terça-feira, 31 de maio de 2005

 

O Abutre


O Sr. Ilídio Ferreira foi presidente da Junta de Freguesia da Ramada, no concelho de Odivelas, durante década e meia.

Nascida de uma divisão da freguesia de Odivelas, a freguesia da Ramada é uma típica freguesia dos subúrbios de Lisboa: uma floresta de betão com prédios encavalitados, escassos equipamentos sociais e, claro está, nenhuma oferta cultural.

Eleito pelas listas da CDU, o Sr. Ilídio Ferreira é daqueles autarcas que tem a admiração e a incondicional estima da população. Por isso, quase nem precisava do incondicional apoio do PSD, que lhe proporcionou ao longo dos anos uma confortável maioria no executivo da Junta a que presidiu tanto tempo.
Desenvolveu, de facto, um excelente trabalho tentando humanizar a freguesia, e para isso criou imensos jardins e espaços verdes.
Assim de repente não me lembro de mais nada que tivesse feito, é certo.
Mas isso agora não interessa nada.

Clamou sempre publicamente contra a política urbanística da Câmara Municipal de Odivelas, cujo presidente foi eleito pelo PS, a quem acusou de promover a construção desenfreada na freguesia.
Claro que não refere que os alvarás de loteamento e as subsequentes licenças de construção foram todos concedidos aos promotores imobiliários do concelho pela antiga Câmara Municipal de Loures, na ocasião (e por mais de 20 anos) com executivo precisamente da CDU.
Mas isso agora não interessa nada.

Como é perfeitamente natural, a CDU está a tentar rentabilizar o capital de popularidade do Sr. Ilídio Ferreira e decidiu apresentá-lo como cabeça de lista à Câmara Municipal de Odivelas.
Faz a CDU muito bem.
E, o que é facto, é que a sua candidatura vai de vento em popa, com Blog de apoio e tudo!

Eu não voto na freguesia da Ramada, nem sequer no concelho de Odivelas.
Mas estava até capaz de me recensear por lá, só para ter uma posição marcante de NÃO VOTAR no Sr. Ilídio Ferreira.

Eu explico porquê:

Em Novembro de 2002 um autocarro de passageiros entrava em Odivelas, vindo da CREL pelo acesso da IC22.
Já no limite da freguesia da Ramada, quando passava numa descida íngreme, o autocarro perdeu subitamente os travões.
Com um sangue frio incrível, o motorista procurou conduzir o autocarro até ao fim da descida.
Ali chegado, tentou virar à direita. Mas a velocidade era já muita e o autocarro acabou por embater numa árvore e capotar sobre a sua lateral esquerda, caindo por cima de um muro.
Morreram 6 pessoas e 48 ficaram feridas.

Foram chamados os bombeiros que levaram mais de duas horas a desencarcerar as pessoas dos destroços do autocarro.
Acorreram os três canais de televisão, e todos fizeram «directos» do local do acidente.

Prontamente acorreu também ao local do acidente o Sr. Ilídio Ferreira, na qualidade de presidente da Junta de Freguesia da área do acidente.
Andava por ali de um lado para o outro com ar atarefado, e foi logo entrevistado pelas televisões.
Sob as luzes intensas das câmaras de televisão, com os flashes da máquinas fotográficas e com os microfones a procurar as suas palavras, o Sr. Ilídio até parecia uma estrela de cinema!
Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira entendeu por bem aproveitar a audiência nacional que inesperadamente lhe era proporcionada e resolveu capitalizar politicamente o acidente.
Mas o que dizer?
Como deitar as culpas do acidente para a Câmara Municipal?
Como culpar o presidente da Câmara?

Foi então que o Sr. Ilídio Ferreira, transmitido em directo pelos três canais de televisão, teve esta brilhante ideia:
Pôs-se ao lado do autocarro onde trabalhavam as equipas de desencarceramento dos Bombeiros de Odivelas e de onde apressadamente se retiravam cadáveres e feridos em estado grave para serem conduzidos ao hospital.
Depois, num gesto largo apontou toda a cena e declarou solenemente:

- Tudo isto é da responsabilidade da Câmara de Odivelas; tudo isto é culpa do presidente da Câmara; eu próprio já lhes ando a dizer há imenso tempo para... tirarem daqui esta descida...




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