domingo, 3 de abril de 2005

 

Karol Wojtila









Karol Josef Wojtila
(18 de Maio de 1920 – 2 de Abril de 2005)

Karol Wojtila foi eleito Papa da Igreja Católica no dia 16 de Outubro de 1978 e adoptou o nome de João Paulo II.
Sucedeu a João Paulo I, cujo pontificado durou somente 33 dias.
Foi o primeiro Papa não-italiano em 455 anos e o primeiro Papa de origem eslava da História da Igreja Católica.
João Paulo II beatificou quase 1.400 pessoas e canonizou sozinho mais santos do que todos os Papas antecedentes juntos.

Karol Wojtila ficou conhecido como o «Papa Peregrino» pelas suas inúmeras viagens pastorais por todo o mundo, onde arrastava multidões pela sua popularidade entre os católicos.
Contudo, o seu inflexível conservadorismo em questões sociais e eclesiásticas, bem como o seu extremo controle das hierarquias da Igreja, custaram-lhe as mais violentas críticas.

Foi relevante o seu papel nos palcos da política internacional por ocasião da queda do muro de Berlim e da derrocada do regime soviético.
Foi provavelmente essa intervenção que levou muitas pessoas a confundir o seu anti-comunismo com humanismo. Que, como é óbvio, não são necessariamente sinónimos.

De facto, no que se refere a questões de humanismo, Karol Wojtila será sem dúvida recordado pelas suas posições de incompreensível complacência pela pedofilia nas hierarquias da igreja, recolhendo sem hesitação os mais insignes acusados em reformas douradas e em lugares de prestígio no Vaticano.
O seu desprezo pelos problemas das minorias sociais, a persistente secundarização das mulheres, numa anacrónica misoginia, e a sua inflexibilidade perante os questões da homossexualidade, valeram-lhe acérrimas críticas durante todo o seu pontificado.

Foi também digna de nota a sua aproximação institucional às hierarquias de outras confissões religiosas, assim numa espécie de ecumenismo de religiões seleccionadas.

Na questão de Timor manteve-se silencioso durante todo o período de ocupação da Indonésia, que nunca condenou, nem sequer indirectamente.
Num silêncio por muitos considerado cúmplice, e que terá tido em vista a protecção dos interesses económicos das universidades e colégios católicos que a Igreja mantém em todo o Sudeste Asiático, maioritariamente muçulmano, João Paulo II nem sequer alguma vez se referiu aos massacres perpetrados durante os anos de ocupação.
Em visita a Timor, João Paulo II, ao contrário do era costume quando visitava pela primeira vez um país, não beijou o chão, porque já tinha estado anteriormente em Jacarta.
Assim deixando politicamente bem marcado que considerava Timor como parte politicamente integrante da Indonésia.

No seu último livro «Memória e Identidade», que foi recentemente publicado, Karol Wojtila propaga ideias teocráticas de uma extrema intolerância, e manifesta mesmo dúvidas sobre a natureza das democracias laicas e liberais, que considera como inimigos a abater.
No livro, Karol Wojtila defende ainda a ideia de que terá sido o cartesianismo a fonte de todas as “ideologias do mal” e brinda-nos mesmo com pérolas como esta:
«Depois de Descartes, se o homem pode decidir por si mesmo, sem Deus, o que é bom e o que é mau, poderá também decidir que um grupo de pessoas seja aniquilado».

Será um Wojtila desconhecedor da História da Humanidade e das barbáries praticadas em nome do seu Deus e dos seus antecessores, que considera o laicismo «oposto ao evangelho», que despreza o Estado de Direito e, com todas as letras, postula no alto da sua infalibilidade papal que estamos perante «uma nova forma de totalitarismo subtilmente oculto atrás das aparências da democracia».

Ainda no seu livro, é na questão do aborto que Karol Wojtyla dá mais largas ao seu radicalismo, quando o compara a um «extermínio legal» e, perante a indignação geral, ao próprio Holocausto, desta vez decidido por «parlamentos eleitos democraticamente em nome de uma ideologia do mal, subtil e encoberta».

Mas terá sido talvez a inflexível rigidez da sua política face ao preservativo que terão valido a Karol Wojtila as mais ferozes críticas, que o acusam de ter privilegiado a ortodoxia religiosa em detrimento da disseminação da SIDA, já uma autêntica pandemia em muitas zonas do planeta.
A essa política, de proibição espiritual ou de queima ritual de preservativos, se deverão já dezenas de milhares de mortos em regiões tão distintas como a África ou as Filipinas.

Morreu ontem, depois da longa exibição pública da degradação do seu corpo minado pela doença, e a que se seguirá agora a exposição ritual do seu cadáver por uma semana.
Morreu em agonia e sem a dignificação da privacidade que é devida a qualquer ser humano na hora da sua morte.
Morreu vendido pelas hierarquias da Igreja a um espectáculo mediático e circense, de objectivos meramente publicitários.

A História o julgará.



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