quarta-feira, 11 de maio de 2005

 

O Líder da Oposição


Marques Mendes, o novo Presidente do PSD é, de facto, um político notável.

Dotado de um instinto político inato, tem determinado e influenciado nos últimos anos, de uma maneira ou de outra, a maior parte das iniciativas políticas do PSD e dos Governos de que fez parte.
Estou até convencido que muito provavelmente o próprio Governo de Santana Lopes teria tido outro destino se Marques Mendes dele tivesse feito parte, já que não lhe teria permitido metade das «trapalhadas» a que assistimos naqueles seis meses.

Será, por isso, um temível «líder da oposição», com quem os socialistas terão de lidar com muita cautela.

Marques Mendes percebeu já, desde o primeiro dia, que a oposição ao Governo socialista tem de ser feita não com slogans mediáticos ou medidas «populistas», mas antes com apelo a uma imagem de rigor, seriedade, determinação e competência – precisamente os valores que levaram José Sócrates a Primeiro-ministro.

Depois de conseguir junto dos eleitores esse tipo de imagem, Marques Mendes só terá de esperar calmamente, e sem sequer fazer muitas ondas, o natural desgaste do Governo socialista e do próprio José Sócrates.
O que, como é óbvio, mais cedo ou mais tarde surgirá.

E Marques Mendes começou já a trabalhar nesse sentido, procurando simultaneamente devolver aos políticos, e à política de um modo geral, uma reputação de seriedade, que tanto dela tem andado afastada.

Mesmo sem ser preciso o aparecimento regular de escândalos e casos de polícia como o que agora envolve Luís Nobre Guedes e Abel Pinheiro – e por tabela também Telmo Correia – tendo aqueles sido já constituídos arguidos num caso de tráfico de influências com um perfume de milhões de euros.

Prova desta determinação de Marques Mendes é, sem dúvida, a intransigente firmeza com que, sem apelo nem agravo, afastou Santana Lopes da Câmara de Lisboa.
Mas muito principalmente foi também o recente desafio ao mais anquilosado «aparelhismo» partidário do PSD, quando recusou o apoio político e a ratificação das candidaturas de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras e de Valentim Loureiro à Câmara de Gondomar.

Marques Mendes tem razão: a imagem que se colaria ao PSD com as candidaturas destes dois «dinossauros» laranja, ambos arguidos em processos crime e em acusações que ainda não conseguiram explicar, seria de difícil gestão política no futuro.
Ser-lhe-ia atirada à cara todos os dias, tal como ele próprio atirou Fátima Felgueiras à cara de Guterres.
Ou como agora atirarão Nobre Guedes à cara de Paulo Portas.

A determinação de Marques Mendes na manutenção da sua decisão é inevitável. Até porque qualquer recuo agora significaria o seu automático suicídio político. E isso, ele sabe-o bem.

Mas Marques Mendes tem ainda algumas explicações a dar: para já terá de fazer entender porque motivo fez cair Isaltino Morais e Valentim Loureiro, mantendo ao mesmo tempo o apoio à candidatura à Câmara de Leiria de Isabel Damasceno, igualmente arguida no processo «apito dourado».
Depois, terá de explicar muito bem os seus critérios de rigor político-partidário na próxima bacorada ou alarvidade que ouvirmos a Alberto João Jardim.

Mas há ainda outro fenómeno que Marques Mendes terá de saber gerir mesmo muito bem:
É que tanto Isaltino Morais como Valentim Loureiro anunciaram que, mesmo sem o apoio do PSD, concorrerão como independentes às respectivas Câmaras Municipais.

E por muito que ambos tenham ainda que explicar à justiça, e por muito que isso choque os mais básicos fundamentos de ética política, uma coisa é certa: é mesmo muito provável que as ganhem!




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