ainda na capitalização da tecnocracia do seu passado como Primeiro-ministro.

Sabendo que há uma franja do eleitorado que votará em si de olhos fechados, e buscando o descontentamento dos votos do centro que lhe sobram do desgaste do Governo do PS e, como afirmou, da «descrença e do pessimismo instalados», ao fim e ao cabo Cavaco não nos diz qual a proposta da sua intervenção política na vida de Portugal.

No «contrato político» que nos propõe, Cavaco Silva não esclarece, por exemplo, como vai utilizar uma das principais armas que o regime semi-presidencialista põe ao dispor do Presidente da República, e que é o poder de promulgar ou vetar as leis que lhe sejam submetidas para aprovação.

Cavaco promulgaria ou vetaria uma nova lei do aborto?
E uma lei que visasse a institucionalização da comunhão de facto entre casais homossexuais?
Ou a adopção de crianças por homossexuais?
E uma lei que determinasse o ensino obrigatório da religião católica nas escolas?
Que pensa actualmente Cavaco sobre a regionalização?
O que pensa da «Constituição Europeia»?

Que posição política tem Cavaco perante estes aspectos tão actuais como fracturantes da sociedade portuguesa?
Ninguém sabe!

E como reagiria Cavaco a uma iniciativa governamental que previsse a criação de um novo aeroporto, do lançamento do T.G.V. ou de uma nova S.C.U.T?
Será que Cavaco do alto da sua cátedra de economista discordaria "tecnicamente" do Governo e, buscando o «desenvolvimento equitativo» que anunciou, utilizaria uma espécie de novo «veto económico» presidencial para impedir estas medidas?

É isto que Cavaco não esclarece!

É a sua actuação, nestes e muitos outros casos, que ninguém prefigura.
Nem mesmo os que lhe irão sempre e em qualquer circunstância, sabujamente e de olhos fechados, dar o seu voto, simplesmente porque «não querem saber destas coisas», porque encolhem os ombros e dizem que «se calhar não é bem assim», ou ainda simplesmente porque «vão com a sua cara» ou lhes parece que ele se aproxima mais da sua área política.

Precisamente os mesmos que agora parecem esquecer os piores tempos dos «anos negros do cavaquismo» e do descalabro político-económico em que Cavaco Silva deixou o país e que ainda hoje estamos a pagar.
E de que maneira!

Os mesmos que persistem em ver neste manequim de Boliqueime, babado de bolo-rei pelos cantos da boca, perfil para representar Portugal nas mais altas instâncias internacionais.




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