quarta-feira, 22 de junho de 2005

 

A Radiestesia



Uma das mais frequentes reclamações das pessoas que se arrogam possuidoras de poderes «paranormais» reside na sua crença na «radiestesia», a quem os seus mais fervorosos adeptos se referem como «a ciência milenar do uso da intuição» ou a «ciência» que analisa qualitativamente todas as radiações, o homem e o seu «ambiente vibratório».

A mais popular e divulgada forma de radiestesia é a praticada talvez há mais de dois mil anos pelos vedores.

Munidos de uma vara de salgueiro bifurcada, de uma barba de baleia, de pêndulos ou de outros imaginativos artefactos, os vedores são tidos por miraculosos descobridores de água e de outros minerais no subsolo, e até de objectos e crianças perdidas.
E, como toda a gente sabe, a aliança de casamento de uma mulher grávida a girar pendurada de uma linha é o instrumento ideal para se determinar o sexo de uma criança por nascer.
Só é pena que este método não se aplique a mães solteiras...

Há até radiestesistas que, tendo descoberto a «visão holística da obesidade», afirmam peremptoriamente que conseguem tratar pessoas obesas com o simples recurso a um pêndulo.

Afirmam os radiestesistas que os instrumentos que usam funcionam como «amplificadores» de imperceptíveis reacções neuromusculares, imprimidas pelo subconsciente em função do objecto que se procura ou da pergunta que foi feita.
As respostas são dadas e interpretadas pelos movimentos próprios dos instrumentos que são utilizados, através de uma linguagem pré-estabelecida e convencionada, a que se chama «convenção mental».

Por vezes utilizam-se «testemunhos», que são objectos ou representações daquilo que se procura, e que ajudam o radiestesista a estabelecer uma ligação, uma sintonia ou uma conexão, de acordo com o princípio «semelhante atrai semelhante».

A radiestesia está dividida em duas grandes correntes:
A «Escola Física» que procura explicar o fenómeno da radiestesia através das leis da física, e pelas variações e perturbações magnéticas produzidas nos campos eléctricos, magnéticos e gravitacionais dos objectos, que diz serem captadas pelo organismo do radiestesista.
Para esta corrente, os objectos são caracterizados por «oito raios», cuja análise, dizem, escapa completamente à ciência: o vertical, o testemunhal, o fundamental, o solar, o capital, o ocular, o de forma e o de série.

A «Escola Mental» explica a radiestesia dentro dos fenómenos da mente humana pois, se é óbvio que existe uma radiação entre o objecto procurado e o operador, e se ela não provém da matéria, então só pode vir do operador. Ou seja, o cerne da radiestesia está na mente do operador e não nos agentes físicos externos.



O site de James Randi constitui uma preciosa fonte de informação sobre esta matéria, mais exactamente este artigo, a que, entre outros, recorri para escrever este post.


O desafio que James Randi faz no seu site (e a que já me referi anteriormente), ao oferecer o prémio de 1 milhão de dólares à primeira pessoa que lhe demonstre possuir poderes paranormais, não poderia deixar de se aplicar aos vedores.

Por isso, nada menos do que 43 “profissionais” da matéria se candidataram já ao prémio.
Contudo, instados a descobrir água em reservatórios escondidos ou no subsolo de terrenos por explorar, nenhum deles logrou demonstrar maior percentagem de sucesso que o simples acaso lhes proporcionaria.
Numa das experiências, um conhecido vedor teve mesmo um resultado de descobertas inferior ao que foi obtido por uma pessoa a quem foi pedido para indicar lugares de pesquisa perfeitamente aleatórios.

Mas, o que é facto, é que os vedores vão prosperando à custa da generalizada crença na realidade dos seus poderes. Alguns deles, tidos por mais competentes, chegam a acompanhar equipas profissionais de perfuração e levam autênticas fortunas pelas suas “descobertas”.

Cada vedor tem o seu método de trabalho e pesquisa, frequentemente muito distintos uns dos outros, como diferentes são as explicações que eles próprios atribuem aos seus «poderes».
Alguns acreditam que são dotados de um poder natural divino e outros dizem que é uma arte que se aprende. Uns afirmam que qualquer um pode ser vedor e outros defendem que se trata de um dom hereditário.

Mas todos parecem justificar os seus insucessos pela falta de uma genuína «necessidade humana» na pesquisa que lhes foi encomendada, embora quase todos eles reclamem uma percentagem de sucesso tendencialmente de 100%.
Mas, claro, desde que não haja «interferências exteriores» que prejudiquem a sua eficácia, como inesperados campos magnéticos, fios eléctricos, máquinas em movimento, meteoritos enterrados, conjunções planetárias desfavoráveis, condições impróprias de temperatura e humidade, massas metálicas desconhecidas, cursos de água subterrâneos, demasiado barulho ou demasiado silêncio no ambiente, atitude desfavorável por parte das pessoas assistentes e, pasme-se, até mesmo problemas digestivos, etc., etc.

James Randi explica a movimentação das varas dos vedores ou a rotação dos pêndulos dos radiestesistas como decorrente de um fenómeno psicológico conhecido como «ideomotor effect» ou (à falta de melhor tradução) «efeito ideomotor», que define como:
«movimento corporal involuntário originado não por uma estimulação sensorial, mas antes por uma ideia ou por um processo mental».

Ou seja, sem se aperceber, o vedor exerce inconscientemente um pequeno movimento ou uma leve pressão sobre a vara, suficiente o bastante para a mover.
No final a «descoberta» deve-se simplesmente à grande probabilidade que existe de se encontrar água quando se faz uma perfuração num sítio qualquer de um terreno onde já se prevê que ela existe, isto é, precisamente aquele onde o vedor é levado a «trabalhar».

Mas, como todos os «possuidores de poderes paranormais», os vedores não se deixam abalar por argumentos, por mais científicos e imparciais que sejam, e que conduzam à conclusão de que pura e simplesmente a radiestesia... não funciona!
À falta de melhor argumento dizem que a radiestesia obedece a regras muito especiais com milhares de anos e que, por isso, não poderá nunca ser testada pela ciência tradicional.


Mas, de qualquer modo, e diga-se em abono da verdade, a maior parte dos vedores (que haverá excepções, decerto) acredita genuinamente nos seus «poderes» e, tanto como lhes parece autónomo o movimento da vara ou do pêndulo, os vedores podem estar sinceramente convencidos das suas faculdades, quanto o estará uma outra pessoa qualquer, sujeita que está ao tal «efeito ideomotor».

Ao contrário de um astrólogo, de um tarólogo, ou de um qualquer outro bruxo congénere, em cuja honestidade, sinceramente, não consigo acreditar.



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